Hardware compatível com a FSF: conhecendo os critérios
A FSF anunciou, na semana passada, um programa de certificação que vai conceder um selo “Respeita sua Liberdade” a computadores e outros dispositivos que sigam os critérios definidos pela entidade.
Essas definições ainda não estão completas, e o anúncio inicial foi realizado na intenção de buscar feedback sobre o conjunto preliminar de critérios, e gerar interesse no programa entre fabricantes de hardware.
As definições vão desde as que parecem óbvias, como só incluir no produto softwares que sejam livres, até outras que podem ser surpreendentes, como a exigência de, nas comunicações sobre o produto, dar mais destaque à expressão “free software” do que “open source”, e adotar a expressão GNU/Linux no sentido preferido pela FSF.
A aplicação de conceitos de liberdade a este tipo de política provoca minha reflexão há algum tempo, e isso me motivou a investigar mais detalhadamente os critérios definidos para hardware que “respeita a sua liberdade” – desde o suporte a formatos livres, até a proibição de mencionar determinadas iniciativas concorrentes.
O resultado, em caráter descritivo, eu publiquei no meu post de ontem no DeveloperWorks.
“vocabulário aprovado: o fabricante deve usar terminologia aprovada pela FSF para se referir às atividades da Fundação, em todas as manifestações e publicações relacionadas ao produto, incluindo embalagem, manuais, websites, materiais de marketing, e entrevistas sobre o produto.”
Tá de sacanagem né?
“Respeita sua Liberdade”, desde que só fale bem da FSF e concorde com todas as opiniões de seu líder…
Incluindo usar o nome alterado de um produto só porque seu autor/distribuidor usou código liberado pela GPL (licença que não obriga os autores de projetos derivativos a fazer isso).
Gostei de ver, não sei quantos fabricantes vão aderir ao selo (acredito que pouquíssimos, a menos que tenham muito a ganhar com isso), mas eu não me surpreendi com nenhuma das exigências e achei interessante o @Augusto reconhecer que esse tipo de exigência é prática comum no mercado.
Quanto a reflexão augustiana (ou será augustina?) em relação ao conceito de liberdade ser aplicado a esse tipo de “contrato”, eu diria que está na linha de atuação da FSF, de montar amarras para que a liberdade não possa ser suprimida.
O ser humano está condenado a ser livre.
Jean-Paul Sartre
“até a proibição de mencionar determinadas iniciativas concorrentes.”
Não vi nada de estranho, ou mesmo polêmico.
Se uma entidade vai dar seu endosso, é o nome dela que está em jogo.
Não vi absurdo algum dos critérios, são focados no objetivo da FSF: liberdade de software.
E nesse sentido outros selos acabam por ser conflitantes. Até mesmo o termo “Open Source” é polêmico. Pode ser o “Open Source” do Eric Raymond, mas também o tal “Open Source” que a Microsoft diz amar.
Poucas empresas devem procurar esse selo. Então quem procurar deve estar realmente interessado.
Então como sempre, existe a liberdade suprema: não participar. Como o próprio post diz, existem vários selos para ganhar. Alternativas ! :)
Ridículo. Assim como a maioria das ações da FSF. A ideia do selo é até bacana, mas a turminha extremista do stallman sempre tem que zuar o negocio….
@EmanuelSan: montar amarras para que a liberdade não possa ser suprimida. Sua frase resume bem a “liberdade” que a FSF prega.
Gostei do item 7: não proíbe de suportar formatos restritos, desde que dê suporte a formatos equivalentes que sejam livres.
Embora o termo “equivalente” seja vago.
O item 10 eu sou contra. Ter o selo exclusivo da FSF você não pode ter selo de compatibilidade com ninguém mais? Isso cai no maniqueísmo de bem contra o mal.
O item 11 é uma forma de tentar fixar as nomenclaturas que eles defendem. A princípio não teria nada demais, mas não sei o problema quando algum software livre usa outra nomenclatura.
Acho que vou ter um troço de tanto rir vendo esse playmobil
@Paul, não deixa de ser uma forma de promover a liberdade, garantindo que produtos livres promovam produtos livres, começando pelo hardware.
@MarcosAlex, não entendi assim o item 10. Se o cara vai vender um hardware com o selo, não poderá sapecar outros selos considerados concorrentes pela FSF. Qual o problema? E o que isso têm a ver com a dialética do bem contra o mal? Nada impede que o mesmo fabricante promova outros produtos com outros selos, só não pode misturá-los. Veja isso como prática comum de mercado e me diz pq vc é contra a FSF adotar as mesmas práticas?
