Cartas anônimas são a nova arma para impedir o avanço da comunidade no Brasil?
Há algum tempo venho pensando em adotar a prática do
LinuxToday e publicar editoriais no final de cada semana. Sempre faltava o tempo ou o ensejo, mas hoje resolvi dar o primeiro passo desta caminhada vamos ver se vou conseguir fazer durar.
O ensejo surgiu na forma de vários fatos, e vou abordá-los abaixo, para dar oportunidade a todos de comentar e expor sua opinião. Ao final, um convite: que tal participar do Conselho Editorial do BR-Linux? O convite está aberto a todos.
Inclusão de assuntos na pauta
Nas últimas 2 semanas tem havido uma série de manifestações sobre a inclusão de assuntos na pauta. Antes de expor minha opinião sobre o assunto, gostaria de citar algo que consta na FAQ do site:
O BR-Linux é um website mantido por uma única pessoa e sem dúvida é influenciado pelas opiniões do seu autor, portanto sempre leve isto em conta e leia as notícias em outras fontes também antes de formar sua opinião. Dito isto, afirmo que procuro sempre apresentar uma cobertura equilibrada a partir das informações disponíveis na imprensa em geral, na Internet e de outras fontes, incluindo contribuições enviadas pela própria comunidade. Eventualmente estas notícias incluem aspectos negativos ou críticas sobre a comunidade ou parte dela, como é natural. Da mesma forma, determinados assuntos certamente são considerados irrelevantes por parte da comunidade, enquanto outros os apreciam.
Se você acredita que a notícia em questão não é verdadeira, contém erro que justifique sua exclusão (e não apenas correção) ou viola direitos seus ou de outra pessoa, não deixe de entrar em contato (via o formulário no alto da página) expondo as razões ou propondo um novo texto, e analisarei sua posição. Se você acredita que a notícia está incompleta, exponha seu complemento nos comentários! Se você discorda de opiniões expressas na notícia ou acredita que ela não tem relevância ou interesse para a comunidade associada ao software livre, sinta-se à vontade para manifestar sua opinião nos comentários também.
A inclusão de assuntos na pauta não ocorre em detrimento de outros. Não é por que o assunto A foi coberto, que uma notícia sobre o assunto B enviada por algum leitor interessado nele vá deixar de ir para a capa, ou de ser lida por outros interessados.
Dito isto, vamos colocar o dedo na ferida: um pequeno número de leitores parece estar profundamente incomodado por eu não ter varrido para baixo do tapete o comportamento excêntrico do Richard Stallman durante o fisl7.0, por ter dado atenção e divulgação a um fato que 70% dos leitores que votaram na pesquisa disseram não aprovar, e que acabou sendo a razão das únicas menções ao evento em sites como o Newsforge e o Slashdot também questionando o mesmo comportamento. Ocorre que eu acho este fato relevante e digno de nota, consideração, reflexão e debate, e o próprio Stallman não se negou a participar deste debate, expondo claramente sua opinião.
Eu gostaria que a atitude pública do fundador da FSF servisse para atrair cobertura positiva da imprensa em geral, atenção para o nosso movimento por parte daqueles que não o conhecem e para agregar todas as vertentes da comunidade, mas só o que posso fazer sobre esta minha visão é torná-la pública sempre que tenho oportunidade Richard Stallman não me deve satisfações, assim como não precisa prestar contas a mais ninguém, inclusive por seu histórico. E não me furtei a publicar links para todas as outras manifestações sobre o assunto das quais tive conhecimento, independente do seu teor, de modo a não deixar apenas a minha opinião ter voz. Infelizmente, a atitude inclusiva é vista por alguns (felizmente poucos) como excesso de cobertura a um assunto que mereceria menos, mas é o preço que se paga por não cercear a possibilidade de manifestação dos leitores. Torço, aliás, para que no futuro cada vez mais sites da comunidade ofereçam esta mesma oportunidade a seus leitores.
E quem discorda da minha opinião é bem-vindo para questioná-la ou apresentar sua própria, como o próprio Stallman fez (em particular, e depois em público a meu convite), mas as críticas ao fato de eu expor minha opinião destoam do histórico da nossa comunidade.
Microsoft ou não Microsoft?
