Visite também: Currículo ·  Efetividade BR-Mac

O que é LinuxDownload LinuxApostila LinuxEnviar notícia


Para Richard Stallman, “Liberdade não é liberdade de escolha” — entrevista na Linux Magazine

O BR-Linux inclui a liberdade de escolha (inclusive quando relacionada ao consumo) na lista das liberdades que valoriza e defende, e continua não comungando com a idéia de oferecer computadores propositalmente incompatíveis com algum sistema operacional, independente da origem da proposta: quer seja de Redmond, de Cupertino ou das savanas.

Segue notícia enviada pela Linux Magazine com algumas das respostas do Dr. Richard Stallman, notório autor de ficção científica e criador do GNU Emacs e do GCC, entre outros projetos, às perguntas da revista.

Enviado por Pablo Hess (phessΘlinuxmagazine·com·br):

“O título não é uma pegadinha, nem distorce os dizeres do Grande Mestre do Software Livre. Confira:

“Em sua atual passagem pelo Brasil, Richard Stallman concedeu à Linux Magazine uma agradável entrevista. Foi uma rara oportunidade de conversar cara a cara com o nem sempre palatável mestre maior do Software Livre, criador da GNU GPL e do conceito de Copyleft, autor do emacs e detentor de tantas outras qualificações, conhecido pelas respostas incisivas e correções a entrevistadores que escorregam na diferenciação dos termos “Free Software” e “Open Source” ou que se esquecem de prefixar o termo “GNU” ao se referirem ao sistema operacional GNU/Linux.

Stallman falou à Linux Magazine sobre SCO, Sun, Oracle, a liberdade de software e o conflito com aqueles que desejam subverter o significado de “Free Software” (Software Livre), usando em seu lugar o termo “Open Source” (Código Aberto) – além de críticas à Microsoft e ao software proprietário como um todo, é claro.

Linux Magazine» Tivemos no Brasil recentemente o programa “PC Para Todos”, que vendeu aproximadamente 3 milhões de computadores equipados com Software Livre, mas que também continham softwares não livres na forma de drivers binários no kernel Linux. Boa parte desses computadores receberam cópias não autorizadas de sistemas Windows. Você não acha justificável esse uso de softwares não livres, pois ajuda na transição de um mundo primordialmente proprietário para o objetivo completamente livre que você propõe?

Richard M. Stallman» Uma ideia seria vender computadores que não fossem compatíveis com o Windows.

LM» Mas isso restringiria a liberdade de escolha dos compradores.

RMS» Liberdade não é liberdade de escolha. Ter a opção de se acorrentar reduz sua liberdade. É simples: engana-se quem identifica liberdade como liberdade de escolha, porque a liberdade de se permitir acorrentar não aumenta a sua liberdade – provavelmente a diminui.

Este argumento está sobre uma superfície que não existe. Veja bem, se o hardware tivesse sido escolhido com cuidado, não haveria necessidade desses drivers proprietários. Eles poderiam ter dito: “Queremos um computador que funcione perfeitamente com Software Livre. Quem quer construí-lo para nós?”. Com essa quantidade (3 milhões), eles teriam uma ótima oportunidade de resolver esse problema, caso tivessem se esforçado. Poderiam até ter dito: “Queremos comprar esses computadores (3 milhões) de quem também for vendê-los para o público em geral”. Quem quer vendê-los?

LM» Agora que a SCO parou de espernear, quem você considera o maior inimigo da liberdade? Quem mais faz propaganda ativa contra o Software Livre e pró-software proprietário?

RMS» Eu nunca achei que a SCO representasse grande perigo. Com essa definição de inimigo, creio que seja a Microsoft. Mas isso não significa que o nosso maior problema seja a Microsoft. O maior problema são as patentes de software, e elas não estão ligadas a nenhuma empresa em particular. Existem muitas empresas que nos apóiam de várias formas, mas são favoráveis às patentes de software. A IBM, por exemplo, tem ações que nos ajudam e outras que nos prejudicam. Ela quer que as patentes continuem existindo e faz lobby a favor delas.”

