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Editorial: Linuxworld, corporações, eles e nós, o início de alguma coisa que já havia começado - por Helio Castro

Convidei o Helio Castro, desenvolvedor do projeto KDE e da Mandriva Conectiva, a escrever o editorial desta semana do BR-Linux, diretamente a partir da LinuxWorld Brasil. Segue a íntegra do texto do Helio, mostrando uma série de possibilidades interessantes que surgem conforme o gueto vai sendo deixado de lado por um número cada vez maior de nossos líderes e o mercado vais assumindo o Código Aberto como mais do que uma simples alternativa - como se percebe pela forma como nossa maior rival tenta tão ativamente se aproximar de nós.

Nossa comunidade cresce e se fortalece com bons exemplos como o de Jon Maddog Hall, que ofereceu um bem-vindo e oportuno contraste a experiências recentes, sendo receptivo à comunidade (até mesmo na hora das fotos e autógrafos) e inclusive fazendo questão de passar uma mensagem clara ao sentar na frente do auditório para ouvir a palestra de Bill Hilf e deixando-se fotografar conversando com ele na presença do brasileiro Cesar Brod. Outro exemplo que eu achei inspirador para fazer refletir o pessoal que gosta de bater panela (e tem suas fichas apostadas na segregação e no conflito) foi o aperto de mãos e a conversa animada entre a CEO do InfomediaTV e o Secretário da FSFLA.

Mais do que tudo isso, entretanto, me deixou feliz a constatação da nova visão que está surgindo, do desenvolvedor de código aberto como um perfil profissional valorizado, e do código aberto como base de uma valiosa cadeia de serviços.

Mas hoje é a vez do Helio comentar. Segue a íntegra do editorial do Helio Castro:


Já havia mencionado há exato 1 ano atrás em um texto aqui no br-linux sobre as corporações e o ritual de eventos corporativos open source estarem se aproximando de nossa terra tupiniquim. Acertei em cheio.

Mas o que não esperava foi o tremendo pé direito que tudo se inicia aqui. Aliás pé não, pés, de empresas como Intel, IBM, HP, Novell e até Microsoft, seja lá o que todos que estiveram lá entenderam bem do que está acontecendo.

Susto eu tomei ao ver a qualidade que um evento da LinuxWorld assume em ter. Acredito que, fora uma ou outra eventual falha como prover uma rede wireless aberta pros visitantes, ninguém teria absolutamente nada a reclamar do evento. Sejam os palestrantes com um sorriso no rosto (nunca alguém havia sido tão atencioso a mim como palestrante, profissional ao extremo), sejam os exibidores, sorrindo de orelha a orelha (e os rumores dizem que a grande maioria já tem assinado para o ano seguinte), e principalmente os organizadores, que pareciam estar extremamente satisfeitos com tudo.

Eu estava um pouco receoso, pois este seria meu primeiro contato real do mundo open source com o mercado corporativo, onde a peça chave estava vestida com terno e gravata. Meu receio foi embora, e tenho que admitir que estamos no momento exato, não poderia ser antes, nem depois. Open Source reconhecido, trabalho reconhecido, investimentos reais, é isso porque esperei por muito tempo como afirmação de nosso trabalho, além é claro do sorriso feliz de um usuário.

E sendo bem claro, ali, os executivos e gerente não estavam lá para apertar sua mão, e dizer o quão grande desenvolvedor ou projeto de software livre você é. Eles estavam lá porque vamos prover lucros para eles através de trabalho, negócios. É um dos maiores elogios que um profissional pode receber.

E é claro, essa palavra profissional me assolou durante todo o evento. Sim, não sei quando isso aconteceu aqui (é claro que eu já tinha alguma desconfiança), mas do ontem de comunidade formadora de opinião, pro hoje de profissionais experientes, a mudança foi abrupta e bem vinda.

Eu vi momentos de respeito e carinho que não esperava. A bom exemplo, comecei o último dia com uma palestra do MadDog, seguida de uma palestra do chefe do Port25 Bill Hilf (Microsoft). Um assistiu a palestra do outro. E ao mesmo tempo, estavam lá os organizadores do Fisl (pelo menos lembro de ter visto o Marlon Dutra), Marcos Mazzoni do governo do Paraná, Marcelo Barbão (chefão da Pc Magazine, EGM, entre outras), entre outros que pude identificar.

E mais, depois de uma conversa excelente como sempre com MadDog, eu fui ser entrevistado pelo Jornal do Commercio, e logo ao lado me sentam MadDog e Bill Hilf, trocando idéias e um tentando entender o que o outro tem em relação a OpenSource. Eu lembrei na hora as palavras do MadDog sobre a entrada da Microsoft no mundo OpenSource minutos antes dessa conversa deles: "Eu trabalhei numa empresa chama DEC, que disse que estava trazendo o Unix para perto do mundo deles, e do VMS. 15 anos depois, eles ainda estavam trazendo pra perto. Então sobre esta entrada da Microsoft, vamos conversar daqui a cinco anos, e veremos se a história se repete."

Sábias palavras como sempre. Eu pude inclusive conversar rapidamente com Bill Hilf e é impressionante a lucidez e pé no chão que ele fala sobre interoperabilidade e a proposta do Port25. É claro que não sou mais inocente que eles não tem uma agenda. Mas ali estávamos falando de negócios. Todos nós temos uma agenda sobre isso, é natural.

E as surpresas não acabavam. Vi Deivi Kuhn do Serpro e PSL-RS indo abraçar e cumprimentar o Bill Hilf (provavelmente já se conheciam devido ao Serpro), vi MadDog praticamente abençoar o maravilhoso projeto do HackerTeen (que venham bons frutos dali, e que o amigo Cristiano guie a gurizada pela mão), vi meu chefe Jaques Rozenwaig (Mandriva) conversando alegremente com nossa concorrente Insigne, que ele mesmo admite que é co-concorrente (concorrente que coopera e uma concorrência leal).

E pra mim não tinha acabado, por ver o legado da Conectiva se espalhando e provando que realmente ali era (e ainda é) um celeiro de talentos. Eu encontrei, meia equipe comercial na nova e renovada Red Hat Brasil o que me deixou muito feliz (além do Tosatti, é claro), encontrei dois amigos levando projetos grandes na Intel, que parece ter Open Source em excelente conta agora, e mostrando que tem muita coisa boa pra nos mostrar (e agradecer ao café :-).

Me impressionei muito com a HP, o manager da área de servidores Jaison Patrocínio se mostrou uma pessoa atenciosa e com muitas idéias que logo vão ajudar projetos Open Source nacionais.

E pra piorar tudo, meu desejo nerd foi aguçado ao máximo com uma empresa Australiana, ThinLinx que mostrou uma micro máquina que pode usar a ethernet como energia também! Eles estarão fabricando essa maravilha em Campinas e custará em torno de 450 reais (e acreditem, eu pagaria de olhos fechados).

Na Novell fiquei muito feliz de, por acaso, na tentativa de obter um cobiçado pinguin, ter esbarrado em um dos desenvolvedores do Xgl que mora na França, e tive um excelente papo, que realmente não esperava. E é claro, tinhamos as palestras. Uma das poucas coisas que eu não concordei muito foi o tempo curto das palestras. Para palestras direcionadas a um público mais gerencial, todas foram muito bem escolhidas, e nitidamente se via que os palestrantes estavam se divertindo e se pudessem ter mais 15 minutos, ainda assim ia ser pouco pra toda a diversão. Digo por mim mesmo, que estava bem feliz com a minha palestra, e me empolguei tanto que estava quase dando um nó na platéia de tantas idéias.

Resumindo, eu sobrevivi até mesmo a ter vestido uma gravata no primeiro dia, e se depender de mim (e de provavelmente grandes 100% dos visitantes ali), vai se repetir com certeza.
O próximo passo foi dado. Cabe a nós dar continuidade nesta nova caminhada. A pergunta é quem vai entrar neste grupo...”



Comentários dos leitores

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Comentário de nemesis
diversão: nada como dinheiro no bolso para as pessoas ficarem descontraídas, não? A LinuxWorld -- voltado para empresas -- é um evento bem diferente daqueles com esfarrapados guerrilheiros da liberdade lutando contra um império do mal...

;; ((lambda (x) x) "Isto é um comentário e não será executado nunca")

Comentário de David
Rico ri à toa: Quem vai entrar nesse grupo?
Quem trabalhar em empresas top ou tiver os mil e tanto reais da inscrição...

É nítido o deslumbramento dos "membros" da "comunidade" com o mundo corporativo.
Pelo menos desses que foram a LinuxWorld e relataram aqui no BR-Linux.

Não me entendam mal, eu sei _muito_ bem que todos precisam pagar o aluguel e
que não existe almoço grátis. Só que esse mundo dos engravatados é restrito,
não é para o bico da grande massa nerd.

Em todo caso, o papel dessas figuras, fazer o meio de campo entre
a "comunidade" e o dinheiro, é fundamental. Desde que eles não se deixem
seduzir e não percam o foco.
Comentário de
concordo!: Concordo plenamente quanto ao parágrafo final! E, de modo geral, a tarefa de fazer o meio de campo é inglória. Tomara que exista gente com disposição para realizá-la de maneira continuada.
Comentário de brain
etiqueta de preço: Com certeza, um evento em que você tem que pagar mais que R$ 500 para assistir as palestras busca atingir um público radicalmente diferente daquele do fisl, ao mesmo tempo em que afasta grande parte do público do fisl.

Mas muitas vezes reclamamos que este público que topa e pode pagar os R$ 700 de inscrição não conhece o software livre, ou não demonstra interesse. Então acho que no final das contas é bom ter um evento voltado para eles, e talvez eles não viriam, mesmo, se não tivesse essa característica engravatada que nos afasta. Pelo menos em um primeiro momento.

