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Os muros falam o que a mídia cala

Notícia publicada por brain em abril 1, 2004 09:34 AM | TrackBack


O Antonio Marcelo (amarcelo@cblinux.com.br) enviou este link para a coluna dele na Geek e acrescentou: "Escrevi na minha coluna semanal da Geek uma opinião sobre a Veja e toda a campanha que está sendo veiculada com informações enganosas sobre o Linux. Gostaria muito que as pessoas, pudessem dar uma lida e emitir uma opinião a respeito."

 

Comentários dos leitores
(Termos de Uso)

» Job () em 01/04 09:52

A Veja, devia mudar o nome para Vejo.

Lembrei da grande empresa na familia dinossauros

Vejo:
"NÓS ESTAMOS CERTOS"


» EAC () em 01/04 10:52

Não me estranha nada a posição da Veja por que é a mesma posição do Grupo ABRIL.
É assim com o UOL, com a INFO, EXAME.
Matéria de origem duvidosa, tendenciosa e de credibilidade questionável.
Simplismente os ignoro e os repudio e quando me perguntam se quero assinar alguma revista do grupo Abril, simplismente respontodo : "ODEIO O GRUPO ABRIL, NÃO QUERO NEM DE GRAÇA."


» Civita () em 01/04 10:53

O estilo Veja de elaborar reportagens:

http://www.oficinainforma.com.br/semana/leituras-20000513/1.htm

A verdade sobre o crime de Veja *
(Maio de 2000)

Talvez o fato de trabalhar para a empresa que se acusa me faça cúmplice. No entanto, algum lampejo de honestidade me ilumina a razão e, por isso, vos narro o que sei. Há anos vivo os melindres da profissão e da filiação ao império Abril. É pena que o colega Mário Sérgio [Mario Sergio Conti foi diretor de redação da revista Veja entre 1991 e 1997 e é autor de Notícias do Planalto - A imprensa e Fernando Collor, Companhia das Letras, São Paulo, 1999] tenha contado tão pouco do que lá se passa. É pena que tenha omitido detalhes importantes das trapaças arquitetadas pelos arrogantes senhores do resumo semanal. A revelação de tais fatos certamente macularia sua já arranhada reputação. Mas se a disputa se dá no campo da falta de ética, é certo que será superado pelos senhores Tales Alvarenga e Eurípedes Alcântara. [Tales Alvarenga é o atual diretor de redação de Veja e Eurípedes Alcântara é o seu redator chefe]

De Mário Sérgio Conti tudo se pode dizer. Que é bruto com as mulheres, que fuma demais e que obriga seus subordinados a coletar argumentos para justificar falsidades. Dos outros dois, pode-se esperar ainda empáfia e ignorância. O primeiro é capaz de recorrer ao Dedoc [Departamento de Documentação da Editora Abril] para descobrir se Vinícius de Moraes está vivo ou morto. O segundo, dublê de cientista e Don Juan da casa, é capaz de fundir boi e tomate numa fantástica e exclusiva descoberta [Barriga histórica de Veja, baseada em falsa matéria científica que "demonstrava" a possibilidade de fusão genética de animais com vegetais. A matéria, copiada de uma revista estrangeira, havia sido publicada como brincadeira de 1º de abril.]. Diagnóstico: a arrogância é tanta que não lhes cabe mais perder tempo com a aquisição de conhecimento.

O garoto de recados da Camorra editorial é o sr. Eduardo Oinegue [Eduardo Oinegue é um dos cinco editores executivos]. Veja bem: Oinegue ao contrário quer dizer Eugênio. O que significaria a eugenia para o império dos Civita? Oinegue foi criado no laboratório da casa. Nunca trabalhou em qualquer outro órgão de imprensa. Saiu diretamente dos bancos escolares para Veja. Mantinha os contatos sujos com Cláudio Humberto [Cláudio Humberto Rosa Silva foi o porta-voz do presidente Fernando Collor], no ínicio da década. Hoje, chafurda na lama das matérias plantadas, dos panfletos encomendados pelo governo.

