Em uma recente análise de laboratório, ainda não publicada, de um PC popular aqui no BR-Linux, recebi o equipamento a meu pedido - com o disco rígido vazio, ao contrário do que ocorre com os que são comercializados no varejo, que vêm com o Metasys Linux. Minha intenção era analisar apenas o hardware, mas a oportunidade de analisar uma distribuição típica dos PCs populares brasileiros não poderia passar em branco.
Assim eu pedi à empresa que cedeu o equipamento para análise (a
Ilha Service) que me colocasse em contato com a mineira
Metasys para agilizar o teste, e em poucos dias recebi pelo correio um DVD oficial com o Metasys 2.0 - a versão mais recente do sistema, juntamente com a chave de registro, necessária para ter acesso aos serviços de suporte e atualização do software.
A conclusão, que detalharei a seguir, é que os usuários dos PCs populares com Metasys têm acesso a um desktop que em sua configuração default é bastante funcional e completo (para um PC popular), com os aplicativos básicos necessários, bom suporte a multimídia e bom reconhecimento e suporte a hardware. Trata-se de uma distribuição fortemente derivada do OpenSUSE (89% dos seus pacotes vieram diretamente de uma árvore de desenvolvimento do OpenSUSE 10.2, sem alterações) e que traz consigo uma forte herança no desktop, portanto.
Ao mesmo tempo, trata-se de um conjunto de pacotes não tão recente quanto a maioria dos usuários de software livre está acostumado a esperar: 89% dos softwares da versão corrente da distribuição foram empacotados até agosto de 2006, e mesmo assim não há nenhuma atualização disponível no serviço de atualizações provido pela própria Metasys, o que gera preocupação não apenas pelas novas funcionalidades que deixam de ser incorporadas ao produto, como também pela segurança do desktop de seus usuários.
A questão das atualizações foi discutida com a própria Metasys ao longo desta análise, e os resultados destas discussões serão apresentados ao longo do texto.
Leia
a análise completa.
Usando o Metasys 2
Passei alguns dias usando apenas o Metasys 2 para realizar a maior parte de minhas tarefas (exceto as que exigiam acesso autenticado via web, por razões que detalharei adiante). O sistema é todo baseado no OpenSUSE, um desktop renomado, e portanto herda bastante usabilidade por default. Para completar, há documentação em português provida pela própria Metasys (um manual em PDF acessível via menu e via desktop) e muitas opções e aplicativos expostos claramente no desktop do KDE.
Há também configurações raramente encontradas em distribuições internacionais, e que devem ser valorizadas. Isto inclui o suporte a alguns modems on-board comuns para acesso a linha discada, e opções de configuração de discagem (via KPPP) pré-instaladas para 4 provedores de acesso populares: IBest, Click21, Oi e iG.
Os ícones no desktop identificam os aplicativos pelo seu nome, e não pela função. Assim, o usuário de PC popular com Metasys precisa dar um jeito de descobrir que o ícone de um lobo azul, cujo título é Amarok, corresponde a um tocador de áudio, enquanto que o ícone de uma elipse dourada, cujo título é Kaffeine, corresponde a um tocador de vídeo. Os nomes e ícones escolhidos pelos projetos livres não são responsabilidade da Metasys, mas fica a sugestão de que em edições futuras de seu produto, quando o público-alvo não forem os entusiastas do software livre, os atalhos no desktop sejam identificados pela sua funcionalidade.
Um ponto bastante positivo para usuários domésticos em geral é que as configurações de multimídia para algumas tarefas usuais "simplesmente funcionam" (praticamente o melhor elogio para aplicativos voltados ao usuário não-técnico). Isso inclui aquela tarefa que mais raramente está presente em distribuições internacionais: a exibição de DVDs comerciais. Bastou inserir um DVD da 6a. temporada do seriado Arquivo X, e ele foi imediatamente reconhecido, e o player (o kaffeine, no caso) começou a exibi-lo.
O mesmo aconteceu com os arquivos de vídeo que eu usei nos testes (com extensões AVI, MPEG e WMV): todos funcionaram sem nenhum tropeço. Já com os arquivos de áudio MP3, houve sim um tropeço: eles foram abertos por default no Amarok, que por alguma razão não os executou (e nem gerou nenhuma mensagem de erro). Quando optei por simplesmente deixar o Amarok de lado, forçando a abertura dos arquivos no Xine, eles tocaram normalmente. A questão de configuração do Amarok certamente é fácil de resolver para qualquer usuário experiente de Linux, mas provavelmente poderia ter sido evitada.
