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Asus Zenfone 5: usei durante uma semana o novo smartphone de R$ 499 com Android, e gostei

Usei um Asus Zenfone 5 – com tela de 5 polegadas, câmera de 8MP e bom desempenho – durante uma semana, e ele passou a ser a minha nova resposta para uma pergunta que eu ouço sempre: "qual é um bom aparelho com Android que não custa um braço e uma perna?".

Até recentemente eu indicava (com ressalvas) 2 outros modelos do mercado nacional que testei mais brevemente. Sobre minha nova indicação – o Zenfone 5, lançado oficialmente ontem no Brasil – eu não terei ressalvas a fazer (exceto uma que se aplica a um público bem restrito, mencionada no final deste artigo).

TL;DR: Um resumo sobre os pontos que me fizeram passar a preferir o Zenfone 5 em relação aos seus concorrentes da mesma faixa: ele tem 2GB de RAM e um processador rápido (ambas as características oferecem um desempenho diferenciado e perceptível), a tela grande ajuda em vários aspectos (principalmente no teclado), as modificações feitas pela Asus na interface do Android acrescentam recursos úteis sem ficar no meu caminho, e o mais interessante: ele chegou às minhas mãos com o Android Jelly Bean, mas ainda durante o período de testes recebeu atualização oficial para o Android Kit Kat, e esse tipo de atualização entre versões lamentavelmente não é comum a todos os aparelhos e fabricantes no Brasil.

A Asus resolveu fazer um smartphone Android que se posicionasse na faixa superior dos modelos econômicos, já povoada por uma série de concorrentes bastante similares entre si, e encontrou uma forma de fazer isso fugindo a essa similaridade, com uma série de diferenciais que fizeram diferença para mim.

Antes de prosseguir, um alerta: eu testei o aparelho a convite da Asus, que me enviou o modelo para os testes, a coordenação técnica da campanha de lançamento por lá está ao encargo de um amigo, e tudo isso prejudica a objetividade. Ao mesmo tempo, eu tenho uma opinião bem crítica sobre vários aspectos do Android e do comportamento dos fabricantes dos seus aparelhos, e isso também prejudica a objetividade no sentido oposto. Acredito que as duas forças se equilibrem, mas leve tudo isso em consideração ao ler o que vem a seguir.

Apps e integração

Analisar um smartphone de uma plataforma diferente daquela que o autor usa regularmente é cheio de desafios: alguns apps essenciais para o workflow diário certamente não estarão disponíveis, perde-se a eficiência nascida da familiaridade (por exemplo, com o layout do teclado ou com a ferramenta de configurações), e mesmo assim se busca manter algum grau de objetividade.

A questão da ausência de alguns apps com que estou acostumado realmente se fez presente, mas não chegou nem perto do incômodo que me causou em outras ocasiões em que usei aparelhos rodando Android: já faz algum tempo que eu acredito que é possível ser produtivo com os apps default dos smartphones modernos, e o desempenho e a tela grande do Zenfone 5 permitiram experimentar isso sem maiores desconfortos.

Aqui fica evidente um aspecto interessante que é específico do Zenfone: embora a ideia de "cascas" para o Android diferenciadas por fabricantes me desagrade em princípio, preciso registrar que eu gostei do ZenUI da Asus rodando neste aparelho: além de não me impedir de ter acesso aos recursos nativos do Android que eu quis usar, ele realmente oferece algumas vantagens práticas, entre as quais destaco o Do It Later (vídeo abaixo), essencialmente um recurso integrado a vários elementos do celular para transformar o impulso da procrastinação em um instrumento de coleta de pendências, na forma de opções de menu que facilitam criar uma lista integrada de tarefas, no estilo "deixar para depois" o retorno de uma ligação, a resposta a um e-mail importante, a leitura de um artigo interessante para o qual não temos tempo no momento, etc.

