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Marketing e Software Livre

Veja abaixo um texto enviado para publicação pelo leitor George Leal Jamil, a respeito do relacionamento entre marketing e software livre.


Software Livre - Por que um pouco de marketing talvez não seja assim tão mau....

George Leal Jamil

A "onda" do software livre nos atingiu há algum tempo. Mas há de se questionar: vamos ficar por aqui, com o que já foi mostrado, ou evoluiremos realmente para uma nova forma de computação? As prometidas vantagens do software livre se realizarão algum dia?

A tecnologia da informação vem cumprindo importantes papéis nas empresas e, consequentemente, no sistema econômico há, pelo menos, cinco décadas. A pronta oferta de soluções estratégicas tem sido uma característica marcante do segmento, provocando ate mesmo confusões e erros decisórios por parte de grandes empresas em momentos importantes. São atestados desta afirmação os "célebres casos" do ERP, CRM, Data Warehouses, sistemas de apoio a decisão, entre outros.

Crendo no software livre como potencial, temo que, tomando-o apenas por uma mera "solução", novo evento daquele tipo ocorra e relevantes oportunidades sejam irremediavelmente perdidas, quando estes não entregarem rapidamente seus resultados. Por isso considero importante verificarmos melhor os tais resultados a que podemos chegar, observando tanto do ponto de vista técnico quanto do usuário, utilizando as recomendações da gestão de marketing para tal.

Uma questão que se coloca é identificar o software livre apenas como uma solução eventual, em resposta momentânea numa empresa, pensando-o exclusivamente em termos técnicos como um software que encerrasse suas possibilidades em seu próprio uso, esquecendo-se dos benefícios traduzidos aos usuários, em termos de vantagens na condução dos empreendimentos. Tal abordagem limitada é própria dos segmentos inovadores, principalmente aqueles que guardam associação com uma nova tecnologia, como sempre ocorre com a computação.

Dialogando com freqüência com alunos e pesquisadores de área gerencial, verificamos a noção que a tecnologia da informação aparenta voltar-se para dentro de si mesma, com processos pouco transparentes e isolados da agregação de valor ao cliente, objetivo de toda a ação empresarial nos modernos mercados.

O software livre, com o constante fascínio causado pelo seu desenvolvimento e uso ainda enfrenta este fato. O freqüente desconhecimento de suas características e recursos, numa abordagem voltada para negócios e não para a técnica em si, é geralmente demonstrado pelos decisores, gente de meio empresarial interessada na informação e conhecimento em todos os seus aspectos visando à imediata aplicação.

Primeiramente deve-se considerar que, salvo os casos de produtores de software para usos muito específicos, todo programa de computador existe para coletar, refinar, tratar / processar dados e informações, principalmente no intuito de gerar conhecimento. Mercadologicamente (ou seja, bem no espírito do marketing) deve ser perguntado: o que espera o usuário do sistema em termos de seu uso final e qual fato gerou esta expectativa? Estas questões corresponderiam aos pontos de um projeto de marketing destinado a avaliar a oportunidade da solução e quem seria o seu público alvo, essenciais para pensar a confecção do produto, permitindo que o maior benefício seja percebido pelo cliente (valor agregado).

A concepção subseqüente do produto (o sistema propriamente dito) é elaborada com maior precisão, notando-se aqui que os princípios de desenvolvimento de sistemas atualmente em voga - orientação por objetos, manutenibilidade do código, segurança, transparência, processo construtivo, entre outros - tem plenas condições de exercício nas varias plataformas disponíveis como software livre. Desta forma, sugere-se que tais ambientes de desenvolvimento poderão plenamente corresponder às idéias de projetistas orientados ao mercado, que buscarem entregar aos seus clientes ferramentas informacionais adaptadas as suas necessidades em termos de fluxos e formas aprimoradas de tomada de decisão.

Nestas condições, se analisadas sob a ótica do marketing, podemos argumentar, ao largo das capacidades e recursos técnicos das plataformas de licenciamento livre, que - mercadologicamente falando - produtos e soluções mais adequadas as necessidades dos clientes serão construídas, agregando valor aos seus produtos e serviços finais.

Ainda devem ser avaliados de forma fria, distante da euforia e imediatismo provocados pelos anúncios imaturos do software livre, dois aspectos decisivos num projeto para mercado - preço e distribuição. Sob o ponto de vista tecnológico, ambas as avaliações recairão nas discussões sobre o valor dispensado pelos mecanismos de licenciamento (como exemplo a GPL - General Public License), bem como os valores envolvidos na implementação final das soluções projetadas, tema que provoca debate feroz, com inegável objetivo de disputa de mercado, entre empresas como a Microsoft e os projetistas que trabalham com software livre. Recomendo ao leitor a consulta dos "cases" listados na imprensa e nos próprios sítios Internet dos principais competidores para que forme sua opinião sobre este embate.