A entrevista está publicada na Linux Magazine Online.” [referência: linuxmagazine.com.br]


• Publicado por Augusto Campos em 2009-06-22

Comentários dos leitores

Os comentários são responsabilidade de seus autores, e não são analisados ou aprovados pelo BR-Linux. Leia os Termos de uso do BR-Linux.

    Profeta do Caos (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 9:09 am

    Acho mais fácil fabricarem computadores incompativeis com o Linux do que com o Windows.
    Bem Richard, sinto ser sincero, mas o mundo não funciona assim.
    E a liberdade de escolha, não concordo contigo. Cada um escolhe o que quer.
    Tá, eu sei que você é bacana, teve boas idéias, mas as vezes você é chato demais.

    Ricardo (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 9:22 am

    Esse cara é um mala. Para ele, nós só temos a liberdade de fazer o que ele quer.

    Stallman, vai catar coquinho na descida e deixa o mundo em paz. Você já contribuiu o suficiente e agora só atrapalha.

    MaxRaven (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 9:36 am

    ““Queremos comprar esses computadores (3 milhões) de quem também for vendê-los para o público em geral”. Quem quer vendê-los?”

    Pelo que eu entendi da fala dele, parece que ele acha que os 3 milhões de PC’s foram comprados de uma tacada ou “pessoa” apenas, além de ter dado oportunidade de comercializar as mesmas maquinas no varejo, mas sabemos que não foi assim.

    Também tem outra questão, pelo que ele quer, além de Software Livre também teria de ser criado o Hardware Livre, afinal boa parte dos problemas que levam a não ter os drives é justamente as tecnologias de hardware proprietária que os fabricantes não querem que outros saibam, ai nem produzem e nem deixam os outros fazerem.

    Agora, como que pode o fato de eu concordar em me amarrar a algo restringir minha liberdade? Se amanha eu quiser largar mão desta amarração é bem provável que eu possa, desde que faça a opção consciente.

    Dyego Souza do Carmo (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 9:42 am

    Esse Stallman é um exemplo típico dos motivadores da não adoção em massa do linux… esse cara aonde chega fala M….

    é uma especie de MIDAS ao contrario… onde toca vira M….

    bruno buys (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 9:54 am

    Citando acima, “Bem Richard, sinto ser sincero, mas o mundo não funciona assim.”

    Exatamente. O stallman é um ideólogo, é um ativista político. Já não é programador a muito tempo. O trabalho dele é mudar o mundo, não é se conformar com ele. O mundo não precisa ser do jeito que nós conhecemos.
    Todo mundo tem o direito de concordar com ele ou não, de gostar dele ou não. Mas como figura controvertida que é, muita gente se posiciona a seu respeito partindo de meias informações, ou de um entendimento incorreto da sua militância.

    Patola (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 10:07 am

    No contexto do que o Stallman falou, a tal “liberdade de escolha” é bastante equivalente a “Livre Mercado”. E quem entende um pouco de prática econômica vai saber que “Livre Mercado” está longe de ser um regime justo e compatível com liberdades. Portanto, concordo integralmente com ele que não é uma restrição à liberdade como valor, apenas em uma limitação num rol de escolhas já bastante limitado (afinal, você não pode escolher entre mais do que meia dúzia de SOs).

    Além disso, tudo é questão de óptica. Tente ver no outro sentido: O Windows não restringe a “liberdade de escolha” do comprador em relação à arquitetura de processador?

    Vale lembrar que o Dr. Stallman costuma ser bastante criterioso e preciso na sua escolha de palavras e expressões. Creio que ele escolheu intencionalmente a afirmação que fez (sobre liberdade, e liberdade de escolha), e prefiro analisá-la sem recorrer a analogias ou reduções que ele não indicou ao optar por usar conceitos tão amplos.

    Fábio Prudente (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 10:12 am

    Não se pode criticar uma pessoa por ser coerente com suas convicções.