Incluindo usar o nome alterado de um produto só porque seu autor/distribuidor usou código liberado pela GPL (licença que não obriga os autores de projetos derivativos a fazer isso).
Falácia do espantalho: é mais fácil distorcer um fato para refutá-lo que refutar o próprio fato, não é, “Copérnico Vespúcio”?
O fato de a FSF chamar o sistema operacional de GNU/Linux não tem NADA a ver com a licença adotada. O Linux (kernel) poderia ter licença BSD que ainda assim o sistema operacional com as ferramentas seria o GNU/Linux. O “GNU” se refere ao nome do conjunto, que é o sistema GNU, do projeto GNU, que o Stallman idealizou e começou a fazer em 1984.
Aliás, não sei como ainda tem gente hoje que pode advogar dizer “Linux” ao invés de “GNU/Linux”, visto que isso resolve definitivamente a confusão quando se diz que o Android é um “Linux”, o Meego também. O Meego é GNU/Linux enquanto o Android apenas Linux com outros softwares.
Qdo li a notícia sobre a iniciativa da FSF, achei muito interessante por acreditar que seria uma forma bastante eficaz de propagar as ideias do software livre, sobretudo o GNU/linux. Mas agora, com este detalhamento, não consegui me libertar de uma dúvida: com estas restrições de HW associadas as de SW, os fabricantes só poderiam usar as distros recomendadas pela FSF? Ou teriam que criar suas próprias distros? Se optarem por modificar distros populares, não teriam problemas com mantenedores de algumas delas?
Respeito os pontos de vista da FSF, mas esta medida me parece muito restritiva pois termina interferindo em boa parte da grande cadeia de produção do HW (por motivos de custo, praticamente todas as empresas apenas montam os equipamentos e copiam drivers), possivelmente gerando um efeito cascata que desembocará num produto mais caro para o usuário final.
Olhando pelo lado do consumidor, pq ele compraria um produto mais caro que não possui alguns recursos(SW ou HW) que ele usa/reconhece?
É claro que esta iniciativa da FSF sugere mais uma materialização de uma filosofia para compartilhamento com seus adéptos do que propriamente uma fonte de lucros. Só espero que de fato algum fabricante se interesse para podermos analisar os resultados daqui a algum tempo.
E olhando por outra via, esta ideia parece muito boa para propagar linux de uma forma geral (semelhante a da Apple). Será que a Canonical não se interessa? ;-)
“Se o cara vai vender um hardware com o selo, não poderá sapecar outros selos considerados concorrentes pela FSF. Qual o problema? ”
O problema é que se meu hardware for compatível com a FSF ele não vai poder ter selo de compatibilidade com Windows ou com Mac, mesmo sendo compatível.
Isso é ridículo, eu vou ter de ter um hardware pra cada SO? Com o tamanho do mercado do Linux, se o fabricante tiver de escolher um selo pra certificar seu hardware, o Linux vai continuar sendo preterido.
O fato de a FSF chamar o sistema operacional de GNU/Linux não tem NADA a ver com a licença adotada… blah blah blah
Não… Não vamos iniciar aqui uma discussão sobre esse assunto, ele já foi mais que debatido (de forma sempre infrutífera) aqui e em muitos outros foros mundo afora.
Mas percebendo que escrevi muito resumidamente, permita-me só usar algumas palavras a mais para esclarecer o ponto de vista:
Imagine que eu escrevi um software interessante chamado, digamos…, “Texugo Ninja”. Eu achei interessante para o meu software usar todo ou parte do código de um software de sua autoria, o “Flamex”, que foi licenciado sob a GPL.
De cara, isso faria com que a licença do “Texugo Ninja” tenha de ser também GPL. Sem problemas, esse era meu plano inicial mesmo. Percebo que a GPL não me impõe nenhuma obrigação adicional além de garantir as quatro liberdades.
Eu então lanço minha obra na comunidade e o “Texugo Ninja” começa a fazer sucesso. Daí vem você dizendo que o meu projeto deveria se chamar “Flamex/Texugo Ninja” porque usa código do seu projeto. Preocupado, eu releio a licença do “Flamex” e novamente não encontro nada que me obrigue a isso.
Resultado: a) Posso atender sua solicitação/imposição se e somente se estou de bom humor e for camarada com você. b) Me reservo o direito de te ignorar solenemente.
Basta substituir os nomes e aplicar o exemplo no contexto que quiser.
Estou falhando em entender como isso pode ser qualificado como distorção dos fatos, acredito que o fato seja simples demais para ser distorcido.
