Se você não tivesse envolvimento prévio com o ativismo de um dado movimento, e encontrasse uma manifestação organizada por um pequeno e ruidoso grupo de integrantes deste movimento, expondo os defeitos (ou características negativas previamente conhecidas) que este movimento vê em produtos com os quais você já simpatiza, em frente ao evento no qual eles serão anunciados, a sua reação tenderia a ser favorável à causa defendida por ele?


Um protesto anterior do mesmo grupo

Eu tenho uma opinião sobre este tipo de manifestação pegando carona em eventos alheios, e vou tentar ilustrá-la contando um causo na forma de crônica:

Certa vez, saindo da aula de Pesquisa de Mercado II, encontrei um grupo ativista panfletando – em frente ao estabelecimento em que eu iria jantar, próximo à universidade – com base em objeções de fundo ideológico (eles descreviam como “éticas”) que eles tinham contra o alimento que alguns clientes do mesmo estabelecimento iam consumir (e que aliás é bastante comum na dieta humana ao redor do mundo há séculos).

Para protestar, “denunciavam” os fornecedores, produtores e distribuidores do produto, distribuindo panfletos e expondo cartazes e até pequenas faixas com palavras de ordem dirigidas não a eles, mas sim aos consumidores que se aproximavam – os que estavam comigo se sentiram hostilizados e foram bastante refratários ao posicionamento apresentado, mesmo quando havia simpatia prévia.

Eu não tinha nada com isso, mas minha curiosidade profissional me levou a perguntar ao gerente a respeito do efeito sobre os negócios, e acabei me surpreendendo: ele disse que o consumo do tal alimento aumentava bastante nos dias em que havia o protesto, e o número de clientes que chegavam nos dias seguintes, por ver o nome do estabelecimento em cartazes e até nos jornais locais devido aos releases que os panfleteiros enviavam, também era considerável.

Ele me contou que era comum os clientes comentarem que “se esses chatos chegavam a protestar ali, é porque o estabelecimento merece ser experimentado”.

Ou seja: a manifestação “pegando carona” no público que já simpatizava previamente com o alvo era pouco efetiva na prática – não atraía novos simpatizantes, não evitava o consumo do produto-alvo, e ainda gerava publicidade para ele.

Isso faz alguns anos, e logo depois houve um racha naquele movimento. Dois de coordenadores (um casal) resolveram parar de panfletar e montaram um simpático restaurante que se especializa em oferecer apenas a dieta que eles anteriormente apenas defendiam com palavras de ordem, com uma proposta interessante: ser mais saboroso do que aquele alimento contra o qual eles protestavam. O restaurante deles já mudou de endereço algumas vezes, mas continua sendo um sucesso até hoje, e algumas daquelas pessoas que se sentiram hostilizadas são frequentadores assíduos.

Os demais integrantes do grupo, que não compartilharam da idéia de uma proposta alternativa positiva, continuaram com as suas panfletagens por algum tempo. Depois foram minguando e sumiram e, coincidência ou não, o restaurante que se beneficiava dos protestos deles hoje não existe mais – mas claro que há muitos outros oferecendo o mesmo cardápio, típico do Sul do Brasil. E quem prefere evitá-lo, ainda conta com a opção de ir ao restaurante dos que cansaram de panfletar e se concentraram em oferecer uma boa alternativa – não só pelos critérios deles, mas também pelos dos consumidores da região.

Quanto ao protesto marcado para hoje, veremos se haverá similaridade. Xô DRM! E que iniciativas efetivas que ajudem os produtores e distribuidores a preferir não empregar estas tecnologias restritivas não sejam ofuscadas pelas demais.

Segue trecho do iG Tecnologia.

A Defective by Design, uma iniciativa da Free Software Foundation, está organizando uma manifestação em frente a um centro de eventos em San Francisco, na Califórnia, nesta quarta-feira 27 de janeiro. Mesmo local, e mesmo horário, de um evento da Apple para a imprensa onde, espera-se, a empresa irá anunciar seu esperado “tablet”.

A intenção da manifestação é protestar contra o uso de tecnologia DRM nos produtos da Apple, que limita a instalação de software em produtos como o iPhone e iPod Touch apenas a programas previamente aprovados pela Apple e distribuídos através de sua “App Store”. Segundo o comunicado no site da Defective by Design, “é vital que estejamos lá para expor o produto pelo que ele sem dúvida será: mais um gabinete sem emendas e tela bonitinha que escondem um novo conjunto de restrições e ameaças à liberdade digital de seu público”. (…) (via tecnologia.ig.com.br)