Linux: qual o papel da comunidade?
“Canonical, Red Hat, Novell; uma coisa que a maioria das grandes distribuições têm em comum hoje em dia é a batuta de uma grande empresa. Os tempos mudaram e, sobre tudo, o Linux já não é mais uma excentricidade de hacker e nem apenas uma manifestação de liberdade; agora o Linux é um bom negócio e a recente pesquisa feita pela Linux Foundation mostra que esse quadro tente a aumentar.
Onde entra a comunidade no desenvolvimento do Linux quando o quadro de contribuições das grandes empresas só tende a aumentar? Quais os planos e qual a relação das empresas com a Comunidade?
Leia o texto, reflita e dê sua opinião.”
Enviado por Henrique “LonelySpooky” junior (lspookyΘfedoraproject·org) – referência (lonelyspooky.com).
Artigo besta com análise ingênua.
“Muitas empresas inteligentes perceberam que abrir o código de seus produtos facilita o desenvolvimento porquê, verdade seja dita, não há nada como ter milhares (ou até milhões) de programadores trabalhando de graça para implementar melhorias ao seu produto.”
Isso não existe. Ninguém trabalha de graça para outro: todos colaboram com um codebase que é útil a todos. E se não é útil para todos, não vai ganhar muita colaboração. Simples assim.
“desktop não dá lucro. Isso, que o diga a Microsoft”
Que pérola! Que o diga a Microsoft, que por ter um virtual monopólio de mais de 90% dos desktops no mundo, segura um grande mercado para seus produtos para esse desktop, como Office. Realmente, não lhe traz lucro algum.
“Mas o ponto é que se a comunidade não gosta do modo spatial, porque ele vem por default? E porque não mudaram? Certamente, só na cabeça de um desenvolvedor pérolas do tipo “todo mundo abre um terminal e edita um arquivo no VI” podem fazer sentido.”
Ainda vem por default? Pelo menos no Ubuntu, não. Não que eu tenha algo contra ele. E o que isso tem a ver com VI?
“as empresas deixam que usemos o Linux delas”
O Linux não é delas: é de todos, graças à GPL. As empresas são apenas os maiores contribuintes e também os maiores interessados. Qual o problema nisso?
O que é uma “comunidade”, afinal? Não se trata de um agrupamento onde todos se comprometem com uma causa e contribuem com ela de alguma forma? Onde todos se beneficiam dessas contribuições? Nem todos tem realmente capacidade técnica para contribuir correções e melhorias em código para esses projetos, mas não é por isso que não deixa de haver uma comunidade de desenvolvedores independentes que também contribui código à parte das empresas. E, é claro, algumas dessas almas também podem acabar empregados em uma dessas empresas interessadas.
Acho que a “comunidade” simplesmente se profissionalizou e leva Linux mais à sério agora. Lembrando que empresa é simplesmente um bando de pessoas realizando um empreendimento, como a manutenção de um kernel.
Blá blá blá, blá blá blá, Whiskas Sachè.
Voltando à mesma tecla: os usuários de softwares sob gpl pensam que o programa está sob “domínio público”, e isto se verifica no seu comentário, afinal, você afirma que ele é de todos, “graças à GPL. A GPL não transfere de forma alguma a propriedade do código para os usuários, apenas concede o direito de uso sob certas condições.
Por isso volto a insistir que isso é uma “fragilidade genérica” da gpl e licenças correlatas, uma vez que o copyright do código e das tecnologias inseridas em algum programa permanece nas mãos da corporação que coordena o desenvolvimento. Isso possibilita que essas linhas/tecnologias tenham sua licença extinta a qualquer tempo, e os usuários não poderáo fazer absolutamente nada para reverter os fatos, nem mesmo utilizar ‘forks’, se a detentora da tecnologia não permitir. Por isso é correto alguem dizer que a Citrix (Xen) compartilha SUA tecnologia com os usuários, por exemplo.
E no caso do Xen, é notável se verificar que a Citrix pagou certa de US$ 500 milhões pelo código do Xen. Ninguém pagaria tanto pra “apenas” compartilhar essa tecnologia com uma “comunidade ilimitada”.
O fato é que o desenvolvimento de um SO moderno, seja ele qual for, está se tornando complexo demais. Em 1991, o kernel Linux tinha 10.000 linhas de código, hoje, são quase 9.000.000. É impossível, portanto, que o Linux continue sendo desenvolvido por programadores voluntários, nas suas horas de folga, da mesma forma que está se tornando impossível, até mesmo para a superpoderosa Microsoft, manter sozinha o desenvolvimento do Windows, apenas com os seus programadores.
A mesma força que empurra as empresas de código fechado em direção à abertura do código, empurra também as comunidades informais de código aberto em direção a uma organização profissional, remunerada e, porque não, lucrativa.