No entanto, em tempo: Esse é um tema já batido e debatido e tem importância apenas marginal para o tópico em questão. Continuar com isso é merecer uma moderação “Fora do Tema” muito justa. Então vc. pode retrucar, reclamar, me xingar e tudo o mais que estiver a seu alcance, mas não espere muita atenção da minha parte.
Sim, esse sou eu. Cya!
O hardware da FSF só será compatível com Mac ou Windows se for x86 ou PowerPC.
O resto não é compatível, só GNU/Linux que é portável.
Não só GNU/Linux, mas GNU/FreeBSD, GNU/Hurd…
Acho que esse caso específico não esgota a questão de compatibilidade de plataformas, Julia. Uma coisa é um hardware qualquer ser capaz de rodar um determinado sistema operacional, e outra é ser compatível com ele.
A compatibilidade de uma scanner, um pen drive ou um access point com um dado sistema operacional independe de estes equipamentos serem construídos na mesma plataforma de hardware, ou mesmo de serem, eles mesmos, capazes de rodar este sistema operacional.
Um equipamento periférico (exemplo: servidor NAS, impressora, roteador, etc.) pode ser construiído em variadas plataformas embarcadas, e rodando em si próprio apenas softwares livres, e mesmo assim ser plenamente compatível com vários outros ambientes operacionais, livres ou não.
Mas @Copérnico, não me lembro de ver suas argumentações nas discussões recentes sobre isso. Acho que vc deveria (re)lê-las.
Achei sua história falha, pois os produtos não se chamam “Texugo Ninja”(Linux?) e sim: Ubuntu, Debian, Fedora, Android,… E nunca li nada sobre contestações em cima destes nomes.
Realmente. Melhor não vou repetir aqui todas as argumentações, mas eu acredito que em discussões passadas, ficou claro a necessidade de uma denominação para diferenciar os casos do Android e do Debian, quando este não vem com kernel Linux.
Mas digamos que vc seja das pessoas que dizem que chamam do que quiser, vc pode chamar de Linux e eu posso chamar de Laranja, mas a FSF foi esperta em não querer discussões, é muito simples: quem quiser ter o selo da FSF terá que chamar os produtos com a terminologia da FSF, não têm discussão, não têm polêmica, não têm argumentos, não importa o que eu acho ou o que vc acha, o que é justo ou injusto, certo ou errado. Isso vale para o @MarcosAlex tb.
@MarcosAlex, é quase certo que um computador comum (Intel / AMD / etc.) que rodar um SO livre tb rode algum Windows ou talvez até MacOS (pq não?) mas o fabricante que aderir ao selo não vai poder mecionar essa compatibilidade na forma de selos concorrentes. Eu até chutaria que para ter o selo da Microsoft deva haver regras semelhantes, por isso não acho injusta as restrições.
A adesão dos fabricantes é uma grande incógnita, eu acho que será baixíssima. Mas a possibilidade de funcionar vale a criação do tal selo. Pensem nas licitações de PCs pelos governos, se ouver menção a este selo haverá motivo$$$$ para fabricantes quererem obtê-lo. Por isso achei a ideia muito interessante.
De fato, vc. tem um ponto. Já participei de muitos debates inflamados sobre esse assunto por aqui, mas isso foi em 2008 (é fiquei um tempo sem postar…)! Porém eu tenho a nítida impressão de que a essência da coisa não mudou muito. Ao menos não para o Stalman que continua fazendo a mesma exigência ano após ano…
Embora sim: creio que a plataforma Android acrescenta mais uma riqueza ao assunto.
Aí é uma questão de nome completo, @EmanuelSan! O Debian por exemplo se chama Debian GNU/Linux, que está de acordo com o desejo da FSF.
Em relação a esse selo, vou ser bem curto e grosso: considero muito mais uma jogada de marketing da FSF para granjear mais visibilidade, do que uma intenção de beneficiar a sociedade. A idéia por si só é ótima, a implementação dela é que considero ruim, posto que acompanha exigências que não reforçam o conceito defendido mas a importância da própria Fundação.
@Copérnico, além do Android não ser um GNU/Linux, tem o Debian, que é GNU sempre. Daí oferece opções com kernel Linux, FreeBSD, OpenBSD e Hurd. Acho que a nova realidade fará vc ver que existe a necessidade de algum nome para diferenciar, assim como a Debian sempre reconheceu, portanto GNU/Linux, que a base do sistema, é a minha sugestão tb. Obs.: aquele argumento de que têm Gnome, KDE, XFree, etc. não cola, pois são opcionais.