13/06/05 19:57 #1045
Eu acompanhei parte dos mais de 180 comentários da notícia abaixo sobre o banner da Microsoft publicado na Linux Magazine ao longo da tarde de hoje e não me manifestei, mas agora que aparentemente já passou a primeira onda de bate-boca, vou dizer o que penso - fazendo antes a ressalva de que sou assinante e colunista da Linux Magazine.
As primeiras edições da Linux Gazette traziam sempre uma citação do filme 'Gandhi' (e eu não sei se o próprio Gandhi chegou a dizer estas palavras alguma vez) que dizia "é impossível unir uma comunidade sem um jornal ou publicação de algum tipo". Não sei se é possível unir nossa comunidade, mas tenho certeza de que os periódicos impressos têm um papel muito importante nisto. Estive envolvido (em variados graus) como colaborador em diversas revistas de informática do mercado (desde a há muito extinta Internet.BR, editada pelo saudoso FerVil), e as vi tomarem muitas atitudes em desacordo com o que eu esperava delas - francamente, algumas bem mais graves do que expor um banner de propaganda contra o Linux. Mas não as abandonei, e as apóio até hoje (quando tenho oportunidade), por acreditar na importância de ver o software livre nas bancas, ainda que misturado a companheiros de página que preferiríamos dispensar.
Abaixo está publicada a minha opinião pessoal, que não vale mais que a de vocês mas é a posição do BR-Linux. Clique no link para ver os detalhes.
Ao saber do anúncio, escrevi para a redação no papel de leitor e colaborador da revista dizendo que não me agrada ver propaganda que não seja favorável ao Linux no site dela. Recebi uma resposta, juntamente com o comunicado que a redação publicou no BR-Linux a meu convite.
Nem a resposta ao meu contato pessoal, nem o texto do comunicado público, me fizeram mudar de idéia sobre não gostar de ver este tipo de propaganda em sites da nossa comunidade. Mesmo assim, este desagrado com a idéia de ver um banner da campanha Get the Facts não é o suficiente para me fazer virar as costas para a Linux Magazine. Outras revistas - incluindo algumas que ainda permanecem no mercado - já tomaram atitudes que me desagradaram antes (algumas bem piores do que publicar um banner) mas o papel delas junto à comunidade e ao mercado é importante demais para que eu considere a idéia de virar as costas para elas ao primeiro sinal de chuva forte, ou ao surgir o primeiro desentendimento grave. E todas elas continuam ganhando espaço de divulgação, e até mesmo eventualmente publicando material de minha autoria. E continuo as comprando na banca da esquina sempre que as suas capas me convencem de que há algo interessante na edição do mês.
Torço para que a Linux Magazine, as revistas da Digerati (que está preparando alguma coisa relacionada a Linux de novo), a Linux PC Master e todas as outras que queiram participar de nosso mercado (mesmo que no caso de alguma delas possa ser só para tirar a sua casquinha, sem oferecer algo substancial em troca) continuem investindo em material que nos interesse, e em divulgar idéias importantes para o desenvolvimento da comunidade. As que forem de má qualidade ou que não estiverem de acordo com a expectativa dos leitores acabarão sobrando nas bancas e eventualmente desaparecendo, e as que forem interessantes terâo que fazer o que estiver ao seu alcance para sobreviver em um mercado que é cruel.
Embora nunca tenha me negado a publicar notícias sobre iniciativas da comunidade em reação a atitudes percebidas como negativas por parte de empresas ou organizações, não acho justo nem favorável (a nós) rejeitar determinadas empresas ou pessoas só porque não têm atitude 100% de acordo com as nossas. A IBM investe no software livre mas vende e recomenda Windows XP; a HP lança drivers livres para suas impressoras e multifuncionais, mas vende outros produtos incompatíveis com Linux; A Linux Magazine divulga as novidades de nossa comunidade mas não resistiu à idéia de publicar um banner da campanha Get the Facts. São fatos da vida, o apoio não precisa ser total desde o primeiro instante, e a vitória pode não ser rápida.
Mas se rejeitarmos o que estas empresas têm a nos oferecer agora, ou se exigirmos engajamento completo, irrestrito e irrepreensível de cada uma delas antes que possam nos oferecer algum tipo de apoio, produto, serviço ou incentivo, nosso caminho será ainda mais árduo, e elas provavelmente irão procurar outros mercados que estejam interessados no que elas têm a oferecer. E o que hoje percebemos como parcialmente contra nós talvez não seja mais contrabalançado pela parcela que hoje é a nosso favor.
Assim, espero que a Linux Magazine prossiga em seu caminho, que a situação sirva (no mínimo) para que outros potenciais anunciantes fiquem sabendo o quanto é barato publicar um anúncio na edição impressa, e que uma guinada no fluxo de caixa leve a empresa a poder dispensar este tipo de pacto no próximo mês. Vou torcer por isto e fazer o que estiver ao meu alcance.
Entre ter as revistas atuais e suas mazelas, ou não ter nenhuma, eu prefiro ter a oportunidade de vê-las na banca e decidir se compro ou não a cada mês. E continuar lendo também as produções da própria comunidade, que não estão à venda em banca mas começam a surgir com mais intensidade e qualidade crescente na forma de zines e outras publicações independentes.
(postado por
Augusto Campos)
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