O editorial desta sexta-feira é variadíssimo e inclui até mesmo os parabéns pro pessoal que organizou a recente PyCon Brasil (e disponibilizou os vídeos para a comunidade em menos de 2 semanas) e as boas-vindas para o site colega Linux Daily Log, além de um apanhado geral da novela do dual boot no Computador para Todos, a risível tentativa de dividir nossa comunidade através de boataria e o novo projeto da repórter especial do BR-Linux.
Veja abaixo o texto completo!
A briga pelo mercado desktop corporativo baseado em Linux
O meu e o seu desktop doméstico rodando software livre são importantes e têm características próprias, mas os números que interessam para o mercado não residem neles - e sim nos desktops corporativos. O desktop corporativo tem características bem específicas, com valorização da padronização, da possibilidade de administração e atualização centralizadas, da customização da instalação, da ausência de recursos que representem risco conhecido devido a patentes de software, e da presença de um conjunto de aplicativos essenciais: automação de escritório, navegação web, visualização de formatos de arquivos comuns, emulação de terminais... Neste mercado, jogos e multimídia não estão perto do topo da lista de prioridades.
A briga por este mercado já começou há alguns anos, e algumas grandes empresas têm ofertas relativamente maduras de distribuições com esta finalidade, destacando-se Novell, Red Hat e Mandriva. Mas em 2005 e 2006 estamos vendo uma série de novidades que podem indicar tendências que fazem valer a pena acompanhar com atenção:
- os aplicativos livres de automação de escritório estão ajudando a consolidar um formato de arquivos em comum e padronizado (o ODF)
- o Linux Standard Base passou a dar maior ênfase à padronização de APIs e ABIs de desktop, e fala-se até em um formato de instalação de aplicativos no estilo InstallShield, "plugável" ao gerenciador de pacotes de cada distribuição aderente ao padrão.
- O Ubuntu, distribuição com crescimento avassalador, lançou uma versão LTS, equiparando-se às ofertas "Enterprise Desktop" da Novell e Red Hat em termos de período de suporte e atualização.
- Diversas distribuições baseadas no Debian estão buscando um núcleo comum.
- A virtualização está passando a fazer parte do dia-a-dia.
- Os aplicativos "tradicionais" rodando a partir do navegador começam a ter funcionalidade real - até mesmo o gigante Google já oferece um gerenciador de e-mail, agenda de compromissos, processador de textos, planilha de cálculos e começou a falar em adquirir uma ferramenta de apresentações - e tudo isso roda sobre navegadores livres em ambientes livres.
Tenho dado bastante atenção a estas tendências, porque acredito que veremos algumas delas darem impulso extra à adoção de software livre onde hoje ele ainda não tem presença expressiva. Neste momento estou rodando o Kubuntu LTS e venho experimentando quase todos os serviços rodando a partir do navegador dos quais ouço falar. Nem todos são baseados em software livre, mas certamente podem vir a ser uma razão a menos para alguém rodar um ambiente proprietário.
Homologação de ambientes para rodar Oracle - faça você mesmo, mas agora oficialmente ;-)
Há alguns anos, uma organização para a qual eu prestava serviço desejava migrar seus servidores Oracle, que rodavam em Unix proprietário, para Linux. Fiz o possível para fazê-lo usando uma distribuição de Linux nacional, mas a homologação pelo fornecedor da base de dados era requisito, e nenhuma distribuição nacional contava com este diferencial. Tive várias reuniões com representantes destas empresas, e a situação acabou se tornando bem clara para mim: a empresa nacional desejava se certificar, tinha os requisitos técnicos e estava disposta a pagar o custo, mas a Oracle não estava disposta a dar esta oportunidade, aparentemente por estar satisfeita em homologar apenas 2 distribuições.
Os anos passaram, o mercado mudou, vimos nas manchetes o Ubuntu sendo certificado por outros ISVs, e a Oracle parece ter aberto os olhos: divulgou esta semana seus
esforços de homologação e prometeu que irá disponibilizar na web um kit para que empresas e outros interessados possam realizar os testes de homologação em seus próprios ambientes.
Um belo progresso! Mas quanto tempo será que irá demorar até que vejamos um artigo sobre a superioridade do LFS como servidor corporativo? ;-)
Notícias sobre iniciativas comerciais nacionais
Eu acredito que as iniciativas comerciais que têm a comunidade de software livre como alvo merecem atenção e apoio. Quando chegam os momentos em que precisamos de apoio de entidades do mercado, é comum ver reclamações de que as empresas não patrocinam, não comparecem ou não se interessam; entretanto, é frequente ver outros protestos criticando as mesmas empresas por oferecerem produtos ou serviços comerciais para a comunidade do software livre.
É necessário haver um meio termo, racionalizar esta questão. Sob o meu ponto de vista, as empresas são muito bem-vindas para oferecer produtos e serviços para a nossa comunidade, aproximando-se dela, compreendendo-a melhor e tendo assim alguma chance de apoiá-la ou mesmo fomentá-la (por exemplo, através de patrocínio a eventos ou a projetos), ainda que elas em si não integrem a comunidade.
