“Um time com zagueiros fenomenais, mas com atacantes mancos. Uma banda com um grande baterista, mas com o vocalista fanho e o Capitão Gancho como guitarrista. Um restaurante com os melhores garçons do mundo, mas cujo cozinheiro não sabe fazer nem lasanha de microondas. Já estou ficando sem metáforas, e não consegui ainda traduzir bem a minha impressão ao ver a entrevista de menos de 15 minutos sobre software livre exibida hoje no Programa do Jô. Para resumir: ainda bem que o Júlio Neves estava lá, mas ele não conseguiria salvar sozinho a situação por mais que se esforçasse. A parte mais interessante foi ver que ambos os entrevistados chamam o mais popular dos sistemas operacionais livres de "Linux", sem nenhum prefixo...
O começo foi promissor: "Eles sabem tudo sobre software livre e vocês também vão saber. Com vocês, Sérgio Amadeu e Júlio Neves". Mas a coisa já começou com 2 pés esquerdos: o Jô perguntou logo de cara se software livre significava que era gratuito, e ao invés de explicar que podia ser gratuito, mas isso não era pré-requisito e nem o objetivo, o Amadeu já saiu explicando usando termos técnicos, código-fonte isso, compilação aquilo, como se estivesse falando pra mim ou pra você, e não pra audiência do Jô. Óbvio que já começou levando um corte e ganhando ainda mais má vontade do entrevistador.
Mas o Jô fez perguntas melhores também. Pediu pra explicar o que era essa liberdade, e o Amadeu (sempre ele) usou a boa metáfora do bolo que vai com a receita junto, mas encontrou logo adiante a pergunta (pertinente neste contexto) do Jô: então quem recebe a receita também pode sabotar? Infelizmente ele não tinha uma resposta convincente na hora.
Aí o Jô pediu exemplos de software livre. Se fosse você, e a pergunta viesse de um não-iniciado como o Jô, o que você responderia? Eu responderia Firefox, BrOffice, talvez até o PDFCreator ou o Compiere - alguma aplicação que a pessoa pudesse facilmente compreender. Mas o que eles escolheram? A Internet, e especialmente o Google, que é baseado no Apache. Outra pergunta lógica do Jô: então quer dizer que eu posso alterar o Google? Não, não pode. Será que o público ficou confuso?
Ele aproveitou o gancho pra perguntar sobre a possibilidade que qualquer um tem de alterar o conteúdo da Wikipedia, e o Amadeu garantiu que as alterações erradas não duravam nem 2 horas, porque a Wikipedia tem 100.000 revisores. Não foram os únicos números mágicos da entrevista, ele disse também que o Marcelo Tosatti (descrito como um menino de 21 anos, de Curitiba, responsável pelo desenvolvimento do Linux estável no mundo) coordenava 150.000 pessoas.
Depois da explicação sobre a Wikipedia, o Julio Neves fez a sua primeira intervenção, em frases compreensíveis e argumentos com começo, meio e fim. Ele explicou rapidamente que uma característica realmente importante do software livre era o desenvolvimento colaborativo, e falou da importância de o código estar disponível para reuso. Mas aí o Jô jogou a isca da qualidade das alterações que o leigo pode fazer, e o outro entrevistado voltou a falar, aquelas histórias de NASA, departamento de defesa... Nessa hora, até eu que sou fã do software livre tive vontade de mudar pra Band pra ver se ainda tava passando a entrevista da Thammy Gretchen e da namorada dela.
Aí foi ladeira abaixo. Jô falou que o objetivo da coisa era vender algo, perguntou se era tudo feito por monges franciscanos, falou sobre (e duvidou) da compatibilidade com arquivos do Windows.
Um momento engraçado foi quando o Amadeu falou alguma coisa sobre o "nosso" código, e o Jô perguntou: "nosso de quem?" e o Julio falou que era como o de bêbado, não tem dono. Aí o Julio começou a tentar salvar, falou da padronização do ODF, do valor de poder auditar o software que se roda.... mas foi cortado pelo Amadeu que, mesmo sem pretexto, achou que seria mais importante falar naquele momento sobre as 4 liberdades da FSF.
E assim acabaram os 13 minutos do software livre na Globo.”
Será que foi a pressão de saber que o tempo era curto e a quantidade de gente vendo?
Pq foi realmente uma lastima, o Google é exemplo???
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