    Caio (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 10:16 am

    Eu sou a favor do governo exigir drivers não proprietários, quando a compra é feita em larga escala (não é o caso do PC para todos).

    No caso da compra de maquinas para escolas estaduais, por exemplo.

    Acho que deve-se exigir drivers livres, que funcionem no sistema operacional em questão (Linux), mas que também sejam compatíveis com Windows.

    Mas antes de tudo isso, acho que é necessário criar um “Inmetro” dos sistemas operacionais, porque esses “Linux” que estão vindo nos PCs populares estão dando vergonha.

    Renato (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 10:40 am

    Patola (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 10:07 am

    Concordo e muito com você. Às pessoas que falam que o Stallman é um zero a esquerda, gostaria que soubessem que foi graças a ele que temos o SL e o gnu/linux para usar, aprender e aprimorar.
    Apesar de usar metodos ou palavras as vezes estranhos, ele está correto no que tange:
    “Não importa quantas pessoas a compartilhem, a idéia não se reduz. Quando escuto sua idéia, ganho conhecimento sem diminuir nada seu”. (Thomas Jefferson)
    Ainda para os que relutam em apoiá-lo, peço para que assista à entrevisata com Sergio Amadeu na FISL 08: http://www.youtube.com/watch?v=wS6aNF3_IgM
    Abraços!!!

    É, desta vez tenho que concordar que o cara falou algo realmente digno de uma piada do cardoso.

    Um hardware compatível somente com GNU/Linux seria, além de impossível de ser feito, já que, devendo ser de especificação aberta, logo seria compatível com qualquer sistema operacional.

    Mas vamos supor que não seja de especificação aberta. Todos os drivers teriam de ser de código fechado, já que se fossem OS qualquer um poderia portá-lo para o SO que quisesse.

    Vamos supor então que o driver fosse de código fechado. Seria uma boa solução :-)

    Acho que o Stallman não entendeu bem a situação dos computadores populares com Linux no Brasil, como disse o Max Raven.

    Quanto ao seu discurso sobre liberdade – do qual eu normalmente concordo em grande parte -, caímos no velho dilema da liberdade. Sim, o de caráter ideológico, filosófico, religioso, etc. Se pode dizer que uma pessoa que acha que escolheu o que queria por não ter opções de escolha teve liberdade de escolha? Será a liberdade deste diferente daquele que teve um leque de opções mas que no final fez a mesma escolha? Especificamente à questão do software, um usuário de software livre é mais livre que um usuário de software proprietário, mesmo este segundo tendo todas suas necessidades atendidas pelo software escolhido?

    Se a questão for levada adiante, posso te dizer que no Brasil não vivemos numa democracia, mesmo tendo a tal da liberdade de escolher nossos governantes, já que são sempre os mesmos candidatos (sim, percebeu que todos os presidentes são velhos e estão na política há décadas?), e é praticamente impossível um cidadão comum se candidatar à um grande cargo? Yes sir, uns poucos loucos de partidos extremamente pequenos viram motivos de piadas pelos eleitores, por quererem brigar com “os grandes”, além de terem horário eleitoral extremamente reduzido e pouquíssimos recursos para a campanha.

    Sim, somos livres por podermos escolher se morreremos de dengue ou de febre amarela? Se pagaremos nossos impostos em dinheiro ou em cartão de crédito? Liberdade de escolha é efetivamente liberdade? Se sim, é a única liberdade válida?

    Ai, ui. Meus neurônios doeram agora. Acho que está passando Bob Esponja na TV. Vou até lá.

    Antônio Pessoa (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 11:06 am

    Eu escolho usar Open Source e Free Software. E minha liberdade de escolha é muito importante para mim. Um Senhor que se diz defensor de minha liberdade a ponto de querer restringi-la não merece meu respeito. Ele merece ser lembrando pelos seus feitos, mas não é por conta disso que tem imunidade para falar tanta asneira. Já fui um admirador, mas hoje só tenho repulsa e vergonha por saber que um homem desses está a frente de uma instituição como a FSF (que tem gente séria, muito séria, que não sofre de esquizofrenia).

