Aconteceu neste fim de semana o Primeiro Encontro Potiguar de Software Livre, e o evento foi considerado um sucesso, considerando que se tratava de um trabalho de voluntarios e entusiastas. Foram contablizadas aproximadamente 800 inscricoes e o nivel das palestras foi muito bom, embora o tempo de abordagem fosse reduzido.
Mas o objetivo deste meu artigo é outro. No decorrer do evento um dos palestrantes afirmou que é defensor do movimento SL, porem, ele mesmo, na condição de empresário, não admite disponibilizar o código-fonte de seu trabalho. Ele tentava nos convencer de que um Office pode ser SL, enquanto um ERP era algo totalmente diferente, e não deveria ser livre. O assunto gerou uma polêmica no auditorio.
O palestrante defendia seu ponto de vista como empresário, e que naturalmente era justo auferir lucros sobre seu trabalho, E pagar seus custos, salários e impostos. Ao mesmo tempo seria injusto disponibilizar seu codigo para que os concorrentes se aproveitassem do seu trabalho e ganhassem dinheiro sem gastar um tostão. Então a situação ficou mais ou menos assim : Eu uso SL, mas não desenvolvo nada que seja SL, todo meu software é fechado. É como se alguem dissesse 'DOE SEUS ORGÃOS', mas que no fundo ela pensasse 'MAS EU NÃO FACO ISSO NUNCA, NEM MORTA!'.
Então o sentimento de frustração diante de tamanho paradoxo foi geral. Que tipo de avanço pode haver numa sociedade que pensa assim de maneira tão egoista? Desenvolver um projeto em equipe realmente envolve custos que devem ser pagos. Mas desenvolver um projeto usando filosofia SL, envolve o trabalho voluntário, e uma equipe centenas de vezes maior trabalhando continuamente na melhoria do código a um custo infinitamente menor. O problema é que muita gente se comporta apenas como parasita intelectual, e no fim das contas enfraquece todo o movimento. Assim, o desenvolvedor não se sente à vontade em disponibilizar seu código, pois suspeita que ninguem vai colaborar, e que no final das contas ele será o único infeliz a manter o codigo funcionando. Esta é uma triste realidade, e acredite, acontece muito mais do que voce imagina. Quantas vezes algum de nós contribuiu voluntariamente para um projeto maior?
Nesse caso, sera que nós somos 'vampiros' que só servem para se beneficiar do trabalho dos outros? Para concluir eu gostaria de saber a opinião dos amigos a respeito deste assunto. O seu software É LIVRE? ” A nota foi enviada por Emilio Lemos (emiliolemosΘhotmail·com).
Atualização: comentários de outras pessoas que estavam presentes ao evento informam que o palestrante pode ter sido mal interpretado na descrição acima. O tema continua sendo válido para a discussão, mas tenham em mente que o foco é a idéia expressa, e não a pessoa que a afirmou - ou não. O BR-Linux não tem como apurar o teor original da palestra, pede desculpas antecipadamente a todos os envolvidos (que não foram nominados) pelas eventuais imprecisões, e está à disposição para publicar quaisquer esclarecimentos que venham a ser oferecidos.
Atualização 2: O palestrante citado
manifestou seu esclarecimento e contraponto nos comentários.
Esse fato se relaciona ao tópico. Acredito que sempre há pessoas dispostas para contribuir com qualquer projeto que seja, basta que o projeto esteja disponível para isso. Não abrir o projeto (seja código, seja arquitetura, seja especificação) alegando que ninguém vai contribuir não me parece um argumento muito válido. Se o plano é disseminar o software livre em todas as esferas da socidade, é preciso ter em mente que há muito mais usuários do que desenvolvedores. Não podemos esperar que um corretor de seguros que utiliza software livre em sua corretora ou um padeiro que utiliza SL no caixa da padria contribuam como desenvolvedores ativos em algum projeto.