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Linux in Brazil (Uso do console )

Utilizando a Console Texto

Ademar de Souza Reis Jr. (eumesmo@ademar.org)
http://www.ademar.org/
v0.9

Introdução

Um dos assuntos mais polêmicos no mundo Unix é o do porquê de se utilizar a console texto (e não o modo gráfico).

Ultimamente tem se dado cada vez mais atenção às interfaces, que, cada vez mais belas e cheias de funcionalidades, tem atraído mais e mais usuários aos sitemas UNIX. Em especial ao linux, que vem conquistando cada dia mais os usuários "domésticos".

As interfaces são as responsáveis por dar uma cara bonita ao Sistema Operacional e proporcionar um ambiente agradável para o usuário... Mas será que toda essa beleza é sinônimo de praticidade?

O objetivo desse artigo é mostrar que, embora as interfaces gráficas tenham sua utilidade, utilizar uma console textual ainda é uma das melhores opções para a realização de inúmeras tarefas em um sistema Unix.

Obs. Quando me referir às interfaces gráficas, o farei citando apenas "X", pois esta é a maneira mais comum de se fazer referência ao ambiente gráfico mais utilizado no mundo Unix: o X Window System.

O poder do modo texto

Qual o objetivo de uma interface gráfica? "Facilitar a vida do usuário e deixar a tela mais bonita" é o que você responderia rapidamente... Pois é verdade. O problema é que esse "facilitar" é bastante relativo. Vamos a um exemplo:

Você acha mais fácil mover sua mão até o mouse, clicar em 3 botões e 2 barras de rolagem ou simplesmente pressionar algumas teclas em se tratando de responder um mail? E é mais fácil sair clicando em vários menus ou digitar netsc[TAB]? (para abrir o navegador netscape por ex).

Tarefas simples, como ler e responder mails e notícias, escrever e compilar código e até navegar na internet se tornam trabalhosos demais devido a utilização do mouse e de tantos botões e funcionalidades.

Além de tudo isso, existem fatores como consumo de memória, desempenho das aplicações, tamanho das fontes e universalidade de utilização. Fatores esses que, em alguns casos, podem se tornar críticos.

Obviamente, não há como negar que é bem mais simples de se aprender a clicar em alguns botões do que utilizar comandos como "chmod 755 /tmp/teste -R".

Mas a grande confusão aqui é a mistura entre aprender e utilizar no dia a dia. Em uma interface gráfica, tem-se como objetivo facilitar a utilização e o aprendizado, mas e a praticidade? Ela consegue ser alcançada? Lembre-se que a maioria das interfaces são "frontends" para as verdadeiras aplicações, e essas aplicações são muito mais flexíveis se você as conhecer o suficiente para controlá-las "na mão".

Quer mais um exemplo: Tente achar um equivalente as linhas abaixo em qualquer gerenciador de arquivos gráfico:

for i in *.tar.gz; do
    tar xzvf $i;
done

(A sequência de comandos acima é muito utilizada para executar um determinado comando repetidas vezes em vários arquivos - no caso estamos descompactando todos os arquivos com extensão .tar.gz)

Ok... Chega de tentar convencer que o modo texto é melhor, isso fica por conta do aprendizado e força de vontade do leitor. Vou me concentrar em passar algumas dicas, técnicas e softwares que, ao meu ver, tornam a utilização da console texto uma das melhores e mais práticas características dos sistemas Unix.

Primeiramente, vale lembrar que você pode cumprir boa parte das tarefas e utilizar vários dos softwares aqui citados em um Xterm (Emulador de terminal para o X), mas se você fizer alguns testes, e parar um pouco para refletir, chegará facilmente à conclusão que não vale à pena abrir um pequeno terminal no modo gráfico quando você pode ter toda a área do monitor à sua disposição. (A não ser que seu papel de parede valha muito a pena) :)

Algumas técnicas úteis:

  • Utilizar várias consoles: Na maioria dos sistemas, existem 6 consoles habilitadas, que você pode acessar pressionando Alt + F[1-6] ou Alt + <- e ->. A utilização de várias consoles é extremamente importante. Se você tem acesso root ao seu sistema, vale a pena aumentar o número de consoles editando o arquivo /etc/inittab. (eu por exemplo utilizo 11).

  • Aumentar a resolução da tela Consiste em aumentar o número de linhas e colunas visíveis na console texto. Para isso, você precisa passar um parâmetro ao kernel em tempo de boot: vga=[0-xx]. Você pode fazer isso no prompt do lilo ou editando o arquivo /etc/lilo.conf. A resolução alcançada depende diretamente de sua placa de vídeo, mas você pode conseguir facilmente resoluções em torno de 130 colunas por 40 linhas, o que é bastante útil. Para maiores informações, consulte a documentação do kernel do linux, que você encontra em /usr/src/linux/Documentation/svga.txt

  • Alternar entre o X e a console: Você ainda pode ter uma seção X aberta e alternar para o modo texto e vice versa, utilizando a combinação de teclas "Ctrl + Alt + F[1-12]". Isso é útil quando você realmente não pode (ou não quer) dispensar o X.

