Editorial: Você deve deixar de ir à LinuxCon por causa do keynote do “cara da Microsoft e SCO”?
O Ricardo Bánffy, que talvez vários de vocês conheçam do WebInsider e de palestras (e que, se entendi bem, não estará na LinuxCon) achou o tema importante o suficiente para dedicar a ele o post “Por que você não deve deixar de ir à LinuxCon só por causa do keynote do Sandy Gupta“, trazido à minha atenção pelo @marrcandre, via Twitter.
Fig. 1 – Trecho da declaração de Sandeep Gupta em favor da SCO e contra o Linux
Sugiro que você leia o texto completo do Ricardo, mas vou resumir a preliminar: um dos keynotes da LinuxCon no Brasil vai ser do Sandeep Gupta, que talvez vocês lembrem como o então funcionário da SCO que em 2005 declarou em juízo que havia código da SCO no Linux (ver trecho em inglês acima), mas hoje consta na programação do evento como Director, Platform Strategy, Microsoft.
Aparentemente, segundo o relato do Ricardo, há quem esteja deixando de ir ao evento por causa disso. Pessoalmente eu não deixaria de ir a um evento só porque a Microsoft o patrocina (ela é patrocinador Platina, a maior cota disponível, juntamente com a Globo e Intel) e se faz visível, até porque – como o Ricardo documenta no seu texto – essa empresa já usou no passado o expediente de se fazer presente e visível em eventos de plataformas concorrentes (os exemplos citados são de eventos de Mac OS) para esvaziá-los, então deixar de ir por se sentir insultado pela presença do Gupta em lugar de destaque e com uso da palavra pode ser exatamente o que ele espera de você.
Concordo, portanto com o Ricardo quanto a não achar que a resposta mais certa (para quem tem interesse no evento) deva ser deixar de ir por causa da presença indesejada do Gupta.
Mas discordo do Ricardo em outro ponto: também como opinião pessoal, não vejo grande graça em ir lá e dar visibilidade adicional ao cidadão com o ato de hostilizá-lo publicamente ou desafiá-lo com perguntas para as quais ele se preparou sobre como não responder. Acredito que a melhor resposta que quem aceitou colocá-lo lá poderia receber, por parte de quem tem interesse no evento, é nessa hora ver o auditório vazio da presença do público bem-informado sobre o Linux, com corredores cheios de pessoas envolvidas em atividades paralelas e ostensivamente ignorando a presença indesejada – e, se possível, capazes de atrair o interesse até dos desinformados, para informá-los.
Ou seja: se fosse para ir lá e dar visibilidade adicional à situação adversa, e ainda gerar manchetes habilmente sopradas à imprensa semi-especializada, no estilo “extremistas mal-agradecidos atrapalham palestra internacional do patrocinador bem-intencionado“, aí eu classificaria isso como uma vitória de quem o colocou lá, e realmente preferiria ficar em casa (como aliás ficarei, mas não por causa do Gupta, que felizmente não tem o condão de definir meus itinerários).
De uma forma ou de outra, claro que a decisão de ir ou deixar de ir é pessoal de cada possível interessado no evento, assim como a do que fazer caso vá até lá. Mesmo sabendo que não faltará quem discorde da minha visão sobre o assunto, acreditei que valia a pena trazer o tema à discussão.
O espaço do BR-Linux, portanto, está aberto para as opiniões de vocês. Sabemos que os organizadores do evento são leitores do BR-Linux, portanto os comentários de vocês provavelmente chegarão a eles diretamente – mas se necessário me encarregarei de encaminhá-los ao final do dia, para garantir.
Segue trecho curto do artigo do Ricardo Bánffy:
Não tenha dúvida de que a Microsoft pagou, direta e indiretamente, para estar na LinuxCon. Mas nós ganhamos com isso. O evento fica melhor no geral, tem mais dinheiro, as entradas podem ser mais baratas e o lanche pode ser melhor. O espaço pode ser mais bem-cuidado, as palestras podem ter mais pessoas. E o preço disso é que temos a oportunidade de ir lá e detonar com o cara no keynote dele. Gente! É o cara da SCO! Melhor que isso só se fosse Bill Gates! Ele vai ser um alvo fácil falando por uma hora. Você pode estar no auditório e, quando ele subir ao palco, sair como forma de protesto (cuidado – ele vai usar a carta da “intolerância” e do “fanatismo” para nos demonizar). Melhor é ficar e crivá-lo com as perguntas mais pontudas e cortantes que puderem imaginar. Se você tiver uma credencial de imprensa, use-a para fazer perguntas na entrevista coletiva. O cara é mau e merece. Simboliza e protagoniza tudo o que existe de mais errado em nosso mercado. (via dieblinkenlights.com)
“O cara é mau e merece.”
