Televisão Digital: A quem interessa a pressa na escolha do Padrão de Transmissão?
por Francisco Morvan Bliasby (morvan000Θgmail.com)
Tenho assistido aos escassos debates sobre o tema e o que se mais discute não é o padrão a ser adotado, pois o Sr. Ministro das Comunicações já faz apologia clara ao modelo japonês, junto a uma claque não menos tendenciosa: os concessionários de vários serviços públicos de transmissão de dados, imagem e voz, ou, resumidamente, convergência digital.
Mesmo que se imagine que isto é só que deve viger nas discussões, há observações e reparos às intervenções do Sr. Ministro, no Programa Observatório da Imprensa, quando este pôde apor seus pressupostos e defender, com tal e suspeita veemência, o padrão de transmissão japonês. O discurso do Sr. Hélio Costa e de seus seguidores é eivado de democratismo, pois estes repetem amiúde a necessidade de se preservar a gratuidade e a publicidade da programação. Como se fosse isso o cerne! Até aqui não se discutiu, pois não interessa aos mantenedores do Status Quo, a dependência tecnológica do Brasil, pois até ora não se falou em absorção e ou transferência de tecnologia. Quer dizer, vamos continuar importando soluções, continuar a sermos meros figurantes no grande palco das transformações sociais do porvir. Não interessa ao Sr. Ministro ou aos concessionários citos discutir, por exemplo, qualidade, não no sentido técnico-instrumental, mas no sentido plástico. A tevê brasileira aberta hoje se encontra sucateada! O conceito de qualidade, aqui, foi ao espaço. A partir de meia-noite, os mortais comuns, que não têm dinheiro para custear a caríssima tevê por assinatura, cara, inclusive, pela venda casada, ou seja, você paga pelos cinqüenta canais mesmo que só lhos interessassem uns três ou quatro) têm que se contentar em assistir aos cultos (pelo menos é ecumênica, no sentido de não escolher pela religião e sim pelo dinheiro pago) e, aos domingos o padrão é o Faustão!!! Onde está a qualidade; onde está a inclusão social? Estes parecem ser os critérios norteadores de uma tevê que tenha o cidadão como fulcro.
Se nos ativermos à questão do padrão de transmissão, a escolha do padrão japonês ou de qualquer outro, em detrimento do padrão brasileiro, o qual preconiza a interatividade e contempla a convergência digital e é estudado a fundo por universidades e instituições corporativas brasileiras, inclusive o próprio MCT, por sinal, muito melhor, do ponto de vista estritamente técnico, provendo inclusive técnicas de compressão superiores aos padrões concorrentes e sem perda. O padrão do SBTVD é baseado no Codec H264, uma evolução do MPEG4 e é regulamentado pela ITU, o que dá sinais plausíveis de compatibilidade com outros protocolos. Este Codec consegue uma taxa aproximada de 2 (duas) vezes a taxa de compressão do MPEG2 (utilizado no exterior) e totalmente sem perdas, ou seja, é um protocolo de codificação e compressão Lossless.
Porque a pressa? Porque o debate não flui para a sociedade? O que está imbricado nesta aparente corrida contra o tempo? Será que a questão é tão superficial, a ponto de passar pela questão técnica do padrão de transmissão adotado, ou será que o subjacente neste discurso é a necessidade de libertar as amarras tecnológicas (no sentido rigoroso da palavra) do povo brasileiro e pugnar por uma televisão agregadora, inclusiva, interativa, convergente e totalmente democrática, o que o debate sobre o nosso próprio futuro até agora não o tem sido?
O que o governo tem a ver com escolha de tecnologia? Por que não temos livre mercado e não permitimos que as empresas transmitam utilizando o padrão que quiser? A melhor maneira do debate "fluir para a sociedade" é deixando que o consumidor escolha que tecnologia usar, baseado nos benefícios que ela lhe traz.
Deixando que o consumidor escolha o que é melhor para ele, não temos mais o desperdício de tempo e dinheiro com disputas políticas, com a demora para "escolha" de um padrão.