“Esta é uma história que, acredito, muitos já conhecem. Mas dado o momento, vale a pena relembrar. Em agosto de 2000 conheci na Linux World, em San Jose, na Califórnia, a equipe que era responsável pelo SourceForge.
O projeto estava começando a tornar-se popular e era a solução para uma série de questões que vínhamos enfrentando no desenvolvimento de sistemas na Univates. Ainda de San Jose liguei para minha equipe e pedi que entrassem em contato com o pessoal do projeto para que implantássemos as ferramentas do SourceForge para o controle de versões de desenvolvimento, distribuição de tarefas, acompanhamento de problemas e, especialmente, para que pudéssemos disponibilizar para a comunidade o código que nós mesmos desenvolvíamos. Uma vez que usávamos ferramentas de código aberto, nada mais justo que disponibilizarmos o que desenvolvíamos da mesma forma.”
“Poderíamos ter optado por hospedar nosso desenvolvimento no próprio SourceForge, mas em função, dentre outras coisas, da disponibilidade de nosso link e da vontade de podermos contribuir com o projeto com a localização para o português, acabamos por instalá-lo em nossos próprios servidores.
Muitas pessoas que acompanhavam nossos projetos sugeriram que abríssemos nosso portal para a hospedagem de projetos da comunidade e, com a autorização da Univates, fizemos isto em janeiro de 2001, através do portal Código Aberto. Em novembro do mesmo ano, uma série de discussões com Richard Stallman, presidente da Free Software Foundation nos levaram a adotar o nome Código Livre para o portal, ainda que o mesmo ainda possa ser acessado pelo endereço original.
Sinceramente, confesso que hoje ainda acho que a discussão em cima da semântica e da importação desnecessária da duplicidade de significados da palavra "free" está aquém do real espírito de compartilhamento e liberdade de acesso ao conhecimento. Aliás, para brasileiros de uma certa idade, como eu, a "Abertura" virou meio sinônimo de "Liberdade" a partir das manifestações por uma "Abertura ampla, total e irrestrita", em voz alta, pelas ruas de nosso país, chamando por uma democracia que já tardava. Hoje, ainda temos que aprender a valorizar melhor não só com nosso voto, mas com a efetiva cobrança e fiscalização de nossos eleitos. Mas isto já é outro assunto...
O Código Livre nunca parou de crescer, apesar dos vários problemas que fomos enfrentando ao longo do tempo. Primeiro era o próprio crescimento na ocupação do hardware, uma vez que já no final de 2001 contávamos com 100 projetos de quase 900 desenvolvedores. Em 2003, com quase 500 projetos mantidos por 3.500 desenvolvedores, a rede da Univates tornou-se inviável para a manutenção do portal e, através de um convênio com a Unicamp, o mesmo migrou para Campinas, onde encontra-se até hoje. Na mesma época desta migração "física", migramos também para a estrutura do gForge, principalmente em função de restrições que passaram a existir na licença de uso do SourceForge.
E o portal seguiu crescendo! Aqui e ali, especialmente eu e o Rubens Queiroz fomos conseguindo alguns investimentos adicionais da Unicamp e da Univates e, mais recentemente, pudemos contar com o apoio da InfomediaTV, HP e Intel. Graças a estes apoios, que traduziram-se na doação de um novo servidor da HP com processadores Intel, é que pudemos migrar os serviços do Código Livre para uma estrutura com maior capacidade para atender aos quase 14.000 desenvolvedores de mais de 3.800 projetos.
Assim, sentindo-me como aquele pai de um filho que já atingiu a maioridade, agradeço a todos os apoios aqui citados, à Univates e a Unicamp por apostarem neste projeto, ao Rubens Queiroz que - se dou-me o direito de ser pai - considero o padrinho desta iniciativa, e à equipe da Solis, a quem agradeço na figura de seu presidente, Junior Alex Mulinari, por todo o esforço de manutenção e migração deste portal, com recursos que sabemos o quanto são limitados. Mas em especial quero agradecer à comunidade de desenvolvimento brasileira, que, mesmo com as dificuldades que enfrentamos, jamais deixou de apoiar o projeto, com elegância e muita paciência, mas sabendo também fazer as críticas necessárias ao aprimoramento deste trabalho.”