Credo! Depois não quer ser chamado de radical.
Abs!
Só por causa desses dois???
É só botar na cabeça que o Linus vai no evento. Aí não precisa ter mais dúvidas se vai ou não.
Melhor propaganda a favor da LinuxCon do que isso não tem.
Nada haver boicotar o evento por causa de uma pessoa ou empresa. Liberdade … que a comunidade tanto preza .. não é isto ? Concordo que a melhor maneira de responder , seria ir muitissimo bem informado para questionar os pontos colocados.
Uma vez fui a um evento de software livre aqui em Curitiba, patrocinado pela MS. Ela fez duas palestras, e assisti às duas, uma sobre sobre sistemas embarcados e outra sobre desktop remoto, ambos assuntos de meu interesse. O palestrante (o mesmo) gastou quase metade do tempo explicando porque a MS estava no evento. Depois fez a propaganda básica dos produtos do nicho que era o assunto da palestra. As perguntas técnicas ele sabia responder a todas de bate pronto. Mas todas as perguntas que foram feitas a respeito “mas afinal de contas, quanto custa isso?” ele não sabia responder a nenhuma a contento…
Concordo 100% contigo Augusto.Seria muito mais interessante ao invés de ir xingar o cara,de por exemplo promover uma palestra ou nos corredores ou em algum outro espaço sobre a experiência do Software Livre na América Latina,ou como a galera do Slackware RJ que bate um bolão e fará workshops e palestras no RJ nos dias 20 e 21/08…
Ricardo tem q se lembrar que o Governo Federal Brasileiro é um dos maiores consumidores de software (e a maior) conta da Microsoft em todo o mundo ;)
Sério que ainda existe este tipo de coisa?
Augusto foi o CARA (no bom sentido) na proposta que fez. Excelente sugestão Augusto. Parabens !!!
Concordo com o Augusto que ignorá-lo vai doer mais e dar menos munição para ele do que hostilizá-lo.
Também acredito que a melhor forma de protesto é, quando chegar a vez dele, esvaziar o salão e deixar o cara falando sozinho, dando palestra às traças.
Concordo com o Augusto que aqueles que forem ao evento, e tiverem alguma consciência, devem sim ignorar o cara. Mas acho meio difícil de isso realmente funcionar. Isso porque precisa de todo um trabalho de conscientização (como esse próprio post do Augusto) para convencer as pessoas a não ir. Convencer com fatos, e não com “palavras de ordem” as quais só entende quem não precisava da tal “conscientização”.
Por outro lado, não vejo problema algum ao boicote do próprio evento. Um médico deveria ir a um evento sobre saúde patrocinado por uma empresa de cigarros? A organização do evento não tem a oportunidade e o direito de recusar patrocínios de fábricas de cigarro? E se fosse um evento com visitação de várias escolas? O diretor da escola deveria levar as crianças para um evento patrocinado por um fabricante de cigarros?
A linuxcon se vendeu à indústria do cigarro e o que querem que eu pense? Eu sei! Querem que eu pense…
Eu acho que quem se recusa a ir ao evento TAMBÉM está bastante certo. Se a linuxcon fosse esvaziada, não deixaria de ser uma vitória dos dois lados!! E uma derrota dos dois lados! Esse tipo de comportamento tem sim que ser desestimulado. Se você esvaziar a palestra do cara da microsoft, estará desestimulando a microsoft. Se não for à linuxcon, estará desestimulando a linuxcon! Ambas as atitudes são bem-vindas, na minha opinião.
Não vai acontecer! Essa batalha eles já venceram. :-(
Venceram no momento em que conseguiram penetrar desta maneira no evento. Parece que a coisa agora é pensar na estratégia para uma derrota mais elegante. ;-)
Certamente que hostilizar o palestrante é contraproducente.
