Mas Manoel, a empresa tem uma marca e investe nela. Se ela permitir que a marca seja diluída por projetos comunitários, no futuro pode aparecer algum mau uso da marca que não seja comunitário e ela terá menos condições de se defender - justamente porque permitiu que a marca se diluísse anteriormente, e marcas não distintivas não obtêm o mesmo tratamento quando seu dono vai recorrer de alguma violação.
Eu concordo com você que pareceria melhor para a comunidade se a empresa jamais tivesse valorizado sua marca, e agora não se visse em uma situação em que precisa defendê-la. Mas uma vez que a marca existe e tem valor, acho que não é justo desejar que a empresa se desfaça dela, ou permita que ela seja diluída. Acho muito importante a existência destes clones, e acredito que eles já recebem bastante da Red Hat, não precisando usar a sua marca registrada também. E há maneiras de fazer o mercado e a comunidade saberem claramente que eles são clones do Red Hat Enterprise Linux sem infringir a marca registrada.
A Red Hat não é a única empresa em nossa comunidade a fazer uso deste expediente. O Mozilla tem uma política baseada nos mesmos princípios, e o FAQ dos trademarks do Mozilla inclui a seguinte questão, bastante ilustrativa:
Do FAQ do Mozilla sobre marcas registradas:
Doesn't having trademark restrictions contravene the principles of free software?
No. Many free software licenses explicitly exclude rights to
trademarks, and so trademark restrictions on otherwise free software
is accepted by the community. We are using our trademarks as a
mark of quality to protect consumers - we think this is very much
within the principles of free software.
Outro exemplo de uso de "trademarks" no mundo do software aberto é a marca registrada "OSI Certified" (e seus símbolos associados), que a Open Source Initiative confere apenas às licenças que ela tenha certificado como abertas de acordo com a sua Open Source Definition, e que justamente por isso não podem ser abusadas por autores de outras licenças na tentativa de confundir usuários e desenvolvedores. Qualquer um (pelo menos desde 1999) pode dizer que sua licença é "open source" (mesmo que ela seja incompatível com a definição adotada pela nossa comunidade), mas o selo "OSI Certified" é restrito a quem passa pela certificação.
Outro exemplo é o dos "LPI Approved training partners", e o dos "LPI approved training materials". Ambos os conceitos (e logos) são marcas registradas, e só podem ser ostentados pelas instituições às quais o LPI (que tem entre seus conselheiros Jon maddog Hall, Bruce Perens, Jon Corbet e outras figuras carimbadas da defesa do software livre) concede este direito. Você pode estudar para certificação onde quiser, com os materiais que quiser. Se você quiser montar um curso preparatório para certificação, ou disponibilizar uma apostila, é livre para isto. Mas só poderá ostentar as marcas registradas do LPI se receber este direito.
Quem sabe a Red Hat não se inspira nos exemplos da OSI e do LPI e cria uma marca registrada adicional para ser usada por terceiros? Podia ser algo como o meu desenho acima, ou até algo assim: um chapéu azul com a palavra CLONE, e em volta as palavras "Unofficial Community Based Enterprise Linux Distribution". Aí ela poderia conceder o uso desta marca a quem demonstrasse distribuir cópias fiéis de seus produtos, desde que a pessoa se comprometesse a publicar uma frase em todos os materiais publicitários, algo do tipo "Este produto é suportado exclusivamente pela companhia Xing Ling Ltda. Visite o site www.redhat.com/unsuported_clones para saber mais sobre possíveis restrições de suporte".
O parágrafo acima é puramente ficcional e uma brincadeira de minha parte, mas acredito que enquanto não surgir algo nestas linhas, o problema vai permanecer. E acredito também que os autores dos clones iriam topar usar uma marca destas, já que em geral eles afirmam claramente condições nesta mesma linha em seus sites e documentação.
Em resumo, no meu entendimento o que a Red Hat está fazendo não é adotar uma postura de "por favor não digam que é Red Hat para não atrapalhar nossas vendas", como você diz. Está mais para "distribuam a vontade o software que disponibilizamos, mas não façam com que minha marca seja diluída". Até porque acredito que a parte do mercado que adquire os clones em geral não é a mesma que estaria interessada em adquirir os produtos (e principalmente os serviços) da Red Hat.
Desta forma, qualquer um que se oponha a sua atitude digna de manter sua marca - afinal, é seu maior patrimônio - vai encontrar muitos adversários.
Estas atitudes demonstram que é possível ser comercial e trabalhar com software livre ao mesmo tempo. Espero que obtenha êxito e aceitação de suas solicitações às distribuições derivadas - o site da www.piebox.com ainda não está modificado.
Em tempo, se não for atendida em suas reinvindicações, nada mais justos que a RedHat utilize a justiça para valer seus direitos de marca.