Brasileiro não pode: Acho interessante e digno de análise que nos casos em que os produtos comerciais ou de código fechado são de origem internacional, raramente se vê este tipo de comentário negativo sobre a não-gratuidade. Mas quando é uma empresa nacional oferecendo um software de código fechado que roda em ambiente livre, ou um curso, ou um serviço qualquer, é freqüente surgirem os protestos quanto ao fato de a iniciativa ser comercial - e não quanto a não ser código aberto, o que seria bem menos incoerente com a postura acima.
De minha parte, vou continuar fazendo o que estiver ao meu alcance para dar espaço e noticiar iniciativas comerciais que podem agregar algum valor ou crescimento à nossa comunidade. Os comentários criticando não me incomodam, mas como não dá para responder a um por um, fica aqui a resposta consolidada ;-)
Mariana ataca novamente
Lembram da Mariana, a usuário de Linux que eu convidei para fazer uma
cobertura fotográfica do fisl6.0 e que acabou sendo a autora da mais lida entre as notícias analisando o evento?
Pois eu aproveitei o fato de que ela mora no RS para dar a ela uma nova missão: fazer uma reportagem sobre o que acontece dentro da
Solis, a cooperativa de desenvolvedores fundada pelo Cesar Brod e que já há alguns anos vive de desenvolver software livre.
Desde a LinuxWorld eu estou com o palpite de que a Solis anda preparando alguma surpresa boa, e quem sabe a Mariana não encontra alguma pista disso pra gente? No mínimo, se eles esconderem o jogo, ela vai poder nos mostrar como funciona o dia-a-dia de uma organização dedicada ao desenvolvimento de aplicações livres - uma parte absolutamente vital da cadeia de valor do código aberto.
Não dei um prazo para a Mariana (afinal, ela é voluntária), mas ela costuma trabalhar rápido, portanto vamos aguardar. E se você tiver idéia para uma reportagem interessante sobre iniciativas de software livre em sua região, não deixe de entrar em contato comigo!
Os perigos do fundamentalismo
Um dos principais perigos do fundamentalismo é a redução da capacidade de interpretar feedback negativo e responder a ele com adaptação de comportamento. Em freqüentes casos, esta persistência ou firmeza de propósitos é uma virtude; mas nos casos em que ela é virtuosa, não há razão para deixar de aceitar que se façam críticas às suas idéias e atitudes, ou para deixar de interpretar e tentar compreender os pontos de vista de quem expressa oposição a elas - mesmo que seja para melhor saber como convencê-los e agregá-los à causa, ou para evitar que causem dano a ela.
Tenho visto uma minoria vocal procurar agir como se determinadas críticas já nascessem pré-refutadas, ou determinados elogios fossem válidos por definição, sem necessidade de maior argumentação. Ataques ad hominem (refutar o mensageiro, e não a mensagem) e outros no mesmo estilo nunca são bem-vindos a uma discussão sadia, assim como não é correto sempre tentar justificar posições menos éticas baseando-se na idéia de que nossos adversários também agem assim.
Outro fator que prejudica o valor de qualquer argumentação é a substituição de nomes por insultos. Uma crítica aos Macs, por mais que seja bem embasada, vai ser bem menos levada a sério se o autor se referir aos sistemas como Macintrashes ou Macintoys, ou se usar a velha "tradução" 'Most Applications Crash, If Not, The Operating System Hangs'. Expressões como Lixux e M$ também não agregam credibilidade aos argumentos.
Procuro sempre trazer opiniões variadas (inclusive as que são bem diferentes da minha) à capa do BR-Linux, e noto que existe um ativismo reativo contra determinadas categorias de notícias. Fechar os olhos para a crítica, exigindo que determinados assuntos só recebam cobertura positiva, outros só cobertura negativa, e acreditando que todos os erros e falhas de determinadas personalidades devam ser maquiados ou ignorados fere só a nós mesmos.
Pluralidade é importante, e posturas abertas ao diálogo e à análise são bem mais efetivas, a longo prazo, do que aquela velha atitude de "temos que refutar ponto por ponto toda opinião contrária ao que nosso grande líder pregou".
Já saíram os vídeos da PyCon Brasil
Parabéns ao pessoal que organizou a conferência sobre Python realizada há 2 semanas em Brasília: os seus
vídeos já estão disponíveis e ao alcance dos interessados que não puderam estar presentes.
Bem-vindo de volta, Linux Daily Log
Depois de um longo hiato, o
Linux Daily Log está de volta. Trata-se de um dos melhores sites brasileiros com notícias e material original sobre Linux e software livre, e a ausência estava sendo sentida!
