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O Possível e o Necessário

Não é sempre que um artigo justapondo conceitos de código aberto e de software livre abre citando Leibniz sobre mundos possíveis.

Enviado por Sady Jacques (sadyΘsotwarelivre·org), coordenador geral da ASL:

“O Possível e o Necessário
por Sady Jacques

Segundo Saul Kripke (1963), que construiu uma semântica de mundos possíveis para os enunciados modais, retomando uma antiga concepção de Leibniz, a idéia central é que as proposições têm valores de verdade não só no mundo atual, no qual vivemos, mas também em diferentes mundos possíveis. Logo, dizer que uma proposição é necessária é dizer que ela é verdadeira em todos os mundos possíveis; dizer que ela é possível é dizer que é verdadeira em algum mundo possível.

O Software Livre é um conceito. Talvez um dos mais generosos conceitos já inventados, capaz de se replicar infinitamente, desde que aceito e fomentado. Seu benefício fundamental é a produção e reprodução de conhecimento, de forma livre, para todas as pessoas e todos os fins. Ele serve exclusivamente a dois propósitos, o de garantir o software (e portanto, o "saber") a qualquer um; e o de referendar a genialidade da síntese de Richard Stallmann.

A natureza replicativa e distributiva do Software Livre, com sua construção possível com base em compartilhamento e colaboração, o faz melhor do que qualquer outra alternativa existente, porque o torna capaz de crescer de modo indefinido, ou de retomar o crescimento sempre que fomentado, com seus resultados sempre colocados à disposição de todos, portanto em favor da humanidade em geral, e não apenas de projetos ou propósitos particulares, por melhores que eles sejam.

Um curioso detalhe: ao fazer isso, ele opera em favor de si mesmo, já que quanto mais inteligência for colocada nele, maior e melhor serão suas respostas!

Mas ele faz mais do que isso. Ao crescer indefinidamente, crescem também as possibilidades de quem precisa de soluções tecnológicas para fazer nascer, crescer e desenvolver negócios, serviços e funções humanas de toda ordem. O mundo que vem pela frente, o da internet das coisas, precisará de milhões de linhas de código escritas todos os dias, para dar conta de cada novidade, de cada superação.

E precisará incluir quase três bilhões de pessoas, habitantes deste planeta, e de nossas vidas. Sim, porque elas estão nas sinaleiras, nas marquises, em toda parte. Refiro-me aos que sequer comem, sequer dormem, sequer estudam, sequer sonham. Se um outro mundo é possível, uma outra economia é necessária, e ela precisará de ferramentas livres para ser construída em toda a sua extensão. É por este motivo que precisamos lutar pelo Conceito, porque ele é absolutamente Necessário.

Hoje, ainda estamos muito longe deste cenário. Um dia, talvez em uma década ou duas, o mundo estará compartilhando todo o seu conhecimento e colaborando para aperfeiçoá-lo e distribuí-lo. Enquanto isso, há muito código aberto que nos ajuda a perceber essa generosa possibilidade. E continua havendo muita gente interessada em fechá-los!

Nossa estratégia deve continuar a mesma: precisamos ver códigos abertos como primo-irmãos dos softwares livres. Eles representam milhões de linhas de código em aplicações proprietárias, apesar de terem sido construídos de forma igualmente generosa. Precisamos continuar convencendo-os a migrar suas licenças OSI para licenças FSF…

Apenas isto, não é suficiente. Também precisamos voltar a nos debruçar - com todo o espírito hacker - sobre todos os códigos essenciais que nos fazem falta, e construir as versões livres que sempre fizemos, pois creio que "relaxamos" em relação a isso… Isto é Possível, foi assim que chegamos até aqui e será somente desta forma que criaremos uma condição para não sermos "parcialmente" generosos, se podemos ser generosos por inteiro!

http://www.fflch.usp.br/df/opessoa/TCFC3-06b-Loux-5.pdf

Sady Jacques
Coordenador Geral
Associação Software Livre (ASL.org)” [referência: softwarelivre.org]

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