A entrevista de Bruce Perens aos leitores do Slashdot tem vários aspectos interessantes e potencialmente polêmicos, como o que contrasta o número de usuários do Ubuntu (já passou de 20 milhões, segundo a Canonical) e as ativações diárias do Android (mensalmente são ativados mais de 40 milhões), ou a sugestão de que os interessados em apoiar o código aberto voltem a fazê-lo mais por meio da participação direta nos projetos sem fins lucrativos, e não de forma mediada pelas distribuições mais visíveis, cujo compromisso primário obrigatório é com os interesses de seus acionistas ou proprietários, e que em certo momento pareceram a ele serem capazes de ampliar consideravelmente a base de usuários beneficiados pelo código aberto, mas não o fizeram.

Bruce Perens tem um currículo extenso: já foi líder do projeto Debian, criou a Open Source Definition e o Busybox, é fundador da OSI e da Linux Standard Base, e ainda encontrou tempo para participar da campanha que levou à remoção a exigência normativa internacional de saber código Morse para poder obter licença de radioamador.

As suas opiniões são polêmicas, e me fazem pensar mesmo nos pontos em que discordo. Ele fala sobre Open Hardware, sobre LibreOffice X OpenOffice (ele prefere o LibreOffice), sobre o que mudou (e é bastante coisa, apresentada de forma bastante crítica) desde o filme Revolution OS, de 2001, sobre a visão de liberdade de quem consome equipamentos que não vêm com a permissão de usar todos os seus recursos ou com o código-fonte correspondente ao executável que roda neles (como a absoluta maioria dos smartphones e tablets) e o que a comunidade interessada no open source poderia fazer para compreendê-la.

Ele falou de forma bastante intensa sobre o Android (que aliás recém completou 5 anos, parabéns!): por exemplo (e na opinião dele ele), os dispositivos usuais com Android não trazem ao usuário os benefícios da liberdade de software, e ele percebe grande diferença entre os grupos que tentam desenvolver versões alternativas de software para estes dispositivos (e os kits para instalá-las quando o fabricante não quer oferecer esta possibilidade) e os desenvolvedores de software livre que ele conhece.

No mesmo tópico ele aproveitou para abordar o desktop livre atual, falando sobre quanto espaço há para tornar ambientes como o KDE e o GNOME mais atraentes para os não-geeks, oferecendo a liberdade de software a números significantes deles. E sobre a certeza que ele tem de que as atuais interfaces orientadas a tablets, hoje intoleráveis nos desktops, irão melhorar.

Ele também fala sobre licenças livres, patentes, SaaS, a importância ou não do licenciamento livre quando se trata de aplicações de entretenimento, e mais. Gostei da leitura, e recomendo. (via en.wikipedia.org – “Bruce Perens – Wikipedia, the free encyclopedia”)