    Software

    Agora vou citar uma pequena lista de softwares úteis para a console texto. Vale lembrar que a grande maioria dos utilitários dos sistemas Unix foram criados para ser executados em um terminal (seja a console texto ou um Xterm por ex.). A lista abaixo é uma seleção dos que considero mais úteis, por apresentarem funcionalidades que muitos acham só existir em ambientes gráficos.

    A maioria desses softwares é facilmente encontrada em grandes repositórios de software linux, como freshmeat (www.freshmeat.net), linuxberg (www.linuxberg.com) entre outros. Embora eu tenha citado o linux, esses softwares são em sua maioria portáveis, ou seja, devem compilar e funcionar bem em vários Unixes.

  • ICQ: Pelo menos nas máquinas domésticas, o icq é um dos softwares essenciais pra quem se conecta à internet. Então você achou que precisaria do X para utilizá-lo? Experimente o centerICQ, um cliente ICQ textual com uma ótima interface e todas as funcionalidades que você precisa!

  • Leitor de mail: Ler mail no netscape é quase que uma tortura para suas vistas e bem pouco prático. Experimente o pine, um excelente leitor de mail com uma interface amigável e prática. Para você que baixa mails de um servidor POP (é o caso da maioria dos usuários de linha discada), uma sugestão é utilizar a combinação fetchmail + procmail + pine. O primeiro baixa os mails, o segundo os filtra e o terceiro os gerencia. Embora você possa realizar todas estas tarefas a partir do pine, você verá que vale a pena utilizar um software para cada função, devido a modularidade. Outras alternativas ao pine são mutt, elm, etc.

  • Editor de textos: Editar textos no X é outra mania de quem não consegue ficar longe de um papel de parede... Você deve utilizar o editor de sua preferência. Mas saiba que o emacs por exemplo perde uma série de funcionalidades (como coloração do texto) quando utilizado no modo texto. Vim, pico e mcedit (entre inúmeros outros), são editores desenvolvidos para o ambiente textual, e por isso são boas escolhas.

  • Multimídia: Outra tarefa que você achou que só seria feita no X, não? Ouvir suas músicas em mp3? Experimente o mpg123, ou então o freeamp. Visualizar imagens? Experimente o zgv. Só não encontrei um software para visualização de vídeos até agora (mas continuo minha procura).

  • Navegador (Browser): "Navegar na internet no modo texto é ridículo". Essa é uma frase de quem adora perder tempo esperando pelos gifs animados e backgrounds carregarem. Experimente o links (sim, links, e não o famoso lynx). Ele é um excelente navegador, com suporte a tabelas, cores e, acredite: frames! O lynx é mais famoso, e encontrado em praticamente todas as distribuições, mas é mais "crú", apresentando poucas funcionalidades. [Nota do Editor: o lynx apresenta menos características visuais, mas faz coisas que até Deus duvida]

  • Programação: Embora existam IDE's (Interfaces de DEsenvolvimento) muito bonitas para o X, utilizá-las não é uma regra. Aprender as ferramentas nativas do linux acaba sendo uma ótima opção. A combinação editor + gcc + gdb + make + ... é tudo o que você precisa (em se falando de programação em C, por ex). Mas mesmo assim, existem IDE's para a console texto também!

    Conclusão

    Obviamente, não acho que o X seja uma "perda de tempo". Quis apenas mostrar a você leitor que "existe vida além do modo gráfico". Isso porquê a maioria dos usuários desconhece sua utilidade e acha que isso é coisa pra quem "vive na idade da pedra". Não é bem assim.

    Em especial para os que tem velocidade no teclado e não fazem questão de botões, a console texto é uma opção mais do que viável. E olha que nem levamos muito em conta fatores como consumo de memória e capacidade de vídeo!

    Quantas vezes você já viu máquinas abandonadas em laboratórios só porque não tinham seu X configurado? Você já sofreu com o desempenho de um velho e bom 386 tentando usar o X? Talvez a partir de agora você veja a coisa por outro lado... Ou talvez você pegue gosto pela console texto e passe a desprezar o X, mesmo tendo em casa um Pentium IV 1,5GH com 512MB de RAM. :)

    Lembre-se: O Sistema Operacional não é uma tela bonita. O verdadeiro poder da computação está à frente do monitor, e não necessariamente em botões, menus e balões de ajuda.


    O Arquivo Histórico do BR-Linux.org mantém no ar (sem alteração, exceto quanto à formatação) notícias, artigos e outros textos publicados originalmente no site na segunda metade da década de 1990 e na primeira década do século XXI, que contam parte considerável a história do Linux e do Open Source no Brasil. Exceto quando indicado em contrário, a autoria dos textos é de Augusto Campos, e os termos de uso podem ser consultados na capa do BR-Linux.org. Considerando seu caráter histórico, é provável que boa parte dos links estejam quebrados, e que as informações deste texto estejam desatualizadas.