    O mesmo conceito professado pelo Sr. RMS foi e é defendido por ditaduras e regimes totalitários. Vide a ditadura no Brasil, Irã, China, Coréia do Norte. Ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de restringir a liberdade (seja ela de escolha ou não) de outrem, sejam lá quais forem os seus motivos. Eu tenho o direito de comprar um Windows 7 com todos os drivers e hardware proprietário que puder ter e consciente disso.

    É por causa da liberdade de escolha das pessoas que os BSDs, o Linux, o Apache, o SAMBA, e tantos outros softwares FOSS estão sendo usados até os dias de hoje. Mas se tivéssemos um Bill Gates, ou um Steve Balmer, ou coisa que o valha, falando uma coisa dessas, teríamos um linchamento on-line. Não estou defendendo nenhum dos dois.

    E chegamos ao ponto de querer vender máquinas não compatíveis com Windows. E depois, qual seria o segundo passo? Que as máquinas não fossem compatíveis com BSDs, pois estes não são livres (de acordo com o próprio RMS)? Teríamos máquinas compatíveis apenas com Linux, pelo bem de nossa liberdade. E apenas código GPL, pelo bem de nossa liberdade. E todos teriam que usar barba, pelo bem de nossa liberdade.

    Absurdo, simplesmente absurdo.

    Cardoso (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 11:22 am

    Computador incompatível com Windows? Netbooks com ARM, Workstations da SUN, tudo da IBM que pesa mais de 30Kg…

    Meu iPod Touch é incompatível com Windows, assim como o UM MILHÃO de iPhones 3GS que foram vendidos ontem. Meu Nokia E71 também é incompatível com Windows, até com Windows Mobile.

    Meu Mac até é compatível, mas eu escolho não rodar Windows nele. Meu netbook veio com Windows, funciona muito bem, mas escolhi testar o Moblin 2.0.

    Meu ecosistema é MUITO, MUITO mais saudável do que essa visão stalinista/stallmanista. Liberdade, ainda que na base da porrada?

    Desculpem, mas dessa vez não dá nem pra fazer piada.

    É verdade, várias arquiteturas são incompatíveis com Windows, como é natural. O que me parece bem menos natural é escolher uma delas para realizar inclusão digital, baseando a escolha nesta incompatibilidade – ou apresentar isso como uma idéia (ou como primeira idéia, ou como única idéia) para o problema percebido da instalação de cópias não licenciadas do Windows pelos consumidores dos computadores de iniciativas governamentais de inclusão digital.

    Ronin (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 11:59 am

    Uma boa idéia!!
    O governo comprar 3 milhões de netbooks ARM em licitação internacional,fazer um concurso para colocar uma distro decente nele e distrbuí-lo em escolas.

    Vale mencionar que o Executivo federal está desde 2007 tentando comprar 150.000 deste aparelho (classe netbook – e com Linux) para distribuir nas escolas como projeto piloto para uma posterior versão ampliada, mas ainda não conseguiu nem completar alguma das tentativas de processo licitatório efetuadas.

    Acho que o título deu destaque demais a essa frase. Mas vamos comparar…

    Pelo que sei na constituição do Brasil existem travas para evitar que alguém assuma a presidência e se torne um ditador. Então mesmo que se escolha como presidente uma pessoa que pregue isso, na prática a constituição o limitaria, o cara teria que partir para a força pois não há mecanismo legal para torná-lo ditador. Então mesmo uma parte da população queira ir em tal direção, estará limitada na sua vontade.

    Eu vi a declaração apenas como um direcionamento de escolhas. Se a intenção do legislador fosse promover o SL e concedesse desconto ou financiamento especial só para os micros que usassem SPARC ou ARM, qual o problema? Um consumidor qualquer continuaria podendo adquirir no mercado o computador que quisesse.

