Quase pegando carona na notícia acima, o Linux.com publicou hoje o artigo
Brazil's FOSS utopia image at risk, em que descreve longamente as diferenças entre a imagem de "paraíso do software livre" que o governo Brasileiro tem hoje no exterior, e recentes acontecimentos e relatos.
O artigo inclui elogios e reconhecimento para projetos específicos, como o CACIC, que de fato está sendo desenvolvido como um software livre por equipes do governo (essencialmente da Dataprev e do Ministério do Planejamento, diz a matéria), os vários cursos de software livre oferecidos pelo ITI e Serpro, e a existência em si do projeto Computador Para Todos, além de contribuições não-governamentais, como as de empresas como a Mandriva Conectiva e de grande variedade de indivíduos que de fato produzem, apóiam e distribuem software livre - a maioria dos quais já o fazia desde antes de o assunto virar "hype".
Mas em seguida o autor passa a citar testemunhos brasileiros sobre uma série de mazelas, que ganharam algum destaque desde 2006, mas raramente recebem alguma resposta.
Entre outros, são mencionados os seguintes temas:
- A ausência de preocupação do projeto Computador para Todos, criança órfã cuja paternidade e tutela raramente é mencionada ou assumida, em promover a qualidade da configuração dos softwares oferecidos nele, do suporte pleno ao próprio hardware comercializado, e do suporte ao usuário final - coroada pela ausência de qualquer explicação, resposta, consulta ou proposta de melhoria quando veio a público há alguns meses a única pesquisa, feita à revelia do governo e até mesmo da comunidade local, a respeito da elevada taxa de substituição do software livre por software proprietário pirata nestas máquinas. E as pesquisas independentes realizadas posteriormente infelizmente não puderam contradizer os números originais.
- A ênfase no marketing e na coleta de louros, e não na qualidade técnica, de projetos que, nos melhores casos, reinventam a roda. O texto cita um caso, narrado por um participante do projeto Debian, de uma distribuição baseada no Debian "criada" por um banco público para adoção nos seus servidores, e que "quebra" quando se usa os mecanismos de upgrade embutidos nela por mérito do Debian - algo que teria valor especialmente no caso dos servidores. Ainda assim, a distribuição teria sido "inaugurada" em evento com presença de grande quantidade de VIPs da informática governamental.
- Vários exemplos de desrespeito à GPL por distribuidores nacionais (este é um caso não-governamental)
- O surpreendente desaparecimento de menções ao software livre no programa de governo para reeleição à Presidência da República no ano passado.
- A licença de software livre sendo desenvolvida no âmbito do governo do Paraná, e que é incompatível com a Free Software definition. Segundo o artigo, as tentativas do braço sul-americano da FSF de oferecer patches que a tornassem compatível com a definição de liberdade de software foram rechaçadas.
O artigo termina com a discussão sobre a razão desta situação: corrupção ou interesse em pegar carona em um fenômeno sem ter interesse em de fato contribuir para ele. Sem concluir.
De minha parte, além de ver surgirem respostas públicas sobre questões como a qualidade do suporte prestado em 2006 aos computadores com uma distribuição nacional distribuídos pelo MEC a escolas públicas de todo o país e sobre a situação da qualidade do suporte ao usuário do Computador para Todos, eu gostaria de vê-las surgir espontaneamente, motivadas por um desejo genuíno de comunicar-se com a comunidade e prestar contas do que houve, e de anunciar como será a rota de correção - se vão mudar as especificações, se vai ser tomada a iniciativa de fiscalizar o que os fabricantes participantes do programa fazem, ou se o assunto vai ser encaminhado ao Ministério Público, por exemplo.
Mas já que é para sonhar, sonho um pouco adiante: um documento publicado pelos próprios órgãos onde está a responsabilidade pelos projetos de software livre mais visíveis, cada um deles mostrando a lista dos seus 10 maiores projetos tecnológicos em termos de aplicação de recursos financeiros em 2005 e 2006, e o valor dispendido em contratações e aquisições em cada um. A tabela poderia muito bem ser complementada por outra mostrando as 10 empresas de software (ou de informática) agraciadas com as maiores quantias em termos de empenho de recursos financeiros, também em 2005 e 2006.
Já disse anteriormente que não tenho absolutamente nada contra o governo investir em software da origem que for. Não tenho mesmo, se for assumido, ou pelo menos respondido quando perguntado. Mas gostaria de ver a lista para ver em que posição aparece o software livre, comparar com o software proprietário e ver de que forma ocorre a economia.
Mas, é claro, esta divulgação precisaria ocorrer de forma espontânea, nascida do interesse na transparência e no diálogo com a comunidade do software livre. E já estaria ótimo se viesse com a metade da velocidade com que no passado surgiram tentativas de atacar ou tentar desqualificar as fontes de onde surgem notícias sobre as mazelas do envolvimento governamental com a liberdade de software.
E sinceramente eu achei um pouco crítico demais.
Ele fala do CACIC, fala que é está trazendo o conceito de SF para o governo e mantendo isso. Mas também fala que "The code is not that great", o código não é tão bom assim.
Outra coisa, ele simplesmente criticou demais os projetos comunitários do Brasil, sem contar "das coisas boas"
Ele diz que o Kurumin é uma companhia que viola o GPL. Bom, aparentemente viola pelos termos por eles utilisados(mas muito pouco)
O artigo diz que ele não disponibiliza as fontes, coloca apenas um link para os repositórios do Debian. Isso até pode ser violação, mas não considero tão grave.
Ele simplesmente ignora o quanto o Kurumin ajuda no cenário do Software Livre no Brasil.
O artigo diz algumas verdades, mas na maioria aponta somente o lado negativo.
Não gostei do artigo, poderia ser mais neutro.