Essa força chama-se complexidade. Os sistemas e aplicativos atuais estão incorporando tantas funcionalidades, e estão evoluindo tão rapidamente, que torna-se cada vez mais difícil o seu desenvolvimento tanto pelo modelo de código fechado, quanto pelas comunidades informais (voluntárias) de código aberto. Quem continuar tentando manter seu código em segredo, vai afundar junto com ele, por obsolescência e, da mesma forma, quem tentar simplesmente abrir o seu código, esperando contar com a colaboração voluntária de “milhares, ou até milhões de programadores”, vai ficar a ver navios, porque nenhum programador voluntário é capaz de mergulhar em um projeto de milhões de linhas de código, e começar a contribuir.
Qual o papel das comunidades? – exatamente o mesmo de sempre; só que agora as comunidades são formadas (predominantemente) por grupos organizados (profissionalizados, lucrativos), que compartilham interesses comuns.
Por isso volto a insistir que isso é uma “fragilidade genérica” da gpl e licenças correlatas, uma vez que o copyright do código e das tecnologias inseridas em algum programa permanece nas mãos da corporação que coordena o desenvolvimento. Isso possibilita que essas linhas/tecnologias tenham sua licença extinta a qualquer tempo, e os usuários não poderáo fazer absolutamente nada para reverter os fatos, nem mesmo utilizar ‘forks’, se a detentora da tecnologia não permitir.
Não.
Suponha que o código do programa X seja GPL e pertença a empresa A.
A empresa A fecha o código de X. Entretanto, qualquer versão previamente lançada de X, com o código em GPL, continua GPL e, sim, e possível fazer o fork. Não será permitido adotar o mesmo nome por questões de marca, mas o código previamente liberado como GPL continua GPL.
Foi o que aconteceu com o Nessus. Era GPL, mas foi fechado na versão 3.0. Um projeto chamado OpenVAS foi criado, usando o código da última versão livre.
Algo similar ocorre com o toolkit Qt, usado pelo KDE. A Trolltech possui direitos sobre todo o código, e pode fechá-lo a qualquer momento. A equipe do KDE, entretanto, mantem a versão GPL em seu repositório para que, caso o fechamento ocorra, seja possível continuar a partir da última versão livre. Vale dizer que é muito pouco provável que o Qt se torne proprietário, mas o projeto KDE se assegura independente disso.
Pod, esquece, o kern simplesmente ignora o copyleft e também não aceita que a GPL não é um simples contrato.
Não adianta dizer que empresas já tentaram, ele sempre diz que o copyright é o Chuck Norris dos licenciamentos. Provavelmente ele acha que estamos mentindo com relação as empresas que fecharam seu código.
O Augusto já perdeu o tempo dele explicando, não perca o seu também.
Concordo com o Pod, o código GPL é livre para todos até o ponto em que a empresa que “comprou” os direitos dele quiser fechá-lo.
Até a última versão anterior desse “fechamento” do código por parte da empresa, pode ser usada sim para retomar o projeto, como o exemplo do Nessus citado acima. Ponto para a GPL e para a comunidade.
Hahaha, tá certo, Wallacy. Não acompanho muito os comentários aqui, então não sabia que esse kern insiste nessa idéia incorreta há tempos. Achei só que ele estava enganado e que eu podia ajudar a arrumar as coisas.
Vou ser mais rigoroso no uso do meu tempo agora. :)
Wallacy, você por aqui? fiquei esperando resposta sua na discussão que estávamos tendo no post inicial sobre o relatório da Linux Foundation, mas vejo que você ainda não tem uma resposta bem fundamentada, por isso continua achando que “copyleft” transfere propriedade do código para o usuário.
Não acho isso não, e eu já te respondi isso antes: o fato de já terem tentado fechar o código com proibição de uso anterior quando ele estava licenciado sob gpl e não terem conseguido mostra que quem montou a ação não apresentou argumentos suficientes no processo. Mas isso não exime de nova tentativa futura.
O que tenho alertado é que licença não é “propriedade”. Licença é permissão de uso que no caso da gpl, permissão gratuita de uso que é passível de término a qualquer tempo, se os detentores do direitos sobre o código quiserem.
fabio, vc está errado quanto a voluntarios. as pessoas nao caem de cabeça no codigo do linux por amor à camisa, para trabalhar em prol dessa causa voluntaria. as pessoas vao ao codigo do linux muda-lo para fazer algo que ELAS precisam; e as pessoas contribuem com o codigo para a comunidade para seus esforços nao precisarem ser repetidos, e as proximas versoes do sistema virem com os avancos feitos.
outro foco de interesse em desenvolver pro linux é o desejo de projetar sistemas grandes; é um hobby que qualquer engenheiro poderia compartilhar, e geralmente essas pessoas sao muito comprometidas em relacao a fazer codigo de qualidade.
kern, copyleft não transfere propriedade do código para usuário. copyleft transfere DIREITOS DE USO do código, que não podem ser revogados posteriormente.
