Notícia publicada por brain em outubro 26, 2004 09:52 PM
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O criador do Linux é pródigo em dizer o que pensa sem muitos rodeios, e nesta entrevista concedida ao LinuxTimes ele tem a oportunidade de falar sobre assuntos variados: Linux no desktop, linguagens interpretadas, dicas de administração de projetos livres, comentários sobre o Hurd e mais. Interessante para desenvolvedores, fãs e curiosos. Atualização: o leitor Delenda Carthago postou nos comentários uma tradução da entrevista.
Coitado do Hurd, o Linux pegou pesado. Lendo os comentários eu concordo com um cara que disse que não dá para comparar o Hurd com o Linux, mas não dá para dizer também que ele morreu, porque uma vez sendo software livre qualquer um pode pegar o que já foi desenvolvido e continuar, mesmo que com outro nome.
Alguém poderia traduzir, por favor? :P
>Lendo os comentários eu concordo com um cara que disse que não dá para comparar o Hurd com o Linux, mas não dá para dizer também que ele morreu, porque uma vez sendo software livre qualquer um pode pegar o que já foi desenvolvido e continuar, mesmo que com outro nome.
O Hurd não morreu, só não tem releases ;D
Uma coisa legal que é ver como o linus é um cara sensato quando diz que o linux avança em pequenos passos e não como um foguete que hoje esta na terra e amanhã na lua e gostei da importancia que ele da para os pequenos projetos isto mostra como é forte os nele os ideais do software livre e realmente faz você ver o lado positivo desta filosofia muito ao contrario de alguns xiitas fundamentalistas do software livre sempre rezam aquela mesma ladainha "somos melhores, nunca erramos e vamos dominar o munda amanhã" que não tem nada a ver com o software livre.
Realmente gostei da entrevista
Uma tradução Livre:
Linus Torvalds fala de outras áreas da programação que não o kernel do Linux, prediz um futuro sombrio para o GNU/Hurd, dá conselhos para quem quer assumir grandes projetos de software e nos atualiza sobre as últimas no desenvolvimento do kernel nesta entrevista via e-mail a *Preston* St. Pierre.
Preston: Sua vida tem sido dedicada há um bom tempo ao kernel do Linux. Se você tivesse de deixar esse projeto, que outro gostaria de empreender (jogos, aplicativos, outro kernel, ferramentas de desenvolvimento, etc)?
Linus Torvalds: Gosto de ficar perto do hardware. Já lidar com coisas visuais (ex., jogos ou GUI) não é o meu forte, assim eu iria provavelmente trabalhar com ferramentas de desenvolvimento ou similar. De fato, o único projeto em que gastei algum tempo no ano passado (fora o próprio kernel, claro) foi uma aplicação que faz algumas verificações adicionais de tipagem no código-fonte para o kernel.
P: Qual é sua linguagem de programação interpretada favorita, e por quê?
LT: Heh. Não lido muito com interpretadores. A única que acabo usando pra mim (não como parte de scripts de terceiros) é o shell normal. Não que desgoste de coisas como perl/python, apenas tenho a tendência de escrever só em C, ou fazer coisas _tão_ simples que para mim funcionam bem no shell.
P: Você tem algum conselho para pessoas que queiram empreender grandes projetos de software livre?
LT: Ninguém deve iniciar empreendendo um grande projeto. Deve-se iniciar com projeto _trivial_ e pequeno sem expectativa de grandeza. Caso contrário, você vai exagerar no design e considerá-lo mais importante do que provavelmente seja nesses estágios. Ou pior, você poderá ficar intimidado pelo tamanhão do trabalho a sua frente. Assim, comece pequeno e pense nos detalhes. Não pense num grande cenário, nem num projeto impressionante. Se não for para resolver uma necessidade absolutamente imediata, o design está com certeza exagerado. Nem fique esperando que vai aparecer uma a galera para te ajudar. Não é assim que funciona. É preciso apresentar algo pelo menos já meio _funcional_ e aí eles vão dizer "uia, isso _quase_ me atende", daí vão se envolver no projeto. E, se há algo que aprendi com o Linux, foi que os projetos têm vida própria e que _não_ é bom ficar tentando impor a sua "visão" com muita força pra cima da galera. Quase sempre você está errado mesmo, e se não for flexível nem estiver a fim de aceitar conselho dos outros (nem estiver pronto para mudar de direção quando ficar provado que sua visão está errada), você nunca vai conseguir realizar nada bom. Em outras palavras, esteja pronto para admitir seus erros, e não fique na expectativa de conseguir algo grandioso no curto prazo. Tenho lidado com Linux há treze anos e espero ficar nisso por um bom tempo ainda. Se tivesse de início planejado fazer algo grande, jamais teria começado. Comecei pequeno e insignificante, foi assim que pensei.