Não se enganem: a Microsoft continua sendo a nossa principal rival, continua agindo como inimiga dos padrões abertos que não lhe servem, e mal ofereceu algumas demonstrações de interesse (e não de comprometimento) com o código aberto.
Ainda assim, o fato de eles estarem presentes em eventos como o FISL, a LinuxWorld, terem criado e estarem atuando em um laboratório de interoperabilidade com o Linux, e terem incluído o sistema como uma das plataformas suportadas em seus novos serviços de virtualização me faz ter a certeza de que não é mais o momento de procurar ignorar a Microsoft na cobertura do BR-Linux.
Certamente a empresa faz isso por seus próprios interesses, e não a vejo abrindo mão de seus protocolos e métodos proprietários ou tornando livres seus principais projetos. Ainda assim, as iniciativas existentes são interessantes, e merecem ser acompanhadas com atenção (e cautela).
Abri oportunidade para os leitores enviarem perguntas e consegui que elas fossem respondidas por um executivo da companhia no Brasil, recebi oportunidade de enviar uma pergunta ao Bill Hilf (o responsável pelo laboratório de interoperabilidade deles nos EUA) e já o fiz (aguardo a resposta para daqui a uns 10 dias), e vou publicar todas estas respostas.
Pretendo continuar dando atenção ao tema, e os índices de visualização das notícias me dão a certeza de que a maioria silenciosa dos leitores mesmo aqueles que nunca leram a obra de Sun Tzu - também tem interesse em saber o que nosso adversário anda fazendo. Claro que não vou publicar notícias sobre atitudes deles sem relação direta com o software livre, mas não vou me furtar a informar vocês sobre os temas relacionados a nossa comunidade. Estejam à vontade para enviar sugestões de notícias via o link no alto do site, e para criticar as atitudes da empresa de Redmond nos comentários. Havendo interesse, e enquanto meu contato com a empresa no Brasil se mantiver, sintam-se à vontade para enviar a ela seus questionamentos por meu intermédio (usando para isto o link de contato, ali no alto do site). Não posso prometer resposta, mas assumo o compromisso de encaminhar as mensagens.
Aos que não gostam de ver o nome da Microsoft mencionado em sites sobre software livre, mesmo neste contexto, sugiro que simplesmente pulem estas notícias ou que revejam seus conceitos. Restringir-se em guetos, seja por elitismo ou por uma necessidade de isolar-se da competição, nunca foi uma estratégia vencedora.
Carta anônima combina com software livre?
Nossa comunidade é integrada por pessoas e organizações dos mais variados quilates, bandeiras e objetivos. O que vou contar a seguir é um depoimento pessoal, que não pode ser expandido ou complementado devido à natureza da sua fonte. Mas certamente a verdade acabará vindo à tona de alguma forma, ainda que não se torne pública, e tenho certeza de que o tiro, se houve, acabará saindo pela culatra.
O que impede que eu tome alguma outra atitude, que vá além de simplesmente convidar os envolvidos para que saiam das sombras, é justamente a natureza da fonte, pois recebi a denúncia dos fatos que narro a seguir a partir de uma dessas figuras que andam à margem do movimento, fazendo barulho, procurando estar envolvidas em todas as turmas sem se comprometer com nenhuma, levando e trazendo informações como lhes convém, sem tomar atitudes reais que vão além de eventuais ameaças, discursos ou projetos não concretizados, mas sempre dando um jeito de permanecer em evidência. E esta figura, um conhecido que de alguma forma obteve o meu telefone pessoal, telefonou para contar uma série de informações que eu preferiria não saber e deu um jeito de deixar claro que negará tudo se eu levar a público a sua identidade. O que não me surpreendeu, pois não assumir o que diz ou faz parece ser o comportamento da moda.
Vamos às alegações: segundo esta figura, nas semanas que se seguiram ao FISL um conjunto de pessoas teria preparado uma carta anônima denunciando uma conspiração para implodir o movimento do código aberto no Brasil, afirmando que a Microsoft estaria financiando este processo, e inclusive pagando propina a autoridades federais, desenvolvedores livres nacionais, desenvolvedores livres internacionais (esta foi a parte que mais me surpreendeu, pelo nível da paranóia), mantenedores de veículos informativos (de várias mídias) e outros. A carta iria ser enviada a uma autoridade governamental cobrando providências e propondo medidas políticas que prejudicariam os denunciados e acabariam indiretamente por abrir espaço político para seus autores (embora anônimos).