O OpenOffice é o 2.0.2 Novell Edition, e se ele não tem os novos recursos incluídos nas versões mais recentes desta suíte de aplicativos, certamente pode ser usado sem maiores dificuldades para as típicas atividades domésticas. O próprio OpenSUSE 10.2, no qual o Metasys 2 se baseou, incluiu em sua versão definitiva o OpenOffice.org 2.0.4.
Entre os aplicativos básicos incluídos no Metasys, acredito que o problema mais sério está no Firefox, cuja versão instalada é a 1.5.0.7, de setembro do ano passado. O Firefox já foi alvo de um grande upgrade desde então, com o lançamento do Firefox 2.0 (que ocorreu ainda antes do lançamento do Metasys 2), e a versão 1.5.0.7 expõe seu usuário a uma série de riscos conhecidos e já resolvidos pelos desenvolvedores e a maioria dos distribuidores. Oferecer um ambiente de navegação seguro é importante para todos os usuários, especialmente para aqueles que navegam livremente pela Internet e ocasionalmente acessam sites de bancos - e manter instalado o Firefox 1.5.0.7 não é uma forma de alcançar a segurança na navegação.
Um avanço do Metasys 2.0 em relação à sua versão anterior, que era baseada no Fedora, é que agora o usuário recebe na tela um aviso quando conecta um pen drive (ou o cartão de memória de sua câmera digital) ao computador, e este aviso oferece a ele várias opções sobre o que fazer. Na versão anterior, o sistema se limitava a criar um ícone dentro de um ambiente especial (nem mesmo era no desktop), potencialmente confundindo os usuários.
Um retrocesso, por outro lado, está relacionado ao suporte a teclado multimídia. O teclado do PC Legal que o BR-Linux recebeu para os testes tinha suas teclas especiais (para abrir calculadora, e-mail, navegador, etc.) suportadas por default pelo Metasys anterior, e elas são ignoradas pelo Metasys 2 em sua configuração default (a Metasys informa que o fabricante só homologou o teclado com o Metasys 1). Em compensação, o botão de scroll do mouse do PC Legal era ignorado pelo Metasys 1, e agora funciona bem.
Não tive qualquer problema com a configuração de vídeo, áudio ou rede local.
Origem dos pacotes: 89% OpenSUSE beta + 11% de modificações
Do ponto de vista do conjunto de pacotes incluídos na distribuição, o Metasys toma como base o OpenSUSE 10.2 (lançado em dezembro de 2006). Mas as informações dos pacotes deixam claro o seu histórico: o mais recente dos pacotes originais do OpenSUSE incluídos na distribuição foi empacotado pelos desenvolvedores originais em outubro de 2006, praticamente 2 meses antes da data em que esta versão do OpenSUSE foi lançada, o que leva a crer que o Metasys é uma obra criada a partir de uma versão preliminar (2 meses antes do lançamento) do OpenSUSE 10.2.
E a extensão desta herança merece ser descrita com clareza: o sistema instalado em meu computador tem 867 pacotes RPM, dos quais 771 foram assinados originalmente pelo projeto OpenSUSE e não foram modificados. Trocando em miúdos, 89% dos pacotes do Metasys foram empacotados diretamente pelos desenvolvedores do OpenSUSE, enquanto eles avançavam rumo ao desenvolvimento do OpenSUSE 10.2, e incluídos diretamente no Metasys, sem alterações.
Mas as alterações realizadas pelo pessoal do Metasys foram importantes também: o produto conta com algumas adições que o tornam bem mais próximo dos desktops populares brasileiros, especialmente na área de suporte a hardware (modems comuns no Brasil, por exemplo), multimídia (inclusão de CODECs diversos, aplicativos adicionais, suporte a DVDs comerciais...), fontes true type adicionais, softwares não-livres comuns (como o Flash Player) e provedores de internet nacionais (Click21, ibest, oi e ig), além da documentação, contratos, licenciamento.
Há uma série de modificações que evidenciam a intenção de remover também as referências mais óbvias e diretas ao "branding" (logos, referências e similares) original do projeto OpenSUSE, e para incluir o "branding" do Metasys. O sistema de atualização de pacotes da SUSE também foi desativado e substituído pelo da própria Metasys.