No dia 2 de maio, Alvarenga recebe um telefonema do "chefe supremo". O "filho do pato", alguém diz. Não, a secretária é quem lhe passa a senha. É do "mata-ratos", diz [Ministro Angelo Andrea Matarazzo, chefe da Secretaria-Geral de Comunicação de Governo da Presidência da República]. O diretor de redação está distante da sede naquele momento. O contato, no entanto, é feito rapidamente. Um homem de confiança do presidente Fernando Henrique Cardoso pede uma contrapartida. Afinal, a revista teria "batido" indiretamente no governo ao espicaçar a festa dos 500 anos. Alvarenga defende-se. Segundo ele, a revista "livrou a barra do governo" ao insistir na teoria "Dinamarca". Trata-se da informação de que o governo deu tantas Dinamarcas aos índios e beneficiou um mar de famílias com novas doações de terra. O diretor afirma que o governo saiu "limpinho" da história e que sobrou mesmo só para o "paranaense", numa referência ao ex-ministro Greca [Ex-ministro do Esporte e Turismo Rafael Valdomiro Greca de Macedo, coordenador dos festejos oficiais dos 500 anos].

Do outro lado da linha, o senhor Matarazzo pede novamente uma contrapartida. Alvarenga lembra que já se produz uma matéria sobre o MST, mas que não sabe quando será publicada. "Agora", diz o emissário governista, afirmando que "tudo já está acertado com o dono". Alvarenga ri e pergunta se há qualquer encomenda. "Bota aí esse negócio da Dinamarca. É um país titica, mas dá impressão boa" [O trecho publicado, na página 47, ficou assim: "Depois de receber 22 milhões de hectares de terra, área equivalente a cinco Dinamarcas, o MST acrescentou um item novo ao seu tradicional discurso. Agora, a tônica das reivindicações dos sem-terra deixou de ser a distribuição de terras e passou a ser distribuição do dinheiro público - daí a invasão dos prédios do Ministério da Fazenda e da sede do BNDES, no Rio de Janeiro"]. Alvarenga dialoga com Alcântara e decidem convocar "Oinegue-boy" para executar o serviço sujo.

Começa rapidamente a operação. Durante a semana, Oinegue repreende duramente um repórter que não estaria "cooperando" para rechear o trabalho contra o MST. Discute-se a capa. Dois ou três editores executivos oferecem sugestões. Oinegue fala em "baderna", palavra sempre utilizada para desqualificar adversários de Veja. Os iluminados do semanário não sabem, mas "baderna" era termo freqüentemente utilizado pelo sociólogo Oliveira Viana e pelo pensador católico Jackson Figueiredo, ideólogos do Integralismo, movimento de inspiração nazi-fascista da década de 30. Usavam-no para caracterizar a "anarquia liberal". Decidem que "tática" é palavra importante na chamada "porque lembra futebol e fala fundo ao espírito brasileiro".

Alguém cita uma matéria sobre a Coréia do Norte. Oinegue manda utilizar os termos "Coréia Comunista" e "morta de fome". A revista precisa reforçar subliminarmente a mensagem contra o MST. Escolhe-se uma foto de agricultores para ilustrar a matéria. A legenda é "agricultura fracassada e crianças subnutridas: o país mais isolado". Num telefonema à redação, Alcântara sugere o uso da palavra "fracasso e fracassado". "Dá sempre certo. A Globo não cansa de usar o termo para avacalhar com greves gerais. Desmobiliza os caras e fode tudo".

A baixaria continua. Nova reunião é marcada entre os chefes. Uma repórter participa. A idéia é pintar o "vilão" da história. Não existe fantasma sem cara. Stedile é o preferido. Alguém sugere colocá-lo no "corpo de Guevara", outro sugere o corpo do cangaceiro Corisco. Resolvem, por fim, realizar uma montagem em que o líder do MST aparece com uma pistola na mão. É um suposto James Bond do mal. Alguém alega que "pode dar processo". "O dr. Civita [Roberto Civita, presidente e editor de Veja] diz que pode mandar bala", afirma Alvarenga. O chefe da arte morre de rir ao ver o resultado. "Ficou bem bandido mesmo". Na página anterior, o compenetrado Fernando Henrique Cardoso aparece em foto de gabinete. Sério, parece zelar pela segurança dos brasileiros.

Pede-se a um repórter que ouça vozes da condenação. "Ouve lá o Celso Bastos [Celso Bastos é professor de Direito Constitucional em São Paulo]. Pra tacar pau na esquerda ele é ótimo, e sempre atende". O clima na redação não é dos melhores. Arranja-se uma foto da Folha Imagem, com um suposto sem-terra chutando uma porta. A matéria vai sendo escrita e reescrita. Há uma frase encomendada, introduzida de última hora: "(Cria-se) assim um mundo em que o MST desempenha o papel do Bem, num cenário maniqueísta em que o governo FHC é o Mal".