P: Da perspectiva do usuário, que melhorias você vê no kernel do Linux em relação ao Hurd? Você acha que o Hurd poderá mais tarde se tornar tão popular quanto o Linux?
LT: Pra mim o Hurd morreu. Veja o porquê [na resposta] acima. Ele foi concebido como um "grande projeto", mas os caras se esqueceram dos detalhes e não admitiram seus erros. Assim o projeto tropeçou e nem mesmo depois disso se dignaram a baixar a bola. Mas, olha só, eu posso estar errado. Não acompanhei o Hurd em nenhum detalhe e talvez eles estejam bem mais modestos agora, mais preocupados em ter as coisas funcionando e menos preocupados com o "design". E menos convencidos também.
P: Quando você acha que o Linux vai tomar conta do mercado de desktop da Microsoft?
LT: Ah, eu acho que já começou, só tá indo devagar. Você só percebe o _quanto_ está devagar quando olha o Linux nos últimos dez anos. As pessoas meio que esperam que o Linux fique bom logo e decole como um foguete, mas não é assim que funciona. [Linux] fica bom com o passar do tempo e as pessoas vão se acostumando com ele gradualmente. Quando olho dez anos atrás, lembro como o Linux era e até me rio por dentro. O desktop de hoje é um pouco melhor do que era há um ano, mas você só vê as diferenças _reais_ se se afastar um pouco mais [no tempo]...
P: O que você está achando do seu novo trabalho no OSDL como contribuidor do Linux em tempo integral?
LT: Está indo muito bem. Eu trabalho em casa e o OSDL provê uma infraestrutura que me permite realizar meu trabalho sem maiores preocupações. Que é do jeito que eu gosto ;)
P: Qual é a última novidade no desenvolvimento do kernel?
LT: Não tem muita novidade, não. Cuidar dos drivers, modificar interfaces para dificultar a escrita de bugs por engano, ficar em dia com as novidades em hardware e a par das novas idéias. O kernel está definitivamente amadurecendo no sentido de que as coisas _novas_ realmente empolgantes estão no user space, e o kernel é chamado algumas vezes para facilitar o trabalho com elas...
Um parágrafo da entrevista ficou de fora. Então colei de novo a pergunta e a resposta correspondentes, adicionando o trecho que faltou (nada muito significativo, apenas uma curiosidade).
P: Qual é sua linguagem de programação interpretada favorita, e por quê?
LT: Heh. Não lido muito com interpretadores. A única que acabo usando pra mim (não como parte de scripts de terceiros) é o shell normal. Não que desgoste de coisas como perl/python, apenas tenho a tendência de escrever só em C, ou fazer coisas _tão_ simples que para mim funcionam bem no shell.
* Posso até admitir ter uma queda pelo BASIC, mas não o uso há quase 20 anos ou tanto. Mas foi com ele que comecei, por isso vai ser sermpre especial [pra mim] ;) *
É sempre bom contar com tradutores. Obrigado.
So uma pergunta. Por que quando fazem uma tradução é colocado antes. ((( Uma tradução Livre: ))) ?
Acho que é para que ninguém venha culpá-los [tradutores] sobre evetuais erros de conversão de idiomas.