    Ainda comparando… o governo deu desconto de IPI para carros (à gasolina e/ou álcool) com até 2.0 cilindradas, privilegiando com mais 0,5% os carros álcool/flex. Não vi ninguém que queria comprar carro de maior cilindrada e/ou diesel dizendo-se prejudicado ou que o governo estava restringindo sua liberdade de escolha.

    Cardoso (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 12:08 pm

    Péssima idéia. Ou deixar de fora as distros que não tem versão ARM é aumentar a liberdade de escolha?

    Fabio FZero (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 12:21 pm

    Já faz tempo que eu digo que o Stallman atrapalha muito mais do que ajuda. Ele tem méritos técnicos, mas politicamente é prejudicial ao movimento que ele “defende”.

    E, sinto muito, o importante é poder ver, alterar e usar o código-fonte. Código Aberto, Open Source, isso é o que realmente importa. Limitar opções baseando-se em preceitos políticos questionáveis, distorcendo-os a ponto de transformar liberdade em ditadura é ridículo, ingênuo, absurdo.

    Antônio Pessoa (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 12:22 pm

    Uma coisa é incentivar a compra de um produto/solução, outra é restrição de liberdade de escolha. Você falar, escrever um livro, sobre o livre mercado e como ele influencia as pessoas em suas compras com marketing, mídia e tudo mais. Mas ainda sim as pessoas têm sua liberdade de escolha, elas podem decidir comprar ou não esses produtos. Existem pessoas que não comem no Mcdonalds, existem pessoas que nem comem carne, pois elas têm sua liberdade respeitada e podem assim decidir o que comer.

    Você pode alegar que o mercado é muito forte, mas mesmo assim você pode simplesmente escolher. Mas ao ser proibido de freqüentar o Mcdonalds, ao ser proibido de comer carne, ao ser proibido de escolher, você não tem mais a opção.

    Existem discussões sobre a democracia que falam sobre isso. Que ela não é justa, pois se vale da força da maioria imposta, não de uma liberdade de escolha. Mas isso é outra história, outra discussão. E se você acha que realmente está certo em suas convicções você TEM a liberdade de expressão para falar sobre isso, escrever livros, ter seguidores, montar um partido político. Isso não foi tirado de você.

    EmanuelSan, acho que não haveria problema jurídico nenhum em o governo definir que o processador fosse ARM ou SPARC. Quando foi normatizado o PC Conectado, já houve também uma escolha específica de classe de processador (na época, tinha que ser compatível com 2 modelos específicos da Intel e AMD).

    E foi bem o cenário que você descreve: na ocasião o nosso governo já concedeu redução de taxas e financiamentos especiais, naquela configuração de hardware específica, e o projeto desta forma recebeu inclusive o apoio de segmentos mais politizados do software livre nacional.

    E o consumidor continuou podendo adquirir no mercado o computador que quisesse, exatamente como você diz. E quem produz ou comercializa outras categorias de computadores reclamou mas não teve base maior para contestar.

    Escolher a arquitetura de hardware certamente limita as escolhas de software – e o PC Conectado provavelmente não rodaria o Mac OS X ou o Solaris, por exemplo. Mas o que o governo não fez foi basear a sua escolha neste critério da incompatibilidade da arquitetura selecionada com os produtos de software de algum fabricante específico. Assim como quando ele oferece o incentivo para os carros até 2.0 a gasolina, com bônus para álcool ou flex, ele não se esforça para limitar o benefício a motores que sejam incompatíveis com os combustíveis vendidos pela Shell.

    Finalmente, acho que não tem ninguém aqui hoje dizendo que algum governo restringiu a liberdade de escolha ao realizar algum programa específico. O que houve foi uma declaração sobre a liberdade de escolha em si, e sua relação com o que é (ou seria) a liberdade, na visão do entrevistado, e em relação a como ele acredita que poderiam ter sido conduzidos estes programas de inclusão social.

    David (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 12:59 pm

    Ele e coerente. O que ele diz e que liberdade nao e liberdade de escolha, se voce for escolher abrir mao da liberdade.

