Arquivos históricos do BR-Linux.org apresenta:

Por que a suíte Seamonkey não agrada mais aos usuários?

Nosso colaborador habitual Caio Begotti (entercaio@uol.com.br) enviou uma peça de opinião onde discorre sobre a evolução e as características de diversos componetes da família Mozilla.

Por que a suíte Seamonkey não agrada mais aos usuários?

Pra você não correr o risco de ficar sem entender alguma parte disso tudo, preciso dizer que eu não sou um fã dos novos softwares standalone do Moz.org; digamos que sou um saudosista usuário do Seamonkey. Contudo, esse texto já começa com uma falha. O Firebird (navegador web standlone) mudou de nome mais uma vez, dessa vez para Firefox. Logo, eu não gosto dos *birds e do Firefox. Se algum deles mudar de nome novamente terei trabalho arrumando esse texto, mas quem se importa? Mas, basicamente, escrevi tudo isso para mostrar como resposta padrão àqueles que me perguntam surpresos: como assim você
não usa o Foofoobird?

Antes de mais nada: por que diabos eu deveria usar o Firefox, Thunderbird ou seja lá quem for?

Eu costumo ser bastante chato quando gosto de determinado software, e o Mozilla é um caso típico. É preciso existir ótimos argumentos pra me fazer largar um software, que funciona, por algo novo e incerto. Pior seria se eu fosse um paranóico por estabilidade, pois acabaria
aplicando essa lógica até mesmo entre versões concorrentes do próprio Mozilla, pois por que eu deveria atualizar ele para a versão 1.6 se a 1.4 me atende satisfatoriamente bem?

Eu decidi manter uma posição bastante cética sobre os *birds (fox ou algo mais, decida você) até segunda ordem e estive acompanhando algumas coisas que fizeram a minha cabeça, as quais listarei no decorrer do texto pra ilustrar melhor a idéia. Não somente eu, mas vários amigos, em especial linuxers de carteirinha, estão achando os *birds coisa de quem usa Windows. Pode se preconceito, claro, mas os ícones coloridos excessivamente, a interface com usabilidade à la Windows (que aliás não era preocupação inicial no projeto Phoenix, pois a idéia era ter um navegador rápido, e pronto) e a íncrivel moda que parece ter virado usar os *birds em belas janelas azuis do Windows XP, me incomoda.

Hmmm, isso me lembra que os screenshots do Moz.org exibem janelas do Windows XP. Se é pra atrair usuários do IE ou não, não me interessa, francamente. Para usuários já basta o novo redesign da página da fundação, focando no usuário final, leigo. Os desenvolvedores, ou os que se viam como um, tem um linkzinho no canto da página para si.

Enfim, mantenho esse ponto de vista straight:

- Porque o Seamonkey possui inúmeros recursos a mais que todos os *birds juntos. É pelo mesmo motivo que eu uso KDE e não GNOME (isso não é um flame bait, mesmo porque acho o GNOME mais bonito, ainda que em um sentido diferente da palavra).

- Porque o Seamonkey é estável há milênios. Apesar de tantos bugs abertos no Bugzilla, o Mozilla se comporta maravilhosamente bem, afinal de contas ele é um software trabalhado e que já deixou a fase pré-1.0 (ou seja, beta, e em outras palavras: se algo der errado, sentimos muito).

- Porque o Seamonkey é relativamente pequeno em tamanho de arquivo, frente a enorme quantidade de recursos e opções que possui.

- Porque o Seamonkey não é um hype, algo momentâneo. Lembra sobre ser saudosista? Pois é, mas isso não significa ser avesso à inovações.

Eu poderia listar de tudo um pouco. Principalmente motivos pessoais e subjetivos. Mas veja, desde que essa coisa toda começou, o navegador standalone já teve 3 nomes diferentes! Pode parecer pouca coisa, mas quem tem a mínima noção de imagem de produtos, sabe que isso é um absurdo e só atrapalha o processo de divulgação do software. Questões legais à parte, é claro (que deveriam ter sido melhor estudadas, evitando assim possíveis dores de cabeça).