Dois repórteres são muito elogiados pelo editor executivo pelo empenho. Um deles afirma que o termo "baderna" caiu muito bem na história. É uma pena que não tenha se divertido antes. Baderna é o nome de uma dançarina que despertou paixões em sua passagem pelo Rio, em 1851. Os rapazes da época faziam ruído durante suas apresentações. Baderna, doce baderna. Dizem que era linda.

* Esta carta, redigida por um funcionário da Editora Abril que prefere se manter anônimo, por razões óbvias, circulou na Internet em maio de 2000.


» João Melo () em 01/04 11:34

Há tempos, aqui no BR-LINUX, disse eu que necessitamos ser idealistas, termos uma posição, oposta ao império - qualquer império.
Alguns entenderam se tratar de politização do movimento, o que é verdade. Outros ainda, que não se deve radicalizar, o que é besteira.
Pois é isso: o império ataca e ataca e nós ficamos aqui, falando para nós mesmos que devemos agir (não reagir).
Ora, a Editora Abril e os grandes conglomerados têm o rabo preso aos interesses do império, e assim deve continuar, até que se toque no ponto mais frágil deles: o bolso.
Mas, então, como fazer se não temos dinheiro? Dizendo de que lado estamos, atuando de forma política, buscando o bem comum, que é o bem da maioria, sem subterfúgios do tipo: "Ah, mas se eu preciso do software X para o meu trabalho, não quero nem saber do similar aberto, pois ele ainda não está bom."
Lembrar sempre que ter opinião oposta não significa ter ou agir com ódio.
Pois é: em suma, NADA MUDOU. MAS EU SEI QUE ALGUMA COISA ACONTECEU... (ou está acontecendo) :^) )


» Civita () em 01/04 11:59

[Peço desculpas pelos longos "posts", mas acho que pior é estar desinformado.]

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=270IMQ006

ATAQUES EM MADRI
O terrorismo da Veja

Dioclécio Luz (*)

O ano passado não acabou. Não acabou nem a Idade Média. A Inquisição atua nas portas das escolas e dos cabarés punindo os que ofenderam o santo nome de Deus e da Madre Igreja Católica. Nem passamos ainda pelo nazismo. Nas telas, o filme de sucesso mostra a tortura e o assassinato, lento, detalhado, de um homem dito santo. É a civilização.

Este é o mundo da revista Veja. E quem não estiver com ela está contra ela. Só a Veja (e, claro, o Jornal Nacional da Globo) ainda não percebeu que temos no mundo um neonazista chamado George W. Bush. A Veja, com seus olhos melecosos de um jornalismo fundamentalista, vê em Bush a salvação do planeta. Devemos aceitar a hegemonia norte-americana, com sua cultura bélica, seu mando comercial, sua competência para invadir outros Estados, e a capacidade de impor suas idéias ao jornalismo subserviente. Ou aceitamos isso ou seremos iguais aos bandidos, no caso, os terroristas.

Na edição nº 1.845 (17/3/04), a Veja coloca na capa a cena trágica do ataque aos trens de Madri. Sangue e morte. A legenda ensina: "As vítimas somos todos nós". Isto é, transfere para nós, brasileiros, uma guerra declarada pelos norte-americanos aos que não aceitam sua política nazista. O texto, assinado por Jaime Klintowitz, faz a autopsia do crime, apela, usa uma expressão típica dos fundamentalistas que ele condena: "O terrorismo é o pecado original do século XXI". Como é que o jornalismo usa uma expressão dessas? "Pecado" vem de pecatum, erro. Não caberia aqui se fosse um jornalismo, digamos, sério. Mas não é jornalismo, é pregação. No caso, pregação contra o Mal – o terrorismo é tudo aquilo que não seja "civilizado". A repórter Vilma Gryzinski, na mesma edição da Veja, repele as ações dos terroristas: "É exatamente aí que está a semente de propagação do mal". Mas parece uma frase retirada de um livro sagrado. Pergunto: o caso da Veja é teológico?

Na edição seguinte (nº 1.846) a Veja insiste na sua tese escatológica. Mais uma vez o terrorismo é apresentado como Mal do Século. Nas cartas à redação pede desculpas ao leitor por ter colocado uma foto de sangue na capa. Mas é que "a selvageria do ato exigiu". Selvageria, explique-se, é coisa de selvagens, bárbaros, incivilizados. É preconceito contra os índios, contra nós do Terceiro Mundo.