Ainda segundo esta fonte nada confiável, a tal carta afirma que eu seria um dos beneficiados pelas doações da Microsoft, e teria repartido um bolo de R$ 100.000,00 com outros comprados de segundo time os do primeiro time teriam recebido R$ 400.000,00 para dividir entre si.
Eu acho as acusações risíveis, e se tal carta foi mesmo enviada a alguma autoridade, aguardo o convite para me manifestar. Posso falar apenas em meu nome, e afirmo que não aceitaria dinheiro ou outro donativo da Microsoft (ao contrário dos autores da carta, que segundo esta fonte teriam pedido doações à empresa para custear algumas atividades suas recentemente). Não gosto do ato de quem aceita, e não perco oportunidade de explicar como pular os anúncios da Microsoft publicados em outras mídias, por exemplo. Ao mesmo tempo, não viro as costas aos veículos que os fazem: já temos poucas revistas e sites nacionais bem estruturados ajudando a divulgar nosso movimento, e não recuso apoio a nenhum deles, ainda que aceitem patrocínio da MS. Mas mesmo assim acho risível, e duvido que alguém mais acredite, a afirmação de que a empresa esteja pagando ou de outra forma incentivando financeiramente e de forma orquestrada um conjunto de desenvolvedores nacionais e internacionais, sites de notícias (na parte que toca ao BR-Linux, tenho o conforto de poder negar veementemente), autoridades governamentais e outros envolvidos com o software livre no Brasil para que prejudiquem o movimento que os une.
Mas se a Microsoft quiser investir R$ 100.000,00 nesta causa, vou ter o maior prazer em mandar mais uma rodada de e-mails para as entidades nacionais e internacionais que poderiam usar este valor para investir em interoperabilidade ou algum outro projeto que interesse à gigante e à comunidade, perguntando o número das contas correntes destas entidades, e fornecendo-os ao autor da oferta. Mas duvido que ela precise: contando com uma comunidade em que há facções que mandam cartas anônimas com denúncias inventadas contra membros escolhidos aleatoriamente para ver se garantem uma posição para si, ela não precisa gastar tanto dinheiro para nos prejudicar...
Quanto ao agente duplo que me telefonou, por favor não me ligue mais. Procure seu caminho, faça sua parte, mantenha sua boquinha, ou se tiver peito denuncie de forma aberta, mas não tente se esconder atrás de quem tem uma imagem a preservar. Uma dica: ninguém conversa à vontade com quem diz que grava as conversas e reuniões de que participa sem avisar aos demais presentes...
Quanto aos autores da carta, se houve mesmo, estou à disposição para tornar públicas as denúncias, se vocês toparem assinar seu nome sob elas. Podemos aproveitar e já investigar bem mais coisas, incluindo origens, custos e patrimônios de mais entidades transparência é do interesse de todos, e eu teria o maior interesse em gastar alguns dias analisando balanços e comparando com as notas e dispêndios de instituições públicas.
Conselho editorial - convite
Tenho procurado manter o BR-Linux um espaço aberto a todas as vertentes, e muito raramente recuso pautas enviadas de acordo com as instruções constantes no formulário de envio de indicação de notícia e, quando o faço, nunca é por discordar da opinião de quem escreveu o texto.
O processo de seleção de notícias não é aberto, e nem será o BR-Linux é um site mantido por mim e reflete minha visão. Mas eu posso tornar este processo mais sujeito ao escrutínio público, e o farei de uma forma menos comum: através da criação de um Conselho Editorial aberto ao público. O Conselho Editorial será aberto a todos os interessados, auto-governado e sem função executiva a intenção é que possa discutir as pautas e a cobertura do BR-Linux, e propor medidas ou fornecer feedback sobre os acontecimentos.
Estruturei o embrião do conselho na forma de uma lista de e-mail, e os interessados em participar da estruturação dele, ou de seu funcionamento, podem me procurar por intermédio do formulário de contato no alto da página.
E sobre a musa do FISL eu falo outro dia ;-)
ainda bem q nao li o texto inteiro...