Mas acredito que se a coisa for bem conduzida pelo pessoal do FISL (e fiquei feliz em saber que as lideranças estavam lá), no ano que vem haverá em Porto Alegre pessoas que nunca tinham ido a um evento da comunidade de software livre antes, mas que tiveram agora a oportunidade de um primeiro contato em um ambiente que não os intimidava.
Comentário de vmedina
Eventos de "peão", Eventos de "patrão": Eventos como esse são maravilhosos para ficar todo mundo dando risadinha na mesma sala, falando amenidades, discutindo uma interoperabilidade ilusória e prometendo cooperação. Papo mole de "patrões"/"Pointy-Haired Bosses".

Aí quando chega no nível dos "peões", que é quem codifica/administra mesmo, as coisas continuam ruins a interoperabilidade vira virtualização e padrões de XML com binários exclusivos e a cooperação vira "Get the FUD".

Mas isso deve ser papo de gente que não entende né?

[]s!

Vinícius Medina
Usuário Linux 383765. É um também? Mostre a sua cara!
Comentário de ThiagoArbex
Concordo: Vamos fazer dinheiro em cima dos #$%*@
Comentário de zoeirapura
A comunidade: Acredito que é extremamente necessário a difusão do conceito e das potencialidades do software livre no mundo corporativo, o qual até pouco tempo atrás era extremamente restrito e pragmatico em relação aos sistemas abertos.
Ao mesmo tempo é necessário ser frio e lembrar que há uma diferença de anos luz entre prometer inter-operabilidade e implementar e implantar a inter-operabilidade.
A realização de eventos para o público coorporativo é bem vinda, assim como os eventos técnicos e de divulgação para o que, em comentários anteriores, chamaram de "peão".
É necessário mostrar as pessoas que as diferenças entre os sistemas operacionais não os tornam melhores ou piores, apenas os tornam diferentes e que essas diferenças podem ser adequadas para algumas tarefas e para outras não.
Talvez divulgar o Linux para os gerenciadores de empresas estimule essa divulgação aos usuários pois as empresas estarão difundindo e estimulando o uso do GNU/Linux em suas instalações internas e consequemente os usuários não terão receios em utiliza-lo em suas casas.
As risadinhas podem ser interpretadas de dois modos e em qualquer um desses modos precisamos pensar o que fazer.


(:)[podem me xingar]
Comentário de adilson
Acho que é um evento válido e necessário.: Concordo com o pessoal que o preço de quase R$ 1000,00 (preço cheio no dia do evento) para assistir às palestras não é para qualquer um mas é para este pessoal corporativo, os "PHBs" por assim dizer, que este tipo de evento existe. Não adianta tentar atrair esse povo, que no final das contas é quem decide as diretrizes de TI e assina os cheques, para um evento comunitário. Não é a seara deles.
Como disse o colega acima, sim, é evento de "patrão" e não de "peão" mas alguém tem que mostrar ao patrão, PHB, que seja, que o nosso trabalho (os peões) é válido, tem qualidade e, o que interessa para eles, é lucrativo. E tem que ser um alguém que saiba falar a língua deles, o que geeks em geral normalmente não sabem. Se essa mensagem ficar clara, poderemos fazer nosso trabalho e sermos pagos por isso pois dinheiro é um mal necessário.
O mundo dos escalões corporativos é assim mesmo, lucro acima de tudo. O que temos que fazer é que este sentimento trabalhe à nosso favor.

___
Nullum magnum ingenium sine mixtura dementiae fuit - Seneca
Comentário de jchaves13
Concordo com todos :): Estranho, concordo com *todos* os comentários, feitos até agora, incluindo os irônicos/"alarmistas" (no bom sentido) do nemesys e vmedina, em geral, tendo a seguir a linha do que eles disseram.
Mas, nesse caso (concordando com o brain), creio que o último parágrafo do david resume bem a situação.

Acho que estou ficando velho...
Comentário de Alexandre_Martins
Cara, por falar em: Cara, por falar em "patrão", essa tua gravata é da hora mesmo :P ... Até me intimidei de agregar minha foto de camista. Vou esperar mai$ um pouquinho hehehe.

Alexandre Martins

"O segredo da felicidade está na liberdade, e o segredo da liberdade está na coragem!"
(Jean-Paul Sartre) www.nuca.org.br
Comentário de vmedina
heheheh...: Gravata não é nada, Atitude é tudo! ;)

Isso foi durante um casamento, não pega bem ir de camiseta né! :P

[]s!

Vinícius Medina
Usuário Linux 383765. É um também? Mostre a sua cara!
Comentário de CWagner
Se preocupa não...: Se preocupa não...

Todos estamos ficando, graças a Deus.

Quanto aos eventos, eu teria o maior prazer em ir a um FISL, já em Linux World, nem tanto (a não ser que alguém pagasse).

P.S.: Concordo que alguém responsável faça o papel de "meio-de-campo" no SL.
-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
Carlos Wagner - São Luís / MA

P.S.: As palavras acima fazem parte da minha visão do assunto e não pretendem ser, de modo algum, a verdade absoluta sobre o mesmo.

Obrigado!
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