Na edição do dia 17 a Veja comete – intencionalmente, claro – alguns esquecimentos. Por exemplo, como tudo começou? Por que e como Bin Laden se tornou terrorista? Não conta que a família Bush teve negócios com Bin Laden, e de como seu grupo foi armado pelos Estados Unidos para defender o Afeganistão da ocupação soviética. Todo mundo sabe disso, menos a redação fundamentalista da Veja. A Veja também não conta que o atentado de 11 de setembro jamais teve um autor assumido. Até hoje o que os Estados Unidos apresentaram foram presumíveis vídeos em que Bin Laden e seu grupo festejam o acontecido. Se fosse um jornalismo sério (aí é querer demais) questionaria essas fontes.

"Poderia", "seria"...

Sobre o caso, vale lembrar que a Veja, na época da queda das duas torres, descobriu até uma célula de Bin Laden em Foz do Iguaçu!

Na defesa escatológica dos Estados Unidos, a Veja trata como idiotas aqueles que dizem que os Estados Unidos têm uma proposta nazista. Ora, um país que tem bases militares em todos os continentes (somente na América do Sul são 20), tem quase 1 milhão de soldados espalhados nessas bases, já invadiu pelo menos 20 países somente no século passado certamente não pode ser considerado um exemplo de santidade. Mas para a revista não é estranho que os Estados Unidos invadam o Afeganistão procurando, feito um caubói alucinado, os pretensos autores dos ataques às duas torres de Nova York. Até hoje não acharam nada, mas já mataram mais de 3 mil civis, incluindo mulheres e crianças. Para a Veja o combate ao terrorismo justifica isso.

Depois do Afeganistão veio o Iraque. Qual a desculpa oficial para atacar o Iraque? Existência de armas de destruição em massa. Passou-se um ano e não acharam nem um traque. Era uma mentira, que a Veja se encarregou de distribuir a seus leitores. E não foi por inocência. Nenhum jornalista pode alegar que o ataque ao Iraque foi por conta de um iminente perigo de Saddam Hussein. Se disser isto está mentindo. Todos nós sabemos que o ataque era para derrubar o ex-aliado Saddam Hussein, roubar o petróleo iraquiano e manter o poder militar e econômico dos EUA na região. No mínimo. Mas, o que fez e ainda faz o nosso jornalismo de araque? Ainda insiste em reproduzir os releases do Departamento de Estado norte-americano. E todo dia, num "vídeo secreto" encontrado pelos EUA, ficamos sabendo que ali poderia ser uma fábrica de armas químicas, naquelas montanhas poderia estar Bin Laden, a al-Qaida poderia estar associada aos que fazem a resistência à invasão norte-americana ao Iraque, aquele ali poderia ser Bin Laden... Em jornalismo a gente sabe que o "poderia" é informação pobre, quase fofoca. Mas nessa nossa grande imprensa subserviente "poderia" é notícia no horário nobre e nas páginas centrais da revista Veja.

Na mesma edição nº 1.845 a Veja se preocupa em demonstrar que o terrorismo é mais uma questão de fé do que de ideologia, e, portanto, foge ao controle da razão. Entenda-se, tratando essa gente como insana justifica-se a sua eliminação. Matar é justo.

O jornalista Jaime Klintowitz diz que o atentado em Madri "poderia (de novo o "poderia) se tratar de uma nova investida dos fanáticos da al-Qaida", que, segundo ele, seria responsável pela derrubada das duas torres. Cita "um dos mais respeitados estudiosos" de terrorismo (?), um norte-americano, e ainda insiste teologicamente em que "o terrorismo é o mal do século".

Concepção de eugenia

Num certo momento ele quase trai sua gente: "No século passado, por ideologia e oportunismo, muitos países passaram a financiar e organizar o terrorismo internacional..." Que países? Ah, isso ele não conta. Os Estados Unidos não poderiam ser citados como ex-aliado desses que hoje são considerados terroristas.

A Veja se preocupa em difundir o terrorismo como um mal global e sem ideologia, intenções. Define: "O terrorista desse início de século é o membro anônimo de um grupo com mentalidade de seita, cuja motivação é uma incógnita para o mundo exterior". O mundo "exterior", traduzo, é a civilização. "Incógnita" é por conta dele.

O repórter Mario Sabino, na mesma edição, avança na tese do barbarismo versus civilização. Em certo momento ele afirma que "O terror mata e mutila homens e mulheres, para matar e mutilar valores e princípios humanistas". E ficamos sabendo que a civilização ocidental (onde mais se mata por motivos fúteis) é humanista. Depois acrescenta que o terror (os bárbaros do deserto), segundo "os filósofos modernos" (?), querem "a retribalização, a volta à tribo". E conclui: "É contra a civilização, enfim que o terrorismo atenta". Então esclarece a nós que "foi em favor da civilização que multidões tomaram espontaneamente as ruas (da Espanha)..."

O terrorismo seria uma coisa de alucinados perdidos no tempo. Ora, todos esses grupos terroristas declararam guerra ao poder norte-americano e agem de forma organizada. Alucinados? Ao contrário do que faz entender a Veja, eles não estão em guerra contra o Brasil, comigo, com você, caro leitor. Regra geral, eles lutam contra a tentativa nazista norte-americana de dominar o mundo pela bala e pelo mercado. Podemos discordar do método, mas é uma guerra. E numa guerra vale tudo, e numa guerra os civis e a verdade sempre são os primeiros a morrer. O ex-presidente espanhol, infelizmente, expôs seu povo a essa guerra desnecessária; uma guerra que não era do povo espanhol. Ele, junto com os autores, deveria ser julgado pelos mortos de Madri.

Mas, segundo a Veja (e a TV Globo), o que está havendo é uma luta entre a barbárie e a civilização. Diz Jaime K.: "Osama Bin Laden e os seus não querem destruir o mundo, é bom que se diga, mas apenas a civilização ocidental, seguindo pela conversão do restante da humanidade ao islamismo. Como deve a comunidade internacional lidar com um homem movido por tal objetivo?" Ora, essa pergunta (ilustrada por imagens de mortos nos trens da Espanha) pede uma só resposta: matá-lo.

É evidente que há uma concepção de eugenia nessa divisão. Nós, os ocidentais, moradores da urbis, somos superiores aos homens do deserto. Aniquilá-los, portanto, é permitido.

Duas dores

Isso lembra uma história bem brasileira. Quando, em 1897, Euclides da Cunha aceitou escrever sobre o caso de Canudos, para o jornal Estado de S. Paulo, tinha uma visão parecida. Conforme o noticiário da época e a ciência dominante, Antonio Conselheiro e seu grupo se constituíam num bando de malucos que lutavam contra a civilização – por isso deveriam ser exterminados da face da Terra. E mais, Euclides tinha uma tese: o semi-árido, a caatinga (nosso "deserto") é subnatureza, e ela só podia gerar uma sub-raça, o nordestino. Era a luta da civilização contra os bárbaros. Felizmente Euclides da Cunha, ao conhecer in loco esse povo do sertão, tomou juízo, corrigiu-se e disse a verdade: foi um massacre. Mas os jornalistas da Veja não conhecem Os sertões. O livro fez 100 anos, e os jornalistas de hoje ainda reproduzem a mesma visão tendenciosa e mentirosa da época. Não parecem dispostos a falar a verdade: Iraque e Afeganistão se constituíram em invasões nazistas, marcadas por um massacre sobre a população.

O problema desse jornalismo teológico é que a verdade é escamoteada e a história, jogada no lixo. A Veja gasta oito páginas e não diz qual o real motivo das invasões norte-americanas. E, o mais importante, não diz que graças a tais intervenções foram acirradas as guerras, as disputas religiosas e políticas, as matanças generalizadas. Não diz que a guerra entre Israel e os palestinos é patrocinada pelos Estados Unidos. Não diz que os Estados Unidos praticam o terrorismo de Estado e que se constituem na única nação condenada pela ONU pela prática do terrorismo. Os caubóis fizeram explodir o barril de pólvora.

No caso do Iraque, vale indagar quem são os terroristas. Os norte-americanos, que invadiram o país, mataram homens, mulheres e crianças, destruíram santuários, residências, museus...? Ou os que lutam contra essa invasão? Confesso, se isto acontece no Brasil, se me aparece um bando de ladrões e assassinos invadindo este país, com ou sem farda, sou o primeiro a lutar contra eles.