    Como conhecemos a posicao (extremamente) intolerante do Stallman em relacao ao software nao-livre, nao surprende em nada a declaracao.

    Software nao-livre pra ele e tao ruim quanto a escravidao. Imagine ele como um aboliocinista dizendo que nenhum tipo de escravidao e toleravel, e que as pessoas nao devem ter liberdade de escolha entre ser ou nao livres, ou entre libertar ou nao seus escravos. E nos, no caso, somos os escravocratas dizendo: “mas a pessoa deve ter liberdade de escolher se quer ser escrava ou livre, privar a pessoa de optar pela escravidao atenta contra sua liberdade.”

    Da mesma forma que a democracia, teoricamente, impede um povo de abrir mao dela. Se houvesse uma eleicao e a maioria do povo escolhesse abrir mao da liberdade e entregar todo poder a um ditador, isso nao estaria correto, mesmo sendo a vontade da maioria. Porque a liberdade (democracia no caso) e um valor maior em si do que a liberdade de escolha que ela te proporciona.

    David (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 1:02 pm

    aboliocinista = abolicionista

    Acho que quando uma pessoa usa, na defesa daquilo que acredita, uma premissa que equipara as demais posições possíveis ao escravagismo, ao genocídio, à pedofilia ou a outros comportamentos vistos quase unanimemente como indesejados, é fácil acreditar que a argumentação em si é coerente.

    No caso em questão, entretanto, trata-se de uma escolha de sistema operacional do computador de um programa governamental de incentivos fiscais para a inclusão digital.

    O qual, aliás, era vendido só com sistemas operacionais livres – a instalação do Windows ocorria após a aquisição, pelo exercício da liberdade do próprio consumidor – e na minha opinião, a compatibilidade do hardware e a liberdade de escolher outros sistemas operacionais são, em si, valiosas. Removê-las artificialmente seria custoso, talvez inviável (a não ser que se usasse DRM…) e não necessariamente os mencionados 3 milhões de compradores concordariam que isso seria uma medida favorável aos interesses deles.

    Livio Ribeiro (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 1:17 pm

    Stallman parece querer enfiar o “software livre” DELE goela abaixo à força! Isso não é liberdade, é ditadura!

    Se se ele usasse toda essa energia para fazer um software melhor, talvez ele obtivesse melhores resultados.

    E por falar em liberdade, eu uso o Opera, o navegador mais fechado do mercado, porque eu fiz valer minha liberdade para escolhê-lo.

    Fábio Prudente (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 2:01 pm

    Estão fazendo tempestade em copo d’água.

    Em vez de jogar pedras contra o RMS, vamos analisar o texto?

    Liberdade não é liberdade de escolha. Ter a opção de se acorrentar reduz sua liberdade.

    Isso é verdade. Certamente, a maioria dos leitores do Br-Linux possui conhecimento para fazer suas próprias escolhas em TI, mas a maioria das pessoas lá fora não faz a menor ideia do que estamos discutindo aqui. O RMS não está querendo restringir a liberdade de ninguém, apenas evitar que a “mão invisível” do “livre mercado” leve pessoas leigas a cair em armadilhas.

    Querem um exemplo? os carros “Flex” são uma paixão nacional – todos nós compramos esses carros, iludidos pelas promessas de economia, liberdade e respeito ao meio-ambiente. Acontece que os carros Flex são sempre a pior escolha, porque não são otimizados nem para um combustível nem para o outro. No final, o carro Flex consome mais e polui mais que um carro ajustado para um único combustível.

    Sem saber disso, a maioria de nós, especialistas em TI mas leigos em mecânica, caímos como patinhos. Nem sempre nossas decisões são racionais.

    Se você ainda não entendeu o argumento, recomendo a leitura do livro “Previsivelmente Irracional“, de Dan Ariely. Veja também esse vídeo.

