O meu dileto amigo José Pissin, o popular Pizza, orgulhoso proprietário do notebook mais pesado da América Latina, publicou no site do GULMS um
artigo relevante e interessante sobre a questão do Computador para Todos, repercutindo as questões levantadas pelo Sérgio Amadeu sobre a pesquisa divulgada pela ABES apontando que quase 3 em cada 4 compradores do computador substituem o Linux por Windows pirata rapidamente, e acrescentando suas considerações.
Eu recomendo a leitura do artigo do Pizza, porque ele vai direto a alguns dos nós da questão, mas gostaria de acrescentar duas considerações minhas.
Acima do tapete
A primeira é que concordo plenamente que se questione as motivações e a metodologia da pesquisa da ABES, mas não acho que isso possa servir para varrer para baixo do tapete os números, ainda que eles possam estar longe da precisão. Não acho que seja esta a intenção do Pizza, até porque não é a ele que compete esta análise e esta resposta à comunidade, mas está demorando para surgir uma manifestação dos proponentes do programa - mesmo os que já falaram em público sobre o assunto não tocaram neste ponto nem indicaram um compromisso de avaliar e ajustar rumos.
Os dados existentes parecem indicar que o programa Computador para Todos não está conseguindo incentivar os fabricantes, comerciantes e usuários a se esforçar para que o software livre incluído nos computadores seja de fato usado e mantido. Bastante gente tem e manifesta opinião sobre o assunto, mas se as diretrizes atuais forem mantidas, não adianta nada debatermos até a exaustão se o instituto de pesquisas deveria ter feito entrevistas presenciais e em mais estados, ou se a ABES é ou não um títere dos falcões sangrentos do imperialismo ianque: se não há intenção de rever e ajustar, e se os responsáveis pelo programa preferem calar, todo debate entre nós mesmos é inócuo.
Como contribuir individualmente
E a segunda é um complemento ao chamado do Pizza, que perguntou onde está a comunidade livre, e de que forma ela pode ajudar: quem quer dar uma força ao apoio da comunidade ao Computador para Todos, pode procurar aderir ao
Suporte Livre - eles estão em atividade
desde antes de o Computador para Todos chegar ao mercado, com o objetivo justamente de prestar suporte comunitário a usuários de computadores populares. O grupo surgiu
atendendo a um chamado do BR-Linux, mas eu fiz questão de participar apenas da fase de estruturação do grupo, que hoje é completamente independente.
Participar deste tipo de iniciativa para apoiar uma demanda tão grande e tão mal atendida pelos programas de maior porte pode parecer similar ao beija-flor que tenta ajudar a apagar um incêndio levando água em seu próprio bico, mas cada usuário que o
Suporte Livre consegue ajudar é uma vitória em si, e ainda que não resolva o problema macro, pode ser mais efetivo do que ficar debatendo a questão sem participação de quem realmente poderia intervir mas prefere se limitar a classificar as tentativas de revisão como ataques.
Para relembrar, vou reproduzir abaixo o meu manifesto de 2005 convidando usuários interessados em prestar suporte ao Computador para Todos (na época, PC Conectado), que acabou dando origem ao Suporte Livre:
O Linux em micros populares já é uma realidade concreta (embora não muito difundida), e o projeto PC Conectado tende a torná-la bem mais comum. Mesmo os usuários que atualmente contam com Linux que veio pré-instalado em seus micros já têm dúvidas, como atestam as mensagens que recebo diariamente pelo formulário de contato do BR-Linux. Não tenho como responder a todas as dúvidas, e nem mesmo tento (embora responda a algumas), mas acredito que na comunidade há muitas pessoas com disposição e disponibilidade para responder a estas questões, que de modo geral são simples e comuns (configuração de impressoras, internet, compatibilidade de arquivos e programas...).
Portanto, como um primeiro passo na direção de melhor atender a estas dúvidas, convido: se você tem interesse em ajudar a responder usuários com pouco conhecimento de Linux e de informática, independente da qualidade do hardware e da distribuição que eles adotarem, e sem criticá-los por não usarem PCs mais avançados e com distribuições mais de acordo com o seu padrão de qualidade, ou por não lerem o howto, o faq, o histórico, o manual, o help e uma lista antes de perguntar algo que "todo mundo sabe", escreva para queroajudar @ br-linux.org [este e-mail não está mais ativo] e eu o adicionarei a uma lista de discussão reunindo os interessados a participar deste projeto interminável, tedioso e restrito a resolver necessidades imediatas dos usuários, enquanto outras organizações (espera-se) cuidam dos aspectos estratégicos.
Passado mais de um ano e meio, a última frase do trecho acima convida mais do que nunca à reflexão.
Portanto, se você quiser fazer alguma diferença, considere juntar-se aos que já estão procurando fazer a sua parte!