Sim, eu sei: apps para isso existem aos montes. A sacada diferente e bem implementada que encontrei no Do It Later do Zen UI foi que a ação de criar as entradas na lista de pendências ocorre diretamente a partir da interface dos vários apps (fone, e-mail, navegador, etc.) com os quais lidamos com as ações que podemos querer deixar para depois.

Essa integração entre os apps do aparelho da Asus não se estendeu a tudo que eu queria fazer, em especial quando envolvia dados de apps de outras plataformas (o que não é nenhuma surpresa, claro). Mesmo assim, embora em algumas situações eu não tenha conseguido migrar os dados que eu já tinha em outra plataforma, acredito que com um pouco mais de tempo e esforço esse desafio seria vencido, inclusive com a seleção de algum app que oferecesse maior integração entre as plataformas.

Algumas exceções positivas me fizeram refletir sobre onde estão os limites das plataformas atuais. Por exemplo, o Kindle é um exemplo de ecossistema fechado mas, no que diz respeito às plataformas que eu uso, a transição dos ebooks foi fácil e transparente, em ambas as direções. O mesmo pode ser dito sobre o Skype e o WhatsApp - todos eles plataformas bem fechadas, mas que me permitiram tranquilamente migrar entre o iOS e o Android. O DRM é um problema sério, mas nesse caso específico ele não impediu o acesso que eu tinha em mente.

Quanto às aplicações essenciais de um smartphone – telefonia e conectividade – vale observar que o Zenfone 5 tem suporte a 2 chips padrão Micro SIM, e ambos podem ficar ativos simultaneamente para chamadas telefônicas, embora só um deles possa ser selecionado para acesso 3G de cada vez.

Teclado touch e controle remoto

Acostumado ao iOS e a telas menores, a característica do ZenFone que mais me agradou quanto à usabilidade foi uma das mais singelas: o conforto para digitar no teclado touchscreen.

O Android é super bem provido de teclados inteligentes alternativos, mas aqui estou falando do teclado default que veio ativado no aparelho, que me chamou a atenção até por ter um bom dicionário para oferecer sugestões que permitem completar a palavra atual ou escrever a íntegra da próxima – o que não é exclusividade do Zenfone, certamente.

A inteligência não é a única vantagem deste teclado, entretanto: a tela grandona permite teclas maiores, e também permite exibir claramente em cada tecla símbolos secundários facilmente acessíveis para cada tecla (como os símbolos !@#$%^..., tradicionalmente associados às teclas numéricas), cujo acesso é ainda mais fácil do que o tradicional esquema de manter o dedo parado por algum tempo em uma tecla e aí selecionar um caractere especial ou acentuado no menu popup que aparece: basta pressionar a tecla e arrastar para baixo. A mesma tela grandona também permite o luxo de exibir a fileira de teclas de algarismos junto ao teclado alfabético, sem ter de ficar trocando de modo.

Parece bobagem elogiar o teclado default? Eu discordo, e avalio que o teclado touch default foi um dos elementos de interface que mais me incomodaram em outras experiências com aparelhos que testei anteriormente, e não só pela eventual falta de inteligência: telas menores ou desempenho de CPU menor certamente influenciam bastante nisso, e são aspectos nos quais o ZenFone 5 se sai bem, em especial na sua faixa de preço.

Por falar em itens default (que acabam sendo os únicos usados por muita gente, pelo que eu tenho visto na amostra ao meu redor), o Zenfone 5 vem com 2 recursos fáceis de encontrar em apps de terceiros, mas muito bem-vindos como parte integrante do sistema: a capacidade de usar o recurso Remote Link para transformar o aparelho em um controle remoto touchscreen para um PC – por exemplo, para interagir durante apresentações –, e a de usar o PC Link para controlar o Zenfone a partir do computador – por exemplo, para usar o teclado do computador para digitar no aparelho uma resposta mais longa no Whatsapp.