    Eles poderiam ter dito: “Queremos um computador que funcione perfeitamente com Software Livre. Quem quer construí-lo para nós?”. Com essa quantidade (3 milhões), eles teriam uma ótima oportunidade de resolver esse problema, caso tivessem se esforçado.

    Mais uma vez, RMS pondera sobre a influência do Estado sobre o “livre mercado”. O Estado pode, sim, usar o seu peso para direcionar o mercado para um rumo ou outro.

    Ele não sugere um Estado Stalinista, que proíba uma alternativa ou outra – apenas está sugerindo que o Estado adote políticas para estimular uma determinada solução.

    O maior problema são as patentes de software, e elas não estão ligadas a nenhuma empresa em particular.

    Nem preciso comentar. Concordo plenamente. Alguém discorda?

    David (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 2:11 pm

    Augusto, a comparacao de software nao-livre a escravidao feita pelo Richard Stallman nao pode ser enquadrada como uma simples equiparacao das oposicoes opostas a conceitos universalmente rejeitados. Ele nao esta dizendo que o software proprietario e nazista, pedofilo ou corintiano.

    Eu, como voce, aceito o software como produto, dentro de uma sociedade capitalista e um ambiente de mercado livre.

    No entanto, voce conhece muito bem a ideologia do Free Software, e sabe que, nesse aspecto da discussao, aquilo que defende Richard Stallman sobre software se encaixa perfeitamente no modelo liberdade/escravidao.

    Assim, para ele, dizer que o software proprietario escraviza, nao e um argumento falacioso para aparentar coerencia. Quando ele diz que software nao-livre escraviza, e portanto e totalmente inaceitavel, nao importa o contexto, e exatamente isso que ele quer dizer.

    Antônio Pessoa (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 2:16 pm

    O problema do estado ditar regras é que isso apenas é bom para o grupo que defende tais regras. Quando o estado passar a ditar regras que nós não achemos corretas vamos dizer o quê? Que as nossas eram boas, mas essas não são? Quer dizer, se for FOSS for beneficiada, então o grupo de FOSS defende, se nós formos prejudicados vamos recusar?

    Não defendo que o livre mercado tome conta de tudo, mas essa alternativa não me parece boa também.

    Em muitos momentos as escolhas dos consumidores determinaram o caminho que o mercado deveria seguir. E acredita que seja esta linha que se deve seguir. O Firefox é o que é hoje pelas escolhas de seus usuários, que o preferiram ao IE que já vem instalado no Windows (uso isso como exemplo, por favor).

    Antônio Pessoa (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 2:20 pm

    O que é bom para mim, pode ser veneno para meu vizinho. Minha verdade/vontade não pode universalisada e imposta à todos. Sou usuário de Open Source e com muito orgulho, mas não obrigo minha mãe a usar FreeBSD/Linux em seu desktop como eu faço, no computador dela eu instalo um Windows XP bonitinho, pois é isso que ela QUER usar. E não me venham com histórias de comodismos, computador para minha mãe é um eletrodoméstico, como um DVD ou uma TV, ele tem que simplesmente funcionar e é assim que deve ser para o usuário final.

    David, entendi sua opinião, mas discordo de que não seja vicioso um argumento nesta discussão que se baseie em alguma equiparação entre escravidão e a adoção da arquitetura i386 em um projeto de inclusão digital de 2005 que incluiu software livre em seu pacote.

    E não, eu não sei se o que ele afirma se encaixa em um modelo maniqueísta (ou mesmo fortemente polarizado) liberdade/escravidão, e nem vi ele afirmar algo neste sentido na entrevista que está em discussão.

    Fábio Prudente: creio que o aspecto que está provocando debate não são os trechos que você escolheu citar, e sim a afirmação especificamente relacionada a liberdade de escolha.

    bruno buys (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 3:07 pm

    O stallman enxerga um problema ético fundamental no paradigma do software proprietário. Esse problema, para ele, é irredutível, não há como negociar, contornar. Essa é uma posição que ele tem, derivada de uma reflexão que é a mesma que fundamenta toda a filosofia do projeto GNU.
    Evidentemente que é possível discordar, não aceitar, etc. Mas argumentar que essa posição é “extremamente intolerante com o software proprietário”, é equivocado. É uma questão qualitativa, não é quantitativa. Ele não aceita que uma certa coisa aconteça, não importa que seja muito ou pouco.