O que aconteceu na Espanha, e a Veja tenta manipular, foi o óbvio: quem se alia a alguém para um ato de guerra está sujeito a reações. E a reação foi brutal, sanguinária: morreram 200 pessoas. Para a Veja a reação é sempre terrorista. Não considera que se há uma guerra, ainda mais uma guerra imposta por um país estrangeiro que trata o povo nativo como sub-seres, a reação sempre vai ocorrer. E não me venham falar em civis inocentes. Civis inocentes morrem todo dia no Iraque e a Veja não defende com a mesma paixão com que defende os mortos de Madri – é porque os de Madri, para Veja, são superiores, fazem parte da civilização. A dor em Madri não se paga. A dor no Iraque não se conta. Os crimes estão sendo cometidos. Há uma guerra em curso e os espanhóis reagiram na hora, tirando o presidente que os colocou nessa arapuca.

Direitoso e pobre

Finalmente, há que se ver o que é terrorismo. Na semana passada, Ariel Sharon, sob orientação de George Bush, matou o líder espiritual Ahmed Yassin. Não prendeu, nem julgou – matou. Olhem o que disse o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo (23/3/04) sobre o caso:

Se o Hamas é, entre outras coisas, um movimento terrorista, se o xeque Ahmed Yassin é seu fundador, líder e guia espiritual, assassiná-lo é uma ação legítima, certo? Errado, se a resposta tiver que ser dada por gente civilizada. Na civilização, até terroristas são primeiro, detidos, depois julgados e, se houver elementos suficientes, aí sim, são condenados, até a morte. Matá-lo como o governo Ariel Sharon o fez é o que a União Européia eufemisticamente chamou de "assassinato extrajudicial". Poderia ser acrescentado que "assassinato extrajudicial" é também um ato de terrorismo.

Também poder-se-ia questionar se essa caçada a Osama Bin Laden, "vivo ou morto", é uma postura legal, decente, justa. Afinal, a gente sabe, a al-Qaida nunca assumiu o atentado. Vale questionar o fato de os EUA seqüestrarem 600 pessoas, incluindo adolescentes, e manter sob cárcere privado, em condições subumanas, num país estrangeiro (Base de Guantánamo, em Cuba). Mas ao Eixo do Bem tudo é permitido, inclusive matar os do Mal.

Essa coisa do Eixo do Mal é tão ostensiva na Veja que na edição nº 1.846 o jornalista Carlos Graieb, que costuma fazer matéria sobre as ações do MST (demonizando, claro), é transformado em crítico literário indicado para analisar o mais recente livro de José Saramago. Por quê? Porque Saramago é aliado dos sem-terra e, portanto, do Mal. O "crítico literário" alerta o leitor: Saramago é comunista (vixe Maria!), e depois reduz o livro a pó.

Diante disso tudo, diante da defesa apaixonada, alucinada, insana com que a Veja defende os interesses norte-americanos (contrários aos do Brasil, inclusive), deixo duas perguntas: 1) Estará a Veja sendo patrocinada pela CIA ou pelo Departamento de Estado norte-americano? [ver remissão abaixo para trecho da entrevista de Carlos Costa, ex-diretor do FBI no Brasil, à revista Carta Capital] 2) Quanto ela estaria recebendo para fazer esse papel? Talvez esteja aí a explicação para esse jornalismo panfletário, e tão radicalmente direitoso e pobre praticado pela Veja nos últimos anos.

(*) Jornalista, autor do livro Trilha apaixonada das rádios comunitárias, integrante do Conselho de Acompanhamento da Baixaria na TV, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados

Manipulação da mídia brasileira
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=269FDS003


» Job () em 01/04 12:09

Fantástico todos os comentários acima.

Vou gravar hoje em mogg, a reportagem sobre a mamata de 4 bilhoes para salvar a Globo.


» jcassale () em 01/04 12:43

A bem da verdade, isso não é "privilégio" da revista Veja. Toda a mídia, escrita, (talvez a Carta Capital foge um pouco dessa linha) falada e televisada, estão a serviço dos interesses do Império, que são os interesses de seus monopólios - Microsoft, Intel (é estranho que quase ninguém fala dela), ... etc.


» Carlos Araujo () em 01/04 13:11

Caros,

A propósito da midia brasileira, sugiro a todos a ótima entrevista do Mino Carta da revista Carta Capital.Ele desvela o que há por detrás dos podres dos grandes jornais e revistas deste país sem imprensa.