OMG eles atualizaram oficialmente a versão do Android

Outro aspecto do Zenfone que me deixou boquiaberto – sério, eu não esperava mesmo! – foi que, embora eu tenha recebido o meu modelo para testes com uma versão anterior do Android (a 4.3.2 Jelly Bean) – e eu já esteja acostumado à ideia de que a versão base do Android que vem instalada num aparelho frequentemente é a única que será oficialmente suportada ao longo da vida útil dele – fui notificado durante o período de testes que o Android 4.4.2 KitKat tinha acabado de ser disponibilizado como uma atualização oficial.

Palmas para a Asus: disponibilizar oficialmente essa atualização para uma versão corrente do sistema, antes mesmo do lançamento do aparelho (de modo a estar disponível imediatamente para quem comprar) e sem abrir mão de recursos é um grau de respeito ao cliente que algumas de suas concorrentes no mercado nacional parecem não apenas desconhecer, mas ativamente considerar desnecessário.

Tamanho e peso

Agora um aspecto que para mim é muito importante: pelas especificações eu já sabia que o Zenfone 5 era leve, e não tinha dúvidas de que ia comprovar que ele parece (e é - incluindo o Gorilla Glass) sólido e resistente, mas confesso que tinha sérias dúvidas quanto à possibilidade de me acertar com um telefone com telona de 5 polegadas: as tentativas anteriores, com modelos que ainda estão no mercado, não foram positivas.

Após usar por uma semana, continuo não achando que que o Zenfone 5 (ou outro aparelho com tela desse tamanho) possa substituir hoje o uso que eu faço de um tablet, mas concluí – com certa surpresa – que uma tela de 5 polegadas pode ser útil até para quem faz uso relativamente básico de um smartphone, como é o meu caso.

O Zenfone 5 coube tranquilamente no bolso dianteiro da calça jeans e nos bolsos do paletó e da jaqueta mas – como eu já sabia – aparelhos de 5 polegadas não cabem no bolso das minhas camisas sem ficar com uma ponta para fora.

Já mencionei acima, mas vou repetir: a tela grande permite um uso bem superior do teclado touch. Além disso, ela oferece algum conforto adicional em tarefas da parte "smart" do smartphone: analisar um e-mail, ler um ebook, acessar um site, jogar uma partida de Jetpack Joyride enquanto aguarda na fila do supermercado, e outras ações do dia-a-dia.

Por falar em jogar, mais uma observação sobre uma boa solução de design de produto aplicada no Zenfone 5: seu alto-falante é na parte traseira, o que é particularmente interessante quando se segura o aparelho com as duas mãos para jogar ou assistir a um vídeo: o som (que não é muito alto, registre-se – mas para ouvir áudio alto eu usaria um fone de ouvido, em qualquer caso) sai desimpedido, o que nem sempre acontece quando o alto-falante é posicionado nas laterais, ou nas extremidades verticais, de um aparelho.

Não sou um bom caso de uso para avaliar duração de bateria, porque meu uso de smartphone é bem leve, e mantenho até hoje o hábito de deixá-lo carregando o tempo todo em que estou em casa ou no trabalho. Mas eu experimentei deixá-lo desplugado ao longo de um dia normal de expediente (sem ativar suas configurações especiais de economia de energia), e ao final do dia ainda tinha bastante carga à minha disposição. Acredito que no momento o conflito entre tamanho, peso e duração da carga da bateria seja bastante relevante como norteador do design dos aparelhos, e parece que a Asus fez escolhas certas nesse aspecto.

Desempenho do sistema

Não gosto de analisar um aparelho pelos seus componentes de hardware (estamos em 2014, afinal), mas não posso concluir este artigo sem mencionar a questão do desempenho.

O Zenfone 5 tem algo que outros aparelhos da mesma categoria (Moto G, Gran Duos) não têm: 2GB de RAM1. Quando se trabalha com multitarefa ou com apps "pesados" (incluindo jogos com recursos gráficos intensos), a memória a mais faz muita diferença, e é a isso que eu atribuo, principalmente, o desempenho que percebi no Zenfone 5.