Boicote a sites da comunidade, abaixo-assinado e pesquisa de opinião
Desde o ataque da revista Veja à política de software livre do governo brasileiro, para o qual até o momento só houve uma resposta direta à comunidade de software livre por parte do ITI, e em seu próprio nome (embora o pessoal da SLTI tenha mais uma vez confirmado que a resposta deles está a caminho), e à constatação, agora confirmada, de que o movimento de software livre no Brasil não conta com uma organização interessada em realizar as tarefas relacionadas à sua articulação política, o BR-Linux vem dando um pouco mais de atenção ao noticiário sobre política de software livre no governo brasileiro. Quero distância de realizar atividades de articulação política também, mas pelo menos tenho condições de manter o público informado, e isto eu pretendo continuar fazendo.
Esta semana resolvi perguntar aos leitores sua opinião sobre a presença desta cobertura, e a resposta foi bastante positiva. Deixei a enquete na capa por 48h, e os resultados entre os leitores que responderam foram:
- 90% acham o tema interessante
- 80% lêem as notícias sobre o tema
- 67% acreditam que estas notícias permitem que a comunidade se posicione sobre o tema
Também houve 4% que prefeririam que o BR-Linux não publicasse mais este assunto. Mas aparentemente alguns destes 4% não se contentaram em votar: no mesmo dia recebi de uma fonte em Brasília as informações sobre a articulação de um
boicote ao BR-Linux e a outras iniciativas da comunidade, que estava sendo disseminado por lá na forma de um boato. Depois de publicar a notícia, recebi bem mais informações sobre o assunto, mas elas nem vem ao caso neste momento - o importante é que saibamos que:
- Alguém se incomoda com o conteúdo do BR-Linux mas não tem condições de responder às claras.
- Alguém está tentando ativamente minar a disseminação de informações à comunidade.
Recebi muito apoio dos leitores e colaboradores do BR-Linux em seguida à divulgação da notícia (muito obrigado!), mas o mais importante é que todos estejam conscientes de que estas tentativas de manipulação não foram as primeiras, e certamente também não serão as últimas. Estejamos sempre despertos e saibamos reconhecer os lobos em pele de cordeiro.
Respostas sobre o dual boot no PC Conectado
Quando completar o primeiro mês, vamos organizar uma festa? Já faz 27 dias que foi divulgado ao público em geral que havia uma iniciativa (que na verdade começou em fevereiro) para comercializar micros com Windows XP (e Linux em dual-boot) com as vantagens e benefícios do programa Computador para Todos, criado pelo governo federal com bastante fanfarra como sendo um programa de apoio ao software livre, de forma exclusiva.
Na semana passada a primeira destas máquinas chegou ao mercado, com aprovação expressa do MCT (que concedeu a mesma aprovação também a outros fabricantes). Na ocasião, a ComputerWorld obteve a declaração, por parte de um dos coordenadores do programa, de que "o tema do dual boot foi debatido exaustivamente ao longo de um ano e meio da elaboração do programa". Mesmo assim, este tema exaustivamente debatido não foi mencionado na norma que instituiu o programa, e agora o resultado está aí: o MCT diz que pode, e a única resposta até o momento foi a de algumas outras autoridades dizerem que não pode - mas à imprensa, e não de forma oficial.
Quando se completou a
terceira semana desde a divulgação pública do assunto, a mesma ComputerWorld divulgou declaração de que o assunto seria tema de uma reunião ministerial "provavelmente até esta semana", e que só após esta reunião seria possível divulgar uma posição sobre o assunto.
Hoje é dia 16. No dia 18, se ainda não houver esta posição, vou comprar um bolo e uma velinha para marcar o primeiro mês ;-) E torcer para em 18 de julho não ter de comprar mais uma!
Abaixo-assinado: A própria comunidade se encarregou de preparar um abaixo-assinado virtual, neste momento com 123 assinaturas,
convidando Sérgio Amadeu, um dos pais do Computador para Todos com software livre, para que ele procure esclarecer com os atuais responsáveis pelo programa a razão da ausência de reação, e por que o dual boot está sendo permitido. Naquele caso da Veja ele reagiu rapidamente, vamos torcer para que tenha condições de responder ao convite da comunidade desta vez também.
Para fechar, uma letra dos Titãs
Esta semana um colega me disse que não era correto eu chamar o BR-Linux de blog, porque eu nunca havia publicado um post dizendo que música estava ouvindo naquele momento, ou acrescentando uma letra de música. Portanto, para sacramentar definitivamente a posição do BR-Linux como um blog completo, informo que este post foi composto ao som de um CD antigo dos Titãs, berrado no último volume a partir da casinha do zelador do condomínio ao lado do prédio. Neste momento, a música que toca é "Porrada", composta por Arnaldo Antunes e Sérgio Britto:
Nota dez para as meninas da torcida adversária
Parabéns aos acadêmicos da associação
Saudações para os formandos da cadeira de direito
A todas as senhoras muita consideração.
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Medalhinhas para o presidente
Condecorações aos veteranos
Bonificações para os bancários
Congratulações para os banqueiros
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Distribuição de panfletos
Reivindicação dos direitos
Associação de pais e mestres
Proliferação das pestes
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Porrada
Nos caras que não fazem nada.