Finalmente reforça-se a atenção para a agregação de valor ao produto ou serviço, tratando-se de atender aos reais interesses dos clientes, abstraindo de recursos e aparentes vantagens tecnológicas que nada lhe traduzem, naquele comportamento já comentado como cíclico em segmentos de inovação. Cabe direcionar os recursos existentes para o desenvolvimento de soluções versáteis, flexíveis e facilmente adaptáveis, que se traduzirão em vantagem observada de forma perene pelos clientes finais.

São, portanto, várias oportunidades e até mesmo obrigações para os profissionais de tecnologia da informação em aplicar o marketing – considerando-o em sua essência, e não apenas a comunicação ou publicidade, na verdade um dos importantes componentes no projeto de mercadologia de um novo produto ou serviço – para um produto ou serviço de base tecnológico.

Concluindo esta visão preliminar do marketing para produtos e serviços baseados em software livre, proponho ao profissional de área tecnológica que não deixe de perceber as reais situações de mercado e necessidades dos usuários finais na construção de produtos e serviços que aparecem no esteio do conhecimento desenvolvido. No caso do software livre há muito ainda para ser dialogado entre projetistas e público usuário final, para que se tire proveito deste valioso momento tecnológico.


Comentários dos leitores

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Comentário de nemesis
marketing x software livre: Eu acho que marketing seria bastante bem aplicado a projetos de software livre como os projetos da Fundação Apache, que são desenvolvidos colaborativamente pensando-se nos benefícios para vários segmentos da indústria. Mas, Apache, ou Mozilla, ou OpenOffice, são excessões no mundo do software livre.

O que quero dizer com isso, é que projetos vindos dessas Fundações já nascem grandes, com diversos graus de interesse por participantes da indústria. Isso quer dizer que, diante da expectativa de um novo projeto, é bom fazer pesquisas mercadológicas para levantar reais necessidades dos interessados antes de se implementar qualquer coisa. E depois, mais marketing para divulgar os resultados.

Mas a maioria dos projetos de software livre nasce pequena, das necessidades individuais de alguns programadores preenchendo lacunas em seu toolchain. Esperar que esses projetos se empenhem em marketing é um pouco demais, visto que as necessidades são conhecidas, já que são exatamente as necessidades de seus próprios criadores... se depois o projeto crescer e se popularizar, é outra história...

;; ((lambda (x) x) "Isto é um comentário e não será executado nunca")

Comentário de Daniel Dantas
Onde você viu que o Apache n: Onde você viu que o Apache nasceu grande?? Nasceu pequeno como quase todos os programas de software livre. Igual ao KDE e o Gnome. Você falaria também que o Linux (o cerne) nasceu grande??

O OpenOffice e o Mozilla realmente são exceções, mas os outros não. Eles se tornaram grandes e muito grandes. É assim o software livre.

Talvez, 1 em cada 10 projetos algum dia terá alguma visibilidade, mas isso faz parte da vida. Da mesma forma que 1 em cada 10 empresas vai durar muito tempo, 1 em cada 10 candidatos a presidente um dia será presidente, 1 em cada 10 alunos vai passar no vestibular...

Realmente, muitos programas nascem da necessidade de alguém. Afinal, eu não iria programar uma coisa que simplismente não faz sentido para mim. Sacou?? Você iria se assustar como muitos dos programas que você utiliza nasceram da necessidade de alguém.

Não é porque eles são grandes hoje que nunca foram pequenos algum dia.
Comentário de nemesis
leia direito: eu disse "O que quero dizer com isso, é que projetos vindos dessas Fundações já nascem grandes"

"Fundações". eu sei que o apache era originalmente apenas "a patchy http daemon", mas hoje é uma Fundação financiada por grandes corporações...

;; ((lambda (x) x) "Isto é um comentário e não será executado nunca")

Comentário de Lucas Filho
Por que não unir as ações de marketing?: Olá Comunidade,

Acredito que unir todos os esforços em uma única ação de marketing - na área de propaganda já seria um bom começo.
Temos diversas instituições e empresas que trabalham com Software Livre. Então por que não unir recursos para uma campanha na rádio e TV?
Sim!!! Vamos mostrar as pessoas que só conhecem "os outros" por já estarem há muito no mercado.
Não precisamos falar de pacotes de escritório, banco de dados, sistemas operacionais, etc... mas precisamos falar que Software Livre existe.
Em um evento na minha cidade, coloquei dentro das pastas, um panfleto que tinha um cd com a inscrição: "Software Pirata. Esconda junto com a sua empresa"... puts! o que teve de gente entrando em contato querendo saber mais sobre Software Livre foi uma loucura.
Precisamos primeiro mostrar que existimos. Depois quantos e quem somos.

Se precisarem de idéias para divulgação do Software Livre, textos para rádios, anúncios, tô dentro.

Até mais,
Lucas Filho
http://www.open-ce.com.br

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