é como J. R. R. Tolkien licenciar o uso cinematografico da obra “o senhor dos anéis”. Ele vendeu essa licença; embolsou um bom dinheiro na época. Os filmes eventualmente foram feitos, mesmo a new line cinema não detendo a propriedade das obras de Tolkien.
Kern, volto a insistir que, embora eu discorde da sua tese, você a leve à FSF e ao SFLC, que podem analisá-la e considerá-la. Repeti-la por aqui a cada nova notícia que fale sobre licenciamento ou participação corporativa no desenvolvimento do software livre não terá o mesmo efeito, se você deixar de levar a questão à instância que pode apreciá-la.
Elias, você está certo, no caso dessa obra cinematográfica, e da aquisição de uma licença de uso do Windows, e outros, por exemplo, houve o licenciamento da “obra” mediante pagamento de montante financeiro. Sob estas condições, uma licença de uso não pode ser revogada.
Mas a figura muda no caso da gpl e outras, uma vez que a “obra” (códigos) foi licenciada sem custo financeiro para o usuário. Dessa forma, esse licenciamento pode ser revogado, já que não houve ônus financeiro para o usuário. Isso é parecido com os acordos que a Microsoft faz com os desenvolvedores “beta testers”: eles usam o código sob determinadas circunstâncias, mas uma vez terminado esta fase, os usuários daqueles softwares não podem continuar seu uso, ou fazer “forks” com ele.
Já discuti esta questão mais ou menos extensivamente no tópico inicial do relatório da Linux Foundation, aqui mesmo no Br-Linux. Se quiser, pode dar uma olhada lá para entender como essa “quebra” da gpl pode acontecer.
Augusto, agradeço sua intervenção. Estou preparando o documento para o SFLC, e vou anexar cópia dessas discussões que estamos tendo aqui no Br-Linux, junto com alguns documentos extras, como aquele que você sugeriu, na discussão passada.
kern, quando fizer isso, por favor avise ao Augusto para ele colocar como notícia. Estamos todos ansiosos para que você prove que está certo, e todos os outros departamentos legais de empresas que tentaram fechar código licenciado sobre a GPL estão errados. Vai ser uma lição que as universidades de Direito de todo o mundo irão sempre lembrar. Não se esqueça de usar seu nome real quando do envio para a Free Software Foundation, ok?
Boa sorte nessa sua empreitada!
Na verdade a notícia realmente interessante será a da resposta da instituição, após análise do mérito.
Bom, ainda assim o controle do Linux não é mantido por uma empresa, mas pelo Linus (e aqueles que ele indicar), e um dos papéis da Linux Foundation, de acordo com o próprio site deles, é de empregar o Linus e outros desenvolvedores importantes para que eles possam levar o Linux pra onde quiserem, sem precisar seguir ordens de empresa nenhuma.
E aqueles que acompanham a LKML (ou kerneltrap) sabem que o Linus é um bom exemplo de ditador… se ele não gosta da contribuição, pode ser código da intel, IBM, RedHat, o que for, não entra no código.
kern, estou por aqui sim. Não te respondi pois simplesmente não voltei naquele tópico mais. Logo não tenho como responder uma pergunta que não li.
E bem, acredito que não tenha razão para faze-lo agora…. Afinal, os outros colegas de ambos os tópicos já responderam seu questionamento.
Em minha opinião o melhor que você fazer o que o Augusto disse. Levar seu questionamento a FSF, tirando como base a entrevista que o Carlos Cardoso fez com o Peter Brown, você será bem atendido.
PS: Comprar a GPL com os beta “beta testers” da MS é forçar a barra!!
Elias, obrigado por seu comentário. Apenas para esclarecer, eu concordo com a sua opinião, de que a colaboração voluntária vai continuar existindo, e que esta sempre é movida por alguma necessidade particular concreta (seja de um indivíduo, ou de uma corporação).
O que eu quis colocar, em meu comentário, é que, com o aumento da complexidade, essa colaboração “eventual”, feita como hobby, torna-se cada vez mais difícil (não impossível) e, por isso, justifica-se a tendência apontada pelo artigo, do aumento de colaboradores profissionais, ligados a empresas.
Onde eu escrevi que “É impossível, portanto, que o Linux continue sendo desenvolvido por programadores voluntários, nas suas horas de folga“, leia-se “É impossível, portanto, que o Linux continue sendo desenvolvido exclusivamente por programadores voluntários, nas suas horas de folga“.