Foi disponibilizada na noite de segunda-feira (e deve ser anunciada na terça) a entrevista por telefone que o podcast do IDGNow fez comigo, na condição de fundador do BR-Linux. A sessão de entrevista foi conduzida por Daniela Braun e teve a participação de Guilherme Felitti, repórter do IDGNow.
Gostaria de agradecer o IDGNow pela oportunidade, e parabenizar pela aproximação com os blogs e comunidades tecnológicas no Brasil. Sou grato especialmente pela forma camarada como foi realizada a edição, reduzindo minhas pausas e cortando alguns momentos em que tropecei nas palavras. Seria ainda melhor se editassem minha voz para parecer que tenho voz de locutor e não tenho sotaque catarinense, mas isso já é querer demais ;-)
O ambiente da entrevista em si foi muito amigável, com uma breve sessão inicial de bate-papo (quando ainda estava em off) em que falamos sobre o clima em SP, a minha felicidade de poder manter o BR-Linux a partir de Floripa, e até sobre animais de estimação.
Mas logo em seguida iniciou a série de perguntas e respostas, que se transformou em um arquivo de áudio (formato MP3) de 12 minutos, que (descobri quando já estava gravando) foi ensejada não apenas pela divulgação dos números das vendas de PCs com Linux no ano passado e pela maior conscientização sobre a existência de distribuições fáceis de usar, mas também pelo momento do lançamento do Vista.
Tive oportunidade de expressar minhas opiniões, e a edição as preservou. Você pode
ouvir o resultado no site do Podcast IDGNow, ou ler abaixo um resumo das perguntas e das respostas, se preferir não ouvir arquivos em formatos patenteados ou se (como eu) preferir texto a conteúdos multimídia.
Resumo da entrevista
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Vitória da inclusão digital: Venda de 1,5 milhão de PCs com Linux (incluindo os 530 mil do Computador para Todos) - vitória inquestionável para a inclusão digital, por colocar tantos computadores à disposição de uma fatia menos privilegiada da população, e também um fato novo para o software livre, porque nunca se vendeu tantos computadores com Linux pré-instalado, apesar do grande número de consumidores que não mantêm o sistema original, substituindo por Windows pirata - embora a única pesquisa divulgada sobre o assunto seja de uma fonte questionável.
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Pesquisa da ABES: O final da resposta anterior foi um gancho para o repórter me perguntar sobre a validade da metodologia usada na pesquisa da ABES sobre o número de usuários que substituem o Linux por Windows pirata nos computadores populares, relembrando os questionamentos feitos a ela por um entrevistado anterior. Respondi afirmando que não posso responder pela metodologia da pesquisa, embora preferiria que as conclusões dela estivessem erradas, mas que ao longo de 2 semanas após a divulgação original dela eu usei o alcance da comunidade do BR-Linux para procurar testemunhos que a invalidassem, e não os encontrei, e ao mesmo tempo não vi surgir outras pesquisas que invalidassem seus resultados, como chegou a ser anunciado, o que me leva a acreditar que grande parte dos usuários do Computador para Todos de fato troca o software livre pré-instalado por Windows pirata.
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Entraves ao Linux no desktop do "usuário padrão": a pergunta que nunca pode faltar: quais são as barreiras que impedem a maior adoção do Linux no desktop. Respondi minha opinião, que o desktop doméstico é um alvo móvel e difícil de ser atingido totalmente, inclusive devido a barreiras de entrada que não são intencionais (ou pelo menos não têm como intenção bloquear especificamente o software livre), como os CODECs proprietários de vídeo e áudio que não podem ser incluídos no CD de instalação de distribuições internacionais, a ausência de interesse de produtores de jogos e conteúdos em geral de oferecer suporte a mais de uma plataforma, etc.
O efeito Tostines é complicado: não tem o software porque não tem demanda, e não tem demanda porque não tem o software. Ainda assim, não acredito que o ônus de resolver esse nó não é do usuário final - cabe ao mercado oferecer, eventualmente ao governo fomentar, ou à comunidade deixar claro para este usuário que a sua demanda já está atendida hoje, como a de falar com usuários do MSN, que foi o exemplo mencionado pela entrevistadora.
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Usuário padrão tem interesse em conhecer o Linux? Minha resposta foi que ele quer é ver suas demandas atendidas. Alguns querem navegar na web, outros querem jogar, outros querem editar documentos. Eles não têm necessariamente uma barreira contra o Linux, mas querem fazer tudo que o vizinho já faz com sua cópia pirata do Windows, e não estão muito interessados em justificativas que não passem pelo atendimento pleno da sua expectativa, ou que envolvam tropeçar em barreiras.
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Problemas na configuração padrão de alguns dos computadores para todos: a questão do interesse do usuário levou a este comentário, que não é sobre a (ótima) idéia de oferecer computadores de baixo custo com software livre, mas sim sobre o controle de qualidade da implementação. Mencionei algumas das respostas de usuários que responderam aos questionamentos do BR-Linux sobre a qualidade dos Computadores para Todos que haviam adquirido (portas USB desativadas, gravador de CD que não gravava...), e as repetidas sugestões para que esta questão seja revista. Não é o software livre em si, mas a qualidade da configuração.
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Quais são as distribuições mais fáceis que eu recomendaria ao novo usuário: pergunta difícil de responder sem provocar briga de torcidas, mas pude responder com base nos resultados da pesquisa dos Favoritos da Comunidade, em 2006 e 2005, aproveitando para falar sobre o suporte ao nosso idioma, a existência de comunidades ativas, a facilidade de fazer download e até mesmo de usar como Live CD, embora eu não tenha usado estas mesmas palavras técnicas ;-)
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Windows Vista tem recursos que o Linux não tem? A minha resposta tendia ao óbvio, mas foi apresentada mesmo assim: todo sistema operacional tem diferenciais, e eu não costumo compará-los, acho que cada usuário deve fazer a sua escolha baseado em seus critérios (os meus levam ao software livre). Ainda assim, é claro que o Vista tem características que o diferenciam, da mesma forma que o Linux também tem.
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Se eu cheguei a usar o Windows Vista - Não, mas pretendo, tenho curiosidade de conhecer.
Perguntas rápidas:
- Quem é mais importante no mundo da tecnologia, Linus, Gates ou Jobs?
- Que sistema operacional roda em meu computador?
- Se eu já usei Windows, e em qual situação
- Se eu já me vi obrigado a usar um software proprietário
- Qual software proprietário eu uso por opção
- Linux é uma religião?
E assim terminou a sessão.
Muito massa, mandou bem!