“Ao ler um artigo sobre pirataria no Webinsider , um comentário de um dos visitantes me deixou perplexo: em suas palavras, a "pirataria não é crime" (sic). Seu argumento se baseia no simples fato de morarmos no Brasil. Como isso pôde ocorrer?
Em todo o artigo Ricardo Bánffy discorre sobre o fato de que a pirataria só traz benefícios para os grandes produtores de software, pois a pirataria acaba servindo como "ferramenta de divulgação" dos seus produtos. Para nós pequenos desenvolvedores e consumidores da terra Tupiniquim, isso é prejudicial: não conseguimos concorrer com as gigantes e ao mesmo tempo somos devorados por produtos pirateados, com custo risíveis para quem deseja manter uma empresa sobre as pesadas cargas tributárias brasileiras. Como podemos inverter esse quadro?
Quando pensamos em software -seja ele livre ou proprietário- a primeira coisa que vem em mente é o custo de sua utilização. Se é um software proprietário (como o Windows) temos o peso de sua licenças; se é um software livre (como o Linux) temos o custo de aprendizagem. Que fique bem claro que neste ponto nenhum software é melhor do que o outro, mas o software livre permite algo fantástico que nunca um software proprietário conseguirá fazer: a inclusão social.
Não estou falando de trabalho de caridade ou atividades filantrópicas. Estou me referindo sobre a forma como cada pessoa pode fazer parte de uma grande rede que movimenta a economia da sociedade. Se uma jovem compra um computador com um sistema operacional livre, com todos os aplicativos possíveis e imagináveis, totalmente legal e sem precisar despender muito dinheiro para isso, ela terá em suas mãos a chave para abrir as portas para a sua vida profissional.
Comecemos pelo básico: ela aprende a navegar na internet, se comunicar com os programas de mensagens disponíveis, aprende a usar os programas de escritórios livres - enfim, ela monta o seu currículo e vai conquistar uma vaga no mercado de trabalho. Ela pode cruzar com dois tipos de empresas: aquelas que optam por usar soluções proprietárias e aquelas que decidem usar software livre. As empresas que escolhem a primeira solução, gastarão boa parte do seu dinheiro em licenças. Com a adoção do software livre, o investimento será em treinamento e no custo de maquinário. É aqui que surge o fator humano na adoção do software livre.
Lápis de cor Caran d'Ache
A empresa que optou usar soluções livres contrata essa jovem. Ela começa como recepcionista e aos poucos ela vai se ambientando mais e mais ao mundo livre. Como o computador pessoal dela possui todos os aplicativos necessários, ela começa a fuçar no GIMP, no Inkscape, em um Scribus - quando ela percebe, ela vá está montando seu blog com Wordpress e personalizando seu visual através do Quanta Plus. A empresa percebe essas suas novas aptidões e a coloca para estagiar com o pessoal de web. Com esta troca ambos saem ganhando: a empresa por investir o capital em pessoas e não em bytes e a pessoa por ter uma oportunidade de subir de carreira, ganhando mais e deixando a vaga anterior para alguém que está começando.
Com esse cenário sendo replicado, teríamos muitos mais profissionais usando, trabalhando e vivendo de software livre, simplesmente porque as empresas deixariam de investir capital em software proprietário e converteram esse dinheiro para um bem muito maior: na formação das pessoas.
Será que deixaríamos de escrever só porque nossos lápis mão são Caran d'Ache? Não é melhor para toda a sociedade que todos saibam ler e escrever ao invés de comprarem (legalmente ou não) marcas famosas?”
O autor assume que 1) software proprietário não requer conhecimento ou já foi em algum momento aprendido (além de assumir que é necessariamente comercial, pago); e que 2) Software Livre é invariavelmente um software novo/desconhecido ou mais difícil.