A CPU Intel Atom Z2560 1,6GHz dual-core também ajuda. Não é muito fácil comparar processadores a partir da sua velocidade de clock, e eu não rodei benchmarks, mas o que eu observei é condizente com os benchmarks de CPU a que tive acesso: essa CPU tem desempenho similar ao SoC Snapdragon 400 (presente em concorrentes como o Moto G). Quando as CPUs têm desempenho similar, a RAM vira um diferencial importante no resultado, confirmando o que eu mencionei logo acima.

Posso afirmar que o único app no qual notei algum tipo de lag ou lentidão foi o Skype – e acredito que o Skype mobile seja lento até se rodar num supercomputador...

O teste da luva

Quando escrevi que ia testar o Zenfone 5, mencionei que ia colocar à prova a afirmação da Asus de que ele podia ser operado com luvas, mesmo que elas não sejam daqueles modelos capacitivos, feitos especificamente para serem usados com smartphones.

A razão do meu interesse é que tenho me divertido como marceneiro amador nas horas vagas, e frequentemente trabalho com luvas de proteção, o que vem me impedindo de atender o celular, trocar de música, etc., a não ser que eu tire a luva.

Pois bem: Asus, informo que a luva de proteção que eu uso, de couro sintético, não permitiu operar o aparelho. Não acho que isso seja algo grave (afinal, luvas de proteção certamente também não são luvas comuns), mas fica a dica para quem tenha algum caso de uso similar. Para quem quer usar luvas de inverno, imagino que a promessa da Asus será cumprida.

Concluindo

Testar smartphones em uso "no mundo real" – ou seja, sem recorrer a benchmarks, pesquisa bibliográfica, simulação de casos de uso, etc. – é bem menos emocionante do que escrever comparativos entre modelos, ou realizar testes incomuns (resistência a tombos ou a água, por exemplo) mas, quando esse tipo de teste encontra diferenciais positivos em aparelhos, acredito que eles se traduzam em motivos reais de compra a serem considerados por maior quantidade de usuários.

O Zenfone 5, fabricado para a Asus pela Foxconn em Jundiaí, é um aparelho que para mim parece nitidamente criado para atender bem a uma faixa bem específica do mercado dos países em desenvolvimento: aquelas pessoas que não podem ou querem investir em adquirir o aparelho com as especificações top do mercado, mas não se contentariam com os recursos dos aparelhos econômicos. É a parte de cima da fatia intermediária do mercado consumidor, ou a parte de baixo da fatia superior, pessoas que topam pagar um pouco mais para ter acesso a um aparelho com recursos e desempenho mais próximos aos dos aparelhos topo de linha.

Problemas que mais de uma vez me afastaram do Android não estão presentes: o aparelho recebeu um major update de versão do sistema operacional durante o período de testes, e a interface ZenUI da Asus me agradou por não atrapalhar (o que deveria ser básico, mas nem sempre acontece) o meu acesso a recursos nativos do Android, e por apresentar alguns recursos e integração que tiveram utilidade prática.

A tela grande no estilo foblet me agradou mais do que eu imaginava. Não substitui um tablet para mim, mas vi vantagens práticas no seu uso, em especial quanto ao conforto para usar o teclado virtual. Em compensação, ela faz o aparelho deixar de caber no bolso das minhas camisas...

A bateria voltou pra casa ainda com carga no final do dia, e o desempenho do aparelho é perceptível – atribuo isso à presença dos 2GB de RAM, algo que outros aparelhos da mesma faixa de preço não têm.

Somando tudo, é bem mais do que encontrei em outros aparelhos similares que já usei, e acredito que vá agradar a boa parcela do público a que se destina. Gostei, e recomendarei.

O Asus Zenfone 5 estará à venda a partir de 16/10 na loja on-line da Asus no Brasil ao preço promocional (por tempo limitado) de R$ 499, e no varejo em geral ao preço de R$ 599.

 
  1.  Não confunda RAM com armazenamento: além dos 2GB de RAM, o aparelho vem com 8GB de armazenamento, dos quais 5 estão disponíveis para o usuário. O armazenamento do Zenfone 5 também pode ser expandido por meio de um cartão microSD.

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