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Filme aberto une arte, história e independência tecnológica

Enviado por Marcelo Soares Souza (marceloΘjuntadados·org):

“Conheça a história do documentário curitibano “Um Olhar Contestado”. Feito com técnicas de animação e com softwares livres, o curta retrata uma guerra pouco conhecida no Brasil.

Imagem em movimento. Essa é uma famosa definição de cinema, mas, no caso do documentário “Um Olhar Contestado”, significa muito mais. O movimento em questão não é só dos quadros, mas o movimento por descobertas tecnológicas e independência de produção. Para construir um curta-metragem em animação sobre o episódio histórico, o Projeto Contestado está sendo desenvolvido todo em software livre com a meta de ser um filme aberto, baseando-se nas experiências de produções como “Elephants Dream” (primeiro filme open source do mundo) e “Big Buck Bunny”.

Os cineastas Fernando Severo e Fabianne Balvedi são os diretores do curta produzido em Curitiba, que terá entrevistas, fotografias e técnicas de tabletop (permite animar recortes de papel sob a câmera) e rotoscopia (redesenhar quadros para animar) – essa última consagrada pelo filme “Waking Life”, de Richard Linklater. O formato aberto do projeto pretende fomentar a cultura livre nas produções brasileiras, documentando o processo de realização na rede e disponibilizando todo o material bruto, soluções técnicas e arquivos gerados, incluindo a versão final do curta.

Durante os quatro anos da Guerra do Contestado (1912-1919), morreram cerca de 20 mil pessoas, o equivalente a um terço da população de Santa Catarina à época. A guerra ocorreu entre camponeses e governo, em uma região rica em erva-mate e madeira disputada por Paraná e Santa Catarina. O combate teve início após a conclusão das obras do trecho catarinense da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, quando o governo declarou a área devoluta, como se ninguém ocupasse aquelas terras.

Três décadas e uma história de liberdade tecnológica: Nos anos 80, Fernando Severo já tentava filmar a Guerra do Contestado. Neto de um dos personagens de destaque do conflito e nascido em Caçador (SC), região do epicentro do conflito, o cineasta deixou de lado o projeto por quase trinta anos, até assistir uma animação de Fabianne. Somente a partir desse encontro, o vencedor de mais de 50 prêmios nacionais e internacionais de cinema conseguiu dar início à empreitada fílmica.

“Chamou a minha atenção um trabalho que ela fez chamado Metamorfose, uma adaptação do conto de Franz Kafka. Quando propus realizarmos o filme em conjunto, uma das primeiras coisas que ela mencionou foi o software livre. No começo, fiquei meio temeroso que ele não desse conta, mas ela me convenceu e estamos confirmando agora que o software livre é capaz de fazer tudo aquilo que os softwares pagos são capazes, na mesma qualidade”, comentou Fernando.

No caminho das pesquisas, uma descoberta mudou mais uma vez o rumo da história. Após ler sobre o projeto, o neto do fotógrafo Claro Jansson procurou os realizadores para oferecer um vasto registro fotográfico do conflito. Muitas das fotos desse aventureiro sueco, que percorreu sertões com uma câmera quando essa era uma novíssima tecnologia, são usadas sem o devido crédito. Para fazer justiça com a obra de Jansson e deixar o documentário mais espontâneo, os diretores decidiram mudar a narrativa do filme: a estética e o ponto de vista passaram a ter como base as fotos do emigrante, assim como a narração passou a ser feita a partir do relato de quatro entrevistados.

Ferramentas livres: As quatro horas de entrevista gravadas com a filha e o neto do fotógrafo, Dorothy e Paulo; com o sociólogo Rafael Bezerra; e o historiador Nilson Fraga foram editadas no software Cinelerra. A próxima etapa engloba a animação das fotos diversas que passarão por rotoscopia no Gimp, e os tabletops com a câmera do software Blender sobre as imagens do fotógrafo sueco, que não sofrerão alterações.

Ao final do projeto, será utilizada a grande descoberta técnica do filme, que é a autoração dos DVDS. Somente após muitas pesquisas, a equipe aprendeu uma forma de autorar em Linux, sendo que o aprendizado recebeu um post com ares de ‘eureca’ no blog do projeto, hospedado no portal Estúdio Livre. Para a cineasta e professora Fabianne Balvedi, o benefício de usar softwares livres no filme é imensurável: “A verdade é que se você não procura soluções mais éticas, nunca alcança um ponto de real autonomia em relação ao uso de tecnologias no Brasil, e não só no setor audiovisual”, defendeu Fabianne.

Produtividade x Independência: Para além das comparações de produtividade entre soluções abertas e fechadas, Fabianne mostrou que as dificuldades sempre existem e que as escolhas de trabalho têm implicações maiores do que a velocidade de produção.

“Eu tenho frustrações como qualquer usuário de software proprietário tem, pois esses também travam. Quando você está fazendo coisas simples no Linux, a cadeia produtiva é tranquila e demora mais se você está em busca de algo que ainda não foi feito. Mas não acho que as cadeias devam competir, por exemplo, Blender com Maya. Acho até ridículo, pois os dois têm objetivos, métodos e filosofias diferentes. Tem lugar para todos e é saudável existir sempre alternativas; se não, ficamos na mão de monopólios”, argumentou.

Os relatos da pesquisa, descobertas e curiosidades da produção podem ser conferidos no endereço [contestado.org./…] O curta foi aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba e deve ficar pronto no próximo semestre.” [referência: serpro.gov.br]


• Publicado por Augusto Campos em 2012-06-29

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