A tradução livre não tem o compromisso de ser literal. Ela se atém mais ao sentido do que às palavras.
penso que a intenção é informar que a tradução é uma interpretação do tradutor acerca do texto, quem tiver conhecimento do inglês pode ler o texto original e eventualmente discordar, mas é por causa de **interpretação**, já que sabemos que algumas expressões levam à isso (lembram-se do "causo" daquele gringo que disse "I am mystified ..." , sobre a questão de propriedade intelectual (acho) que até agora não há consenso na tradução - se é que tem uma literal ? ).
abraços.
penso que a intenção é informar que a tradução é uma interpretação do tradutor acerca do texto, quem tiver conhecimento do inglês pode ler o texto original e eventualmente discordar, mas é por causa de **interpretação**, já que sabemos que algumas expressões levam à isso (lembram-se do "causo" daquele gringo que disse "I am mystified ..." , sobre a questão de propriedade intelectual (acho) que até agora não há consenso na tradução - se é que tem uma literal ? ).
abraços.
> Acho que é para que ninguém venha culpá-los [tradutores] sobre evetuais erros de conversão de idiomas.
Quase isso :)
A tradução livre na realidade é aquela em que você rescreve o texto original com objetivo de aproximá-lo das pessoas que o lêem. Se comparar o texto original do Linus com a tradução vai ver que foram tomadas liberdades de alterar algumas pontuações, inverter a ordem das orações, substituir expressões idiomáticas e até alterar tempos verbais. O resultado é que o texto fica mais legível, mais fluido, como se o Linus tivesse nascido aqui. A gente avisa, porque há vários tipos de tradução, começando com a literal, que se aferra ao texto original, mas fica meio desconjuntada, ainda que extremamente fiel, até a livre. Como a entrevista de Torvalds não é um texto sagrado, mas um diálogo descontraído, a tradução livre é a mais adequada.
Veja um exemplo de tradução literal e tradução livre:
I think Hurd is dead. See above on why. It has a "big vision", and people forgot about the details, and forgot about admitting when they went wrong. So the project stumbled, and _still_ didn't bother to look down on the ground.
Tradução literal:
Eu penso que o Hurd está morto. Veja acima sobre o porquê. Ele tem uma "grande visão", e as pessoas esqueceram a respeito dos detalhes, e esqueceram a respeito de admitir quando elas erraram. Assim o projeto tropeçou, e _ainda_ não se incomodaram em olhar pra baixo no chão.
Tradução livre:
Pra mim o Hurd morreu. Veja o porquê acima. Foi concebido como um "grande projeto", mas os caras ignoraram os detalhes e se recusaram a admitir seus erros. Então o projeto fracassou, mas _nem assim_ se dignaram a baixar a bola.
Delenda Carthago
Parabens por ter traduzio o texto para quem não podia ler, foi realmente uma grande iniciativa.
Na minha opnião esta foi uma ação que remonta os ideais do software livre que é o do compartilhamento de conhecimento com todos.
10 para você.
LT: Pra mim o Hurd morreu.
Na outra entrevista do Linus há alguns dias eu havia dito que gostava (e gosto) dele porque ele falava francamente/diretamente e aqui não foi diferente, conforme expus acima. Sou um fã de carteirinha da Debian (embora use o Kurumin com muito orgulho). Respeito a opinião do Linus, assim como de qualquer outro. O fato que me marcou aqui foi a frase dita por ele e exposta acima, conforme também disse na entrevista anterior: sem rodeios. Difícil encontrar hoje em dia alguém assim...
Mas como ele mesmo disse, ele desconheçe o projeto como está, o hurd abaixou a cabeça, e assumiu falhas no design, hoje está voltado para a migração para o L4, mas tambem o Linus eh meio egocentrico, para ele o melhor modelo de desenvolvimento é o do linux, quem nunca viu aquela famosa lista de e-mail dele brigando com o criador do minix pq um kernel monolítico é melhor? o que é comprovadamente o oposto, a grande questão está na complexidade de um sistema com microkernel, que se não for bem cuidado pode se tornar impraticável, e foi aí onde o hurd errou, ele se descuidou, e agora tá recomeçando o projeto praticamente do zero.
Delenda Carthago , Parabéns pela sua tradução. Isso é uma coisa muito bacana. Gastar seu tempo para traduzir as coisas especialmente pensando nos outros é bem legal.
o br-linux poderia criar uma area de traduções :)
Delenda Carthago,
Parabéns e muito obrigado pela tradução. Trabalho com educação pública em software livre e sua tradução ajudou em algumas aulas de diversos educadores.
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