Se você tem o Metasys instalado, experimente digitar "rpm -ql atualiza" para ver uma lista de arquivos básicos do OpenSUSE que são sobrepostos pelo pacote atualiza.rpm apenas após a instalação do Metasys Desktop, de forma a não precisar alterar o arquivo RPM empacotado originalmente pelo OpenSUSE. Uma lista bem mais interessante: digite "
rpm -qa --qf '%-20{NAME} %{BUILDTIME:day} %-25{BUILDHOST} %{PACKAGER}\n' | sort -k6 | grep -v suse" para ver a lista de todos os pacotes que não vieram diretamente do projeto OpenSUSE, incluindo aqueles obtidos em repositórios da comunidade e os empacotados (ou alterados e reempacotados) pelo pessoal da Metasys. Tem até um pacote atribuído ao Avi Alkalay, da IBM Brasil!
A idade dos pacotes instalados conta pontos contra a segurança do Metasys. Por exemplo, o Firefox 1.5.0.7 já foi atualizado pelo OpenSUSE original para
corrigir uma longa série de bugs - os quais continuam presentes na versão distribuída e não mais atualizada pela Metasys. Mesmo que o usuário do sistema tome todos os cuidados e use o computador apenas para navegar na Internet, com linha discada, ele ainda estará em risco a cada vez que usar seu navegador para entrar em um site desconhecido.
Segundo os metadados da base de dados RPM da distribuição, a maioria dos softwares empacotados pela própria Metasys foi fechada até novembro de 2006, com alguns poucos retoques (em apenas 3 pacotes) em fevereiro de 2007 - por alguma razão, aparentemente a distribuição foi concluída e ficou mais de 2 meses guardada até ser publicamente lançada, e não tem atualizações disponíveis desde então.
Ao longo da produção desta análise entrei em contato algumas vezes com representantes da Metasys, enviando perguntas a respeito da ausência de atualizações disponíveis para pacotes que já contavam com correções de segurança disponibilizadas por seus desenvolvedores, recebendo a resposta de que realmente não havia esta disponibilidade, mas que os usuários que desejassem fazer atualizações de pacotes em intervalos mais curtos de tempo do que os praticados pela Metasys, podem baixá-los diretamente dos sites dos desenvolvedores e fazer as atualizações manualmente, recorrendo ao suporte da empresa caso haja dúvidas.
Ao final da análise entrei em contato novamente a respeito do mesmo tema, expondo minhas observações, e recebi do diretor técnico da Metasys, Antônio Augusto da Silva, a informação de que a empresa iria oferecer aos seus clientes uma resposta às questões levantadas, produzindo rapidamente uma nova versão do Metasys 2, atualizando principalmente o Firefox e patches de segurança.
Panorama do produto - de onde vem e para onde vai
A versão inicial do Metasys era baseada no Fedora Core, e a transição para uma base OpenSUSE ocorreu na versão 2 do produto - exatamente a que foi objeto deste teste. Segundo informou ao BR-Linux o diretor executivo da Metasys, Carlos Alberto Senna de Lima, o Metasys 2, que está no mercado desde novembro de 2006 e até hoje, foi uma resposta à demanda de clientes que clamavam por melhorias no Metasys 1, mas foi desenvolvido em paralelo ao envolvimento da Metasys com uma distribuição para o Classmate PC, e desde o princípio havia o plano de lançar uma versão aprimorada - o Metasys 2.1 - só em 2007.
Ainda segundo ele, o Metasys 2.1 já está saindo do forno, e corrige os pontos mencionados nesta análise. Os planos da empresa incluem para breve mais um componente na linha baseada no OpenSUSE, mas voltado especialmente para o crescente mercado de notebooks.
Concluindo
Usuários de PCs populares com o Metasys 2 têm à sua disposição um desktop moderno e funcional, equivalente ao que usuários de Linux em geral (e entusiastas do OpenSUSE em particular) podiam dispor em outubro de 2006, até o momento sem possibilidade de atualização pelos recursos da própria Metasys.
Estes desktops oferecem as funcionalidades básicas necessárias para atividades de escritório doméstico (edição de textos, planilhas eletrônicas, etc.) e multimídia (inclusive filmes em DVD). Ao mesmo tempo, no que diz respeito à conectividade, é melhor aguardar a empresa lançar uma atualização de seus pacotes, ou no mínimo
atualizar manualmente o Firefox tão rapidamente quanto possível, antes de realizar outras navegações na Internet.
O atendimento de suporte é rápido, cortês e pessoal, embora os serviços sejam oferecidos apenas a quem dispõe de um número de registro do produto - e as atualizações de pacotes do Metasys 2 até o momento sejam inexistentes.
Talvez tenham melhorado, mas tem o agravante de ser baseado no Su$e No Thanks !!
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Popolon Y2k
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