» André Michi () em 01/04 13:29

Civita, excelente reportagem. Felizmente algumas pessoas estão começando a acordar.

Falou

André Michi


» Job () em 01/04 13:33

Sim a Intel é domina o mercado, mas não chega a ser um monopólio. Tem grande parte do mercado, mas no Brasil, acho que reina a AMD, penso eu.


» FatTux () em 01/04 13:59

Putzgrila! Ainda bem que tem mais gente percebendo a dimensão do nosso mundo de sonhas, a ilusão que é a nossa Matrix, a Direita Americana...

E à revista Veja, que tome vergonha na cara... Tão revoltante quanto a direitóide revista principal, ainda temos a Vejinha, que não passa de uma vitrine do pessoal "bacana" local... Em uma manchete da capa, a Vejinha SP soltou a pérola, mais ou menos assim: "As marcas de grife (Daslu, Vuitton, Mont Blanc, etc) chegaram com tudo em SP e estão vendendo loucamente"... Loucamente? Em que planeta???

Lixo de revista!


» chimpa () em 01/04 15:00

Simplismente fantástico o texto acima.

Ao meu ver, a grande revolução causada pela Internet e a idéia/filosofia do Software livre vem de frente com um dos maiores poderes de controle: manipulação de informação. Isso fica claro pra quem já viu filmes como 'O nome da Rosa'.

A exposição de todo e qualquer tipo de informação - textos, pesquisas, histórias, músicas, fatos históricos - deveria ser direito básico de todo ser humano. É uma necessidade humana conhecer a verdade. E nesse ponto mora o perigo.

Há duas formas de se controlar alguém:
- violência ou manipulação

Ambas diferem na clareza de seus objetivos - o primeiro é feita contra vontade. Agora o segundo é igualmente terrível por que viola a inteligência alheia. Sempre foi feita em toda história da sociedade, usando diferentes técnicas/métodos.

Quer ver um exemplo claro (e perigoso) disso ?
Pergunto ao leitor: a sua cidade certamente possui uma igreja Universal ? aham

Existem outras centenas de exemplos no nosso dia-a-dia. Informações precisam ser filtradas e para isso precisa-se de educação e bom senso.
Daí a importância da inclusão digital.

O movimento Software livre *deve* sempre seguir essa trilha. Mas não se enganem - todo grande movimento, com diversos adeptos, *sempre* serão almejados pelos manipuladores. Mantenha sua fé na idéia, e nunca num bando de siglas.

Free your mind


» Ronaldo Yoyart () em 01/04 15:02

Se alguém quiser o Comentário de Um dono de Empresa(Equipamente de pintura elétrostática) sobre software livre falem comigo, pois a Empresa CETEC utiliza Linux como servidor da rede, e OO como software de escritório.
Eu sou a pessoa q da suporte neste local e ele disse q da entrevista numa boa para defender o software livre, mostrando que seus gastos diminuiram, bem como o tempo de disponibilidade aumentou.

http://www.sanet.com.br/~cetec/index.htm


» Alex-Gurgel () em 01/04 16:42

Achei interessante um comentário, feito por meus pais (ambos usuários do Windows - casa de ferreiro, espeto de pau... ) sobre a Veja: São tão tendenciosos que deveriam se chamar Veja como eu não te escuto !
E pensar que, nos Anos de Chumbo ( ditadura militar ) era normal encontrar bons artigos contra o poder estabelecido ( que sempre compactuou com os EUA ). Bastou o fim da ditadura que a Veja, imediatamente, se bandeou para o outro lado.
Pelo menos todos que vieram me comentar sobre essa reportagem tiveram opiniões parecidas: apenas FUD.


» Job () em 02/04 09:10

Caro Ale-Gurgel,
Bom, a Veja sempre compactou com os USA,
os artigos "contra o poder estabelicido da época", era porque apesar de os EUA escolherem o presidente do Banco Central deste 1969 (Leia em Bautista Vidal

Os EUA, acreditam que os regimes democráticos são mais seguros para seus interesses. Porque, é mais fácil controlar "os destinos democráticos" através dos meios de comunicação. Lições de Hitler. Assim, quem estiver "no poder" estará sempre subjulgado pelo Banco Central, ou pela midia "livre". Veja, o caso do Iraque, exxibiu-se o horror do atentado contra 5 americanos, mas a midia não mostra o horror imposto aos Iraqueanos, e nem explica o porque de tanta revolta, "ja que estão la pelo bem deles".