Eu já iria para fazer a seguinte pergunta ao cidadão:
“Porquê mentiu?”
Bom posicionamento levantado pelo André Caldas.
Bem, eu não iria no evento de qualquer jeito, mas a posição por ele levantada é bem interessante, na minha opinião, e de bastante reflexão.
Abs!
Concordo com a opnião de muitos aqui, inclusive com a do editor de boicotar a palestra e não o evento. Até porque a palestra dele não me interessa, poderia até ficar curioso para saber o que ele ia falar, mas acho que deveria ter coisa mais importante pra fazer na hora…
Abraços
Olha ‘e muito bom que essa discussao ocorra em um blog que tem apoio da linux foudadtion e a apoia tambem, isso e sinal de maturidade.
primeiro devemos dizer a vinda da linuxcon eh muito importante, crei que ate demorou demais para vir pra ca.
No entanto o modelo desse evento nao e para o desenvolvedor comun, o preço e programaçao ja denotam um evento nao no modelo hackfest, mas de negocios, acho que so isso ja separa em muito o publico. a LF tem um evento “colaborativo” creio que seria mais interessante esse tipo de evento que propriamente showroom de palestras do patrocinadores.
Quanto ao patrocinio da MS, o fato deles aceitarem o patrocinio, e fundamentalmente o palestrante, denota o modelo de negocio do evento.
Mas o que fazer, o publico que esta no linux por negocio, realmente nao esta nem ai, querem e saber que exista interoperabilidade entre o janelas e o linux homologado pelo fabricante do blade novo que querem comprar.
Nesse contexto, ja sabendo pelo publico do evento a palestra sera concorrida, penso que a unica solucao eh a que esta sendo dada, protestar contra a linux foudation, mundialmente, e nao ir.
Nao acho que se deva admoestar ou achacar essa pessoa, mas avaliar isso pelo peso politico que essa programaçao possui, se ha um onus eh dos promotores do evento.
PS: dinheiro por dinheiro, eu pagaria uma viagem ate os eua ou europa para ver o linus falando , mas nao nessas condicoes.
Eu sou favor do boicote a palestra.
Um boicote ao evento seria “um tiro no pé!”
Obs: Eu não vou por questões de prioridade do meu recurso financeiro, prefiro dar prioridade a outros eventos regionais.
Acho que o correto é não ir ao evento, porém isso é decisão de cada um.
Penso que os organizadores do evento cometeram uma falha ao aceitar o patrocínio da MS.
O que é triste hoje que a Microsoft compra eventos.E como explicado em comes vs Microsoft ,isso tem más intenções.
Sempre que um evento é patrocinado pela Microsoft ,os integrantes devem fechar a boca ,não falar mal da Microsoft entre outras coisas.
Não recomendo que os eventos aceitem estes patrocínios .É melhor fazer um evento menor mas sincero ,do que um evento maior e falso.
As pessoas pensam que ganham com isso por causa das melhoras no evento.Na verdade não ganhamos pois assim a Microsoft ganha mais adoradores e continua o circulo vicioso de roubalheira e destruição.
[2]
É isso que vou fazer, assim que ele começar a falar eu levanto e saio fora!!
Seria muito interessante boicotar só os eventos “indesejados” e ver o que acontece. Se a palestra do tal sujeitinho (Gupta) não tem outra opção (nada que possa se fazer para encaixar no horário), basta ficar lá na porta da sala onde ele irá se apresentar e não entrar no recinto. A coisa seria mais macabra ainda se os “piqueteiros” ficassem em silêncio e de braços cruzados olhando para a porta. Isso iria intimidar a qualquer um que ficasse na dúvida do “assisto ou não”.
E a beleza da coisa está em ser algo 100% pacífico.
Vou ao evento mas não vou ao keynote do referido cidadão.
Ganho eu, acho que ganha o evento (cada um que puder ir vai dar mais força ao evento em minha opinião) e perde o Gupta e MS.
Não consegui ver solução melhor.
Boicotar o evento todo é dar a vitória ao Gupta. Ele terá conseguido esvaziar o maior evento de Linux do Brasil.
Isso interessa a quem?
