“Já havia mencionado há exato 1 ano atrás em um texto aqui no br-linux sobre as corporações e o ritual de eventos corporativos open source estarem se aproximando de nossa terra tupiniquim. Acertei em cheio.
Mas o que não esperava foi o tremendo pé direito que tudo se inicia aqui. Aliás pé não, pés, de empresas como Intel, IBM, HP, Novell e até Microsoft, seja lá o que todos que estiveram lá entenderam bem do que está acontecendo.
Susto eu tomei ao ver a qualidade que um evento da LinuxWorld assume em ter. Acredito que, fora uma ou outra eventual falha como prover uma rede wireless aberta pros visitantes, ninguém teria absolutamente nada a reclamar do evento. Sejam os palestrantes com um sorriso no rosto (nunca alguém havia sido tão atencioso a mim como palestrante, profissional ao extremo), sejam os exibidores, sorrindo de orelha a orelha (e os rumores dizem que a grande maioria já tem assinado para o ano seguinte), e principalmente os organizadores, que pareciam estar extremamente satisfeitos com tudo.
Eu estava um pouco receoso, pois este seria meu primeiro contato real do mundo open source com o mercado corporativo, onde a peça chave estava vestida com terno e gravata. Meu receio foi embora, e tenho que admitir que estamos no momento exato, não poderia ser antes, nem depois. Open Source reconhecido, trabalho reconhecido, investimentos reais, é isso porque esperei por muito tempo como afirmação de nosso trabalho, além é claro do sorriso feliz de um usuário.
E sendo bem claro, ali, os executivos e gerente não estavam lá para apertar sua mão, e dizer o quão grande desenvolvedor ou projeto de software livre você é. Eles estavam lá porque vamos prover lucros para eles através de trabalho, negócios. É um dos maiores elogios que um profissional pode receber.
E é claro, essa palavra profissional me assolou durante todo o evento. Sim, não sei quando isso aconteceu aqui (é claro que eu já tinha alguma desconfiança), mas do ontem de comunidade formadora de opinião, pro hoje de profissionais experientes, a mudança foi abrupta e bem vinda.
Eu vi momentos de respeito e carinho que não esperava. A bom exemplo, comecei o último dia com uma palestra do MadDog, seguida de uma palestra do chefe do Port25 Bill Hilf (Microsoft). Um assistiu a palestra do outro. E ao mesmo tempo, estavam lá os organizadores do Fisl (pelo menos lembro de ter visto o Marlon Dutra), Marcos Mazzoni do governo do Paraná, Marcelo Barbão (chefão da Pc Magazine, EGM, entre outras), entre outros que pude identificar.
E mais, depois de uma conversa excelente como sempre com MadDog, eu fui ser entrevistado pelo Jornal do Commercio, e logo ao lado me sentam MadDog e Bill Hilf, trocando idéias e um tentando entender o que o outro tem em relação a OpenSource. Eu lembrei na hora as palavras do MadDog sobre a entrada da Microsoft no mundo OpenSource minutos antes dessa conversa deles: "Eu trabalhei numa empresa chama DEC, que disse que estava trazendo o Unix para perto do mundo deles, e do VMS. 15 anos depois, eles ainda estavam trazendo pra perto. Então sobre esta entrada da Microsoft, vamos conversar daqui a cinco anos, e veremos se a história se repete."
Sábias palavras como sempre. Eu pude inclusive conversar rapidamente com Bill Hilf e é impressionante a lucidez e pé no chão que ele fala sobre interoperabilidade e a proposta do Port25. É claro que não sou mais inocente que eles não tem uma agenda. Mas ali estávamos falando de negócios. Todos nós temos uma agenda sobre isso, é natural.
E as surpresas não acabavam. Vi Deivi Kuhn do Serpro e PSL-RS indo abraçar e cumprimentar o Bill Hilf (provavelmente já se conheciam devido ao Serpro), vi MadDog praticamente abençoar o maravilhoso projeto do HackerTeen (que venham bons frutos dali, e que o amigo Cristiano guie a gurizada pela mão), vi meu chefe Jaques Rozenwaig (Mandriva) conversando alegremente com nossa concorrente Insigne, que ele mesmo admite que é co-concorrente (concorrente que coopera e uma concorrência leal).
E pra mim não tinha acabado, por ver o legado da Conectiva se espalhando e provando que realmente ali era (e ainda é) um celeiro de talentos. Eu encontrei, meia equipe comercial na nova e renovada Red Hat Brasil o que me deixou muito feliz (além do Tosatti, é claro), encontrei dois amigos levando projetos grandes na Intel, que parece ter Open Source em excelente conta agora, e mostrando que tem muita coisa boa pra nos mostrar (e agradecer ao café :-).
Me impressionei muito com a HP, o manager da área de servidores Jaison Patrocínio se mostrou uma pessoa atenciosa e com muitas idéias que logo vão ajudar projetos Open Source nacionais.
E pra piorar tudo, meu desejo nerd foi aguçado ao máximo com uma empresa Australiana, ThinLinx que mostrou uma micro máquina que pode usar a ethernet como energia também! Eles estarão fabricando essa maravilha em Campinas e custará em torno de 450 reais (e acreditem, eu pagaria de olhos fechados).
Na Novell fiquei muito feliz de, por acaso, na tentativa de obter um cobiçado pinguin, ter esbarrado em um dos desenvolvedores do Xgl que mora na França, e tive um excelente papo, que realmente não esperava. E é claro, tinhamos as palestras. Uma das poucas coisas que eu não concordei muito foi o tempo curto das palestras. Para palestras direcionadas a um público mais gerencial, todas foram muito bem escolhidas, e nitidamente se via que os palestrantes estavam se divertindo e se pudessem ter mais 15 minutos, ainda assim ia ser pouco pra toda a diversão. Digo por mim mesmo, que estava bem feliz com a minha palestra, e me empolguei tanto que estava quase dando um nó na platéia de tantas idéias.
Resumindo, eu sobrevivi até mesmo a ter vestido uma gravata no primeiro dia, e se depender de mim (e de provavelmente grandes 100% dos visitantes ali), vai se repetir com certeza.
O próximo passo foi dado. Cabe a nós dar continuidade nesta nova caminhada. A pergunta é quem vai entrar neste grupo...”
;; ((lambda (x) x) "Isto é um comentário e não será executado nunca")