    Se a liberdade inclui ou não a liberdade de ceder a própria liberdade, não me parece uma questão somente semântica. Muito menos trivial.
    Estou de pleno acordo com o David.

    Livio Ribeiro (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 3:08 pm

    Não dá pra comparar “software livre X software proprietário” com “liberdade X escravidão”. Empresas de software não restringem o acesso ao código fonte simplesmente por serem más, como também o uso de licenças de código aberto não torna qualquer pessoa candidata ao prêmio Nobel da Paz.

    Enquanto Stallman age como ativista político, existem pessoas, como Mark Shuttleworth, trabalhando para fazer produtos de qualidade, sem se preocupar em estar restringindo uma suposta “liberdade” que só interessa à uma pequena fração daqueles que usam softwares “livres”.

    Software, antes de tudo, tem que ser bom.

    Kurt Kraut (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 3:49 pm

    Eu tenho que discordar do Livio Ribeiro no comentário acima. Demonizar o Stallman para canonizar o Shuttleworth? Vamos com calma: temos de um lado um ideologista, que trabalha no campo das idéias, dos conceitos, como muito bem dito pelo bruno buys ‘Mudar o mundo, não se conformar com ele’.

    Do outro lado temos um empresário que tem um modelo de negócios duvidoso em torno do software livre e com fortes suspeitas de estar preparando um terreno para praticar dumping. Não vejo no Shuttleworth um defensor da escolha de liberdade e sim um defensor da liberdade de usar o produto dele.

    Augusto,

    O governo, por exemplo, concede algumas vantagens se a empresa for considerada “empresa nacional”. Vantagens para “pequenas empresas”. Com certeza há muitas maneiras de se fazer, para dificultar/impedir que os consumidores desvirtuem o objetivo de alguma programa.

    Continuando com o exemplo dos carros, antigamente tínhamos carros a álcool ou a gasolina, o governo concedia incentivos para compras dos carros à álcool. Digamos que, por algum motivo, vários consumidores após a compra convertiam o carro para gasolina. O governo não achando isso desejável (pois haveria mais poluição, dependência externa, etc.), poderia induzir os fabricantes a oferecerem carros à álcool que usasse alguma tecnologia não conversível.

    Vc não respondeu ao meu argumento sobre à liberdade de escolha. Na constituição existem “travas” para impedir que um governante seja um ditador, independente se a maioria que o elegeu estava querendo isso.

    David (usuário não registrado) em 22/06/2009 às 3:59 pm

    O bruno buys sintetizou muito bem o modelo maniqueista, que nao se encontra explicitamente na entrevista em discussao, mas esta implicito. Ele e simplesmente a base ideologica da FSF. E sobre essa base o Stallman disse o que disse.

    Augusto, eu entendo sua intencao de trazer a discussao pro caso pratico do programa brasileiro, mas acontece que a resposta do Stallman e claramente teorica, por isso afirmo que voce sabe.

    Faz mais de 10 anos que voce cobre essa discussao, de um lado o ponto de vista (maniqueista e totalmente polarizado) dos “puristas radicais”, representado pelo Stallman, que nao aceita que software nao seja livre sobre nenhuma condicao, do outro lado os “moderados”, representado por quase todo mundo. Dentre outras coisas, isso levou a criacao do termo e conceito Open Source.

    Livio, nao so da pra comparar como essa comparacao e feita estruturalmente pelos radicais do software livre. E um equivoco seu achar que “liberdade vs escravidao” significa “bondade vs maldade”. O termo escravidao aqui e usado como extremo oposto da liberdade.

Este post é antigo (2009-06-22) e foi arquivado. O envio de novos comentários a este post já expirou.