» Job () em 02/04 09:11

Leiam esta entrevista.

http://carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/grandes_entrev/bautista.asp


» Dennis () em 02/04 09:13

O estranho é que as newsletters da revista info (que por sinal já foi bem melhor) vem escrito no rodapé:

>> Powered by Linux

Precisa mais algum comentário???


» Felipe () em 02/04 16:52

Eu sei que é "off-topic", mas já que o assunto envolve revistas nacionais de notícias, não poderia deixar de recomendar uma outra, que ainda não foi mencionada aqui: "Primeira Leitura". Na verdade, não é uma revista semanal, nos molde de "Épocas", "Vejas" e genéricas, mas um site de análise política e econômica que publica, mensalmente, uma revista com reportagens e análises especiais. É muito interessante, mas um aviso: não irá agradar aos petistas mais radicais!


» vesgo () em 02/04 17:26

Veja, veículo deformador de opinião
outdoor ambulante


» C'K () em 02/04 17:57

MONOPÓLIO???

TODO MUNDO FALA DA M$ mas ninguem fala da CISCO!!

essa empresa, trabalha contra a comunidade, contra o linux, e contra ao uso de maquinas antigas para fazermos roteadores!!

A CISCO é tão suja quanto a MS, eles querem agora controlar TOTALMENTE O MERCADO de redes, deixando quem usa linux sem mercado no mundo de redes, roteadores, vpn, e etc!!

Se já nao chega a MS, ainda temos que confrontar com pilantras gringos dessa empresa gringa!!!

A CISCO detem quase 90% do mercado mundial, ela é conhecida no mundo de networking como a "MS das redes"

Os métodos de trabalho dessa empresinha, são os mesmos usados que a MS, certificações pra arrecadar $$$$, custos altos com hardware pra redes, lançamento de livros mal traduzidos e lançamentos de livros SOMENTE em versão antiga para lingua portuguesa, ou seja, caso qualquer outro país em que as pessoas não falam inglês, sempre terão tratamento desfaforável!

Além disso a CISCO faz de tudo pra destruir seus concorrentes que usam linux, vide (CYCLADES)!!

Sou do mercado de redes, fico indignado em ver a mesma politica da MS sendo transferida para o universo das redes, é mais ou menos uma espécie de acordo, a MS domina o software, e a CISCO, domina a tecnologia de protocolos de redes!

Está na hora de começarmos a nos livras desses vampiros que sugam nossos recursos e subornam nossos trabalhos!


» Cobarde Anonimo () em 02/04 18:03

Essa entrevista é de dar medo e arrepios.


» Enrique César () em 03/04 04:15

Apenas para deixar registrado:

"Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz" Raul Seixas


» Cassio Eskelsen () em 03/04 10:48

Felipe,

Valeu a dica. Eu nao conhecia esse site! Muito bom mesmo :-)

Abraços

Cássio


» clayton da S. C. Junior () em 04/04 00:48

Olá pessoal, esse tipo de noticia é feita porque?
Eu respondo, já ouviram falar que povo "burro" é mais fácil de se controlar tudo que disser a esse povo ele dirá amém sem fazer perguntas.
Entaum o que acontece com esse tipo de mídia eles mostram o que eles querem do jeito que eles querem ou seja, naum mostram o que realmente é.
Faz mais de um ano que uso Linux, muitas pessoas me dizem ".. Você é louco de usar um desses programas "Linux"...", o que acontece é que as pessoas sabem nuncaa usaram entaum dizem que naum presta não funcionam pq naum sabem utiliza-lo por necessita de conhecimentos básicos para funcionar, as pessoas tem preguiça de pensar, desde que comecei usar Linux mudei comecei a pensar mais, raciocinar mais rápido, entender mais sobre tudo, e isso tem me ajudado muito.
E eles querem me privar disso. Não vão conseguir pois se todos nós nos unirmo eles naum terão chance, pois a velocidade que o Linux vem se popularizando conseguiremos vencer mais essa guerra em que o Dinheiro compra tudo, mas não compra nossos ideais pois não os deixameremos acabar com nossa ideias que eles quem esconder pois nossas ideias beneficiam a todos sem custos e
eles querem ganhar dinheiro em tudo.
E vida longa ao software livre e seus idealizadores!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um forte abraço a todos


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