Outro problema que pra mim é de suma importância, pois conecto à Internet via linha telefônica comum: o Seamonkey tem 11MB cravados (versão 1.6) e possui navegador, leitor de e-mails, cliente IRC, editor de páginas, DOM Inspector, brinquedos de JavaScript, livro de endereços entre muitos outros recursos e opções de configuração. Bom, mas você pode ser um cara esperto e baixar 17.3MB de softwares instáveis e ter um belo leitor de e-mails e um navegador - e só! Se quiser ter o Nvu, que é um editor de páginas standalone, no mesmo
molde dos *birds, lá se vão outros 10MB! Não vou nem comentar sobre a quantidade de recursos deles, mesmo porque os *birds já ficaram famosos por serem pelados e simples em funcionalidades. Sem dúvida o foco deve ser o de reduzir esses números, talvez quando forem lançados em forma de .XPI instaláveis, mas até lá, e se...

Além de tudo isso, ainda tem o lado político da coisa, principalmente depois da Netscape ter explodido como uma bela estrela gigante vermelha e se reduzido à uma anã branca sem vida. Eu fico me imaginando como um programador que contribuiu com diversos pedaços de código no Mozilla e vê, de repente, os *birds aparecerem e fazerem o grande lagarto parecer velho e out. Possivelmente eu estou completamente errado, espero estar, mas é como se tivessem decidido jogar tudo no lixo em favor dos *birds. Também, o modelo de desenvolvimento dos *birds até pouco tempo era bastante fechado, com o pessoal sendo bastante exigente quanto a contribuições de terceiros. Entretanto, após algumas reclamações a coisa ficou mais aberta e correta, o que de certa forma invalida esse meu comentário, mas ainda assim digno de nota.

Mas pera aí, eu não estou dizendo que os *birds é que devem ser jogados no lixo. Eles fazem parte de uma evolução do Moz.org. Obviamente faz muito mais sentido você criar programas que compartilham a mesma base de código (no caso, o futuro GRE, pense em Java e entenderá). O que eu não entendo é o escarcéu feito em torno deles, o marketing excessivo. Por que ter como carros chefes softwares instáveis, que ainda são bebês e não se equiparam à prata da casa no que diz respeito aos recursos oferecidos? Acredito que teria sido muito melhor retrabalhar o Seamonkey novamente. Fazer uma segunda limpeza. Separar, assim, as funcionalidades da suíte como fazem nos *birds. Enfim, fazer o que deve ser feito, mas sem alarde ou complicação. O usuário final nem deveria saber disso tudo. Ele deveria simplesmente ir ao site local do Mozilla, baixar o release Mozilla Browser e fim da história. É tão difícil convencer um usuário do IE ou mesmo Opera a abandonar seu navegador padrão em favor do Mozilla...

Pense, como se você fosse um usuário doméstico típico, avesso aos novos releases de softwares, pois tal acontecimento não significa nada pra você a não ser um aumento no número que vem ao lado do programa. Você é um feliz usuário do IE, um usuário um tanto alienado à evolução tecnológica, como todos sabemos. Aí aparece alguém dizendo que seu navegador foi ultrapassado por um tal Netscape Communicator. Tempos depois, seu navegador mudou, agora ele se chama Mozilla e o símbolo é um Tiranossauro Rex vermelho; mas tudo bem, é a tecnologia evoluindo. Mais algum tempo se passa e alguém diz pra você que o seu navegador agora se chama Phoenix pra logo em seguida dizer que na verdade é Firebird e o símbolo agora é um pássaro de fogo. Mas espere! Na verdade seu navegador agora se chama Firefox, o mascotinho é uma singela raposa incandescente e você não tem a mínima importância. Seja sincero: isso tudo não é no mínimo confuso pra um usuário comum, que tem mais com o que se preocupar?

Sem problemas, eu paro com o catastrofismo por enquanto; agora é a hora daquelas pegadinhas que insistem em fazer sobre o Seamