Esta foi uma
semana curta para o BR-Linux, mas sempre acaba dando tempo de escrever o nosso editorial semanal, hoje sobre assuntos variados - e sem menções ao novo namorado de Stelmann!
Valorizando a mídia que olha para nós
Um dos fatores importantes para a disseminação das alternativas de código aberto no mercado brasileiro é a divulgação. Não é difícil perceber que muitos usuários de computadores nunca chegaram a entender o conceito, e certamente há um grande contingente (até mesmo de profissionais) que não associa nem mesmo os softwares livres mais populares (como o Firefox, o OpenOffice ou o Apache) a esta idéia de liberdade, ou mesmo a questões de qualidade e aplicabilidade.
Pior ainda: usuários cujas maiores fontes de informação sobre tecnologia sejam revistas como a Veja e a Época correm o risco de acreditar em informações com um viés bastanqte questionável, para dizer o mínimo.
Neste sentido, me espanta e me desagrada sempre que vejo um segmento pequeno, mas barulhento da comunidade virar as costas para aqueles setores da mídia que *desejam* dar alguma atenção e projeção ao nosso movimento.
Na minha opinião, ainda que errem nomenclatura, misturem conceitos, focalizem vantagens cujo interesse é secundário, exibam anúncios comerciais de concorrentes nossos e dediquem uma grande parcela de sua cobertura a produtos não-livres, toda cobertura positiva sobre software livre que tenha maior potencial de ser vista *fora* da nossa comunidade é bem-vinda, e deve ser cultivada e estimulada.
O mesmo vale para autoridades que eventualmente defendem o software livre, ainda que cometam os mesmos vícios acima. Quem sai ganhando quando somos refratários a demonstrações de apoio?
Aos que usam as mais variadas justificativas ideológicas para rejeitar os veículos que hoje desejam nos dar uma parcela de seu potencial de divulgação, convido a colocarem em prática algum plano alternativo de divulgação. Não esqueçam que o BR-Linux está sempre à disposição para ajudar a arregimentar voluntários para suas iniciativas.
E virando as costas à mídia que nos ataca - mas sem exagero
Fiquei muito feliz ao saber que a Veja
publicou a resposta dos leitores do BR-Linux às suas críticas ao software livre no governo brasileiro, com destaque maior do que o que foi dado à resposta do Serpro, e acompanhada de elogios à forma e ao conteúdo.
Apesar de o fato em si ser uma demonstração cabal de que o movimento do software livre no Brasil está mesmo sem pessoas ou entidades capazes de realizar o papel de articulação política, a campanha espontânea e a publicação demonstram que somos capazes de nos organizar em prol de interesses comuns, mesmo na ausência de articuladores interessados em defender nossa imagem coletiva.
Mas há que se tomar um certo cuidado para evitar exageros, e não adotar o papel de um movimento fundamentalista no
estilo Savonarola, e terminar queimando livros que expressam pontos de vista que não nos agradam. Cito como exemplo a
matéria da revista Época desta semana, sobre como escolher um computador para sua casa, que não recomendou a compra dos equipamentos do programa Computador para Todos (com software livre) a quem puder evitar.
A matéria levantou bastante alarido e acusações, mas... eu também não recomendaria, de forma genérica, a compra de um Computador para Todos, já com Linux pré-instalado, a quem possa comprar algo com configuração superior. Ainda mais considerando que a norma que instituiu este programa permite, e já há casos disponíveis no varejo, a comercialização de
PCs "populares" com apenas 96MB de RAM disponível para o sistema operacional - algo bastante abaixo do desejável ou recomendado para desktops domésticos correntes. Você recomendaria?
Assim, gostaria de recomendar a todos a virtude da temperança. Matérias como esta merecem uma resposta sim, mas responder como se fosse heresia criticar iniciativas que envolvam o software livre acaba refletindo mal sobre todos nós - principalmente quando a crítica original tinha alguma base.
Linux Magazine volta às bancas
Eu já estava com saudade! Tomara que a
edição 19 chegue logo aqui também.
Julio Neves no BR-Linux
A partir de hoje, Julio Neves passa a publicar sua coluna
Papo de Botequim, sobre shell scripts, aqui no BR-Linux. Bem-vindo, Júlio!
Só para não esquecer
Está fazendo 2 semanas que noticiamos a informação, confirmada oficialmente pela autoridade responsável, que
alguém "esqueceu" de fazer referência a dual-boot na portaria que instituiu o Computador para Todos, e que os fabricantes já descobriram esta brecha e encaminharam consulta oficial para que se confirme que eles podem mesmo comercializar micros rodando Windows XP (e mais uma pequena partição com Linux e outros softwares livres) usando os benefícios e incentivos do programa governamental. Desde então, aparentemente não se divulgou mais o andamento da questão. Será que ainda demora muito para confirmarem ou negarem isto? E será que quando os fabricantes puderem vender estes micros com Windows XP, eles vão caprichar um pouco mais na configuração de hardware?
Já completaram 3 semanas também as denúncias publicadas pela Info e pelo Estadão sobre
irregularidades e corrupção nos telecentros móveis, projeto de inclusão digital que teria recebido R$ 15 milhões do MCT no ano passado. Será que alguém confirmou ou negou de forma tão discreta que nem ficamos sabendo? Informações serão bem-vindas!
Atualização: O prof. De Lucca acrescentou nos comentários um link para a
confirmação em nota da FINEP/MCT.
em relação a negação sobre o caso dos telecentros móveis, a Finep (órgão do MCT) postou uma nota de esclarecimento no site dela em que informa as providências tomadas uma vez recebidas as denúncias.
De lá:
"...o presidente da entidade, Odilon Marcuzzo do Canto, determinou a imediata investigação sobre a situação dos convênios firmados. Foram encontrados indícios de fraude na execução dos projetos. O caso já está com os auditores e advogados da empresa para as providências cabíveis."
(...)
"Recursos destinados a algumas emendas parlamentares foram descentralizados do Ministério da Ciência e Tecnologia para a FINEP no final de 2005. Com isso, os projetos oriundos dessas emendas foram encaminhados em bloco. Entre o recebimento formal das propostas em questão e a liberação dos recursos transcorreram cerca de dois meses, prazo normal para projetos desta natureza.
A variação nos valores dos ônibus apresentados pelas três entidades, que serão utilizados nos projetos de inclusão digital, tem a ver com as especificidades de cada veículo, como o modelo, ano de fabricação e acessórios. Os preços citados são valores de referência, já que, para a compra efetiva dos veículos, as instituições são obrigadas a realizar processos licitatórios baseados na Lei 8.666. Duas instituições, por exemplo, optaram pela aquisição de modelo zero quilômetro e a outra por veículos usados."