Com certeza não interessa ao ecossistema Linux.
estou me lembrando da palestra do plan 9 que o rob pike fez no mit.
o pike é um dos autores do unix e o seu sucessor, o plan 9. é também um apologista das patentes de software, tendo algumas em seu nome.
qdo foi pra la, o stallman organizou um protesto pacifico. arrebanhou um grupo de apologistas do software livre e foi pra dentro da palestra com cartazes anti-patentes.
quando o pike terminou a palestra, os stallmanlings levantaram as maos perguntando. mas nao sobre patentes de software e outras coisas sinitras, e sim sobre detalhes tecnicos do plan 9, que acharam interessantissimo. o stallman ficou com uma cara de bunda.
no dia seguinte, o stallman publicou no site da fsf que o tal apologista das patentes fez uma palestra, e foi recebido com um grande protesto.
campo de distorcao da realidade ftw
link http://commandcenter.blogspot.com/2006/06/i-cant-find-this-on-web-so-here.html
Concordo com a analogia do André Caldas.
E sou a favor de boicotar o evento. Aceitar patrocínio da Microsoft? Decepção.
Na época que vi o preço do ingresso, resolvir deixar para o ano que vêm, pois estava sem condições, mas agora com condições realmente nem poderei ir, pois tenho algumas coisas para pagar, uma pena se o valor fosse por volta de 150 reais até que pagaria, mas pagar quase 300 reais e ainda ter de pagar a estadia em um hotel e com o horario apertado de trabalho que tenho acaba se tornando totalmente inviável.
Interessante como as pessoas estão crescendo .O boicote deveria ser utilizado em várias instituições . Inclusive o capitalismo ,mas como tudo depende dele ,não dá para boicotar tudo.
Existem empresas hoje de alimentos transgenicos,refrigerantes, comida rápida ,farmaceuticas que não merecem de jeito nenhum o nosso apoio.
Hoje não tomo nenhum tipo de remédio .Uso primeiro medicina alternativa .E isso já e um boicote contra as farmaceuticas.
Boicote dessa maneira não funciona. O próprio fato de ter algo pra boicotar já faz propaganda para a palestra e tem gente que vai justamente pela curiosidade.
É preciso mais consciência de quem usa GNU/Linux, sim. Essa mentalidade crua de ser apático quanto à imoralidade de algumas pessoas tem que acabar. O Sandeep Gupta é mau, não há dúvida. Não me venham com balelas de “regras do mercado” ou coisa parecida. Ele mentiu, distorceu, enganou. Isso tem que ser levantado por alguém e tem que ser perguntado pro sujeito.
É como a analogia que fizeram com a indústria de cigarros aqui. Por que é que tem gente que pensa que ética e moral não são importantes? Não consigo entender isso.
@self_liar: cuidado com o que segue. Nem todos os cientistas são marionetes das indústrias farmacêuticas e pelo menos a Ciência Acadêmica tem algo que a “medicina alternativa” não tem, que é o Método Científico, que garante (alguma) fidedignidade de seus produtos. Leia ou pouco o sítio do skeptoid (ponto com) pra se informar, é bastante instrutivo.
Patola
Entendo ,mas no momento a medicina alternativa e a terapia nuricional sai muito bem para mim .
Infelizmente se a ciência não estivesse nas mãos do capitalismo e da cobiça eu talvez daria uma segunda olhada para ela.Independente de quanto ela está certa ou não .Mas o que vale na hora é o que patrão manda ou não manda fazer.
Sobre o boicote , mesmo esse tipo de boicote funciona sim .Ele já provoca energias negativas dentro dos malfeitores .Claro poderia ser um boicote mais planejado ou ninguém ir a palestra pois não foi só a Microsft e o Sandeep que decidiu isso ,mas sim foi toda a chefia da linuxcon.
“Melhor é ficar e crivá-lo com as perguntas mais pontudas e cortantes que puderem imaginar.”
Que péssimo exemplo. Esse tipo de coisa é que reforça a imagem negativa de radicalismo irracional associada ao SL.
Por isso que o kernel Linux é o exemplo mais bem sucedido de FOSS. As pessoas que comandam seu desenvolvimento não adotam essa postura radical, que sem dúvida o levaria ao mesmo destino do Hurd.
O Linus vai estar lá e isso basta para mim. Quem prefere ficar em casa porque o Gupta também vai estar lá, devemos respeitar a liberdade de escolha. Eu vou !
JD.