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Em entrevista por e-mail para a Forbes, Linus volta a criticar a cláusula anti-DRM do rascunho da GPLv3. Ele usou do argumento que DRM é uma simples tecnologia e que, como tal, pode ser usada para o bem e para o mal. Argumentou que ela poderia ser usada até mesmo para proteger um diário. Marcus Brickman, um dos principais desenvolvedores do Hurd, rebateu as críticas do Linus afirmando que o mesmo está, na verdade, confuso sobre o que é DRM de fato e o que a GPLv3 realmente proíbe.” A nota foi enviada por llp (leonardolopespereiraΘgmail·com) , que enviou este
link para mais detalhes.
Um artigo da CNet
compara a controvérsia sobre a GPL3 com a fogueira das vaidades promovida por
Savonarola - o evento de 1497 foi um marco da sua cruzada pessoal contra o humanismo da Renascença, e caracterizou-se pela destruição de livros e objetos de arte, vistos por Savonarola como expressões da vaidade humana e um desvio da verdadeira fé.
"Após a coleta, todos os itens recolhidos foram queimados em uma única e imensa pilha na Piazza della Signoria, em Florença. Esta e outras fogueiras organizadas por Savonarola custaram à humanidade grandes obras-de-arte, de artistas como Sandro Botticelli."
O autor do artigo compara Stallman a Savonarola, dizendo que com a GPL3 ele estaria tentando radicalizar a diferença entre a perspectiva utilitária e prática do movimento (mais identificada à corrente do código aberto) e a busca "pura" da liberdade do software como um objetivo em si. Segundo a análise, o desdém com que Stallman encara a comunidade do código aberto e organizações e desenvolvedores com visões diferentes da sua (como Linus Torvalds) demonstrariam o crescente abismo entre o fundador da FSF e os responsáveis por projetos como o Apache e o Linux - que através de sua perspectiva prática e utilitária teriam motivado uma "renascença" também no software livre. Neste sentido, a proposta de uma versão da licença GPL tirando dos desenvolvedores e integradores de código a possibilidade de realizar algumas atividades que a GPL 2 permite seria a "Fogueira das Vaidades" de Stallman, procurando ao mesmo tempo rejeitar os valores da Renascença e levar a versão moderna do "povo de Florença" aos valores que ele acredita serem os corretos.
O povo de Florença acolheu Savonarola entusiasticamente durante algum tempo, mas seu fundamentalismo e inflexibilidade acabaram por tornar impossível o relacionamento. Segundo a Wikipédia, "
Os desmandos de Savonarola logo levaram a população à exaustão. Em 4 de maio de 1497, durante seu sermão do Dia da Ascenção, bandos de jovens rebelaram-se e o tumulto logo evoluiu para uma revolta: tavernas reabriram e jogos de azar realizaram-se em logradouros públicos. Em 13 de maio de 1497, o Papa Alexandre VI excomungou Savonarola, e, em 1498, ele foi simultaneamente enforcado e queimado, no mesmo lugar e da mesma forma em que havia condenado outras pessoas à morte. Ele fora acusado de profetizar, sedição e erros religiosos."
O artigo da Wikipédia termina com uma análise interessante e atual: "
A controvérsia em torno da figura de Savonarola pode eventualmente manter-se, ainda hoje. Mas, em todo o caso, parece dever reconduzir-se à questão de saber se uma indubitável coragem moral perdoa o fanatismo e a intolerância dum comportamento fundamentalista, ativa e objetivamente anti-social. Tal questão, pelo menos à luz dos valores dos nossos dias e que são conquista civilizacional, tem resposta evidentemente negativa."
Já o artigo da CNet termina assim: "
Com a GPL3, Stallman traçou uma linha e desafiou o mundo para um duelo. A ironia de todas as formas de extremismo é que você freqüentemente alcança um resultado conflitante com seus objetivos. O extremismo de Savonarola levou à revolta popular e aumento nos vícios. Stallman fez uma proposta que restringe bastante o uso de código GPL. Esta nova GPL pode trazer correntes à causa da liberdade."
Eric Raymond por exemplo diz que não precisamos mais do Stallman e da GPL. Ele defende que software livre é o BSD porque cada um pode fazer literalmente o que quiser.
Mas é necessário pensar um pouco. Vejam o caso da Apple. A Apple está usando código BSD como base do seu sistema operacional. O trabalho da Apple não ajudou em nada às pessoas, em nada ao software livre, não tornou seu produtomais barato, ou seja, só foi vantagem para a própria Apple. O KHTML que ela usou do Konqueror para o Safari (que é GPL) teve suas modificações retornadas para o projeto, porém, eles o fizeram de tal maneira que as modificações são inúteis, porque criaram uma camada de abstração para compatibilidade e no fim das contas o código feito pela Apple só serve para a própria Apple.
Eu li um artigo onde o autor elocubrava sobre o que aconteceria se a Apple migrasse do kernel Mach para o kernel Linux. Todos sairiam ganhando, porque o Linus tem melhor performance que o Mach, tem suporte a um número maior de hardwares, e como ele é todo GPL, o que a Apple modificasse ela teria que retornar e no caso de um kernel, o retorno seria muito útil. Isso seria bom para todo mundo. Menos para Steve Jobs, que não consegue suportar a idéia de não ter controle sobre tudo, e depender de um cara chamado Linus Torvalds. E a Apple vai continuar patinando sobre o Mach.
Ou seja, é muito simples dizer "ah, o Stallman é muito rigoroso". Se ele não fosse, o software livre não passaria de uma conversa em mesa de bar, e em 1987 todos já teriam esquecido disso. Para o Stallman,m existe uma filosofia sim. Essa mesma filosofia motiva um grande número de programadores, e mantém a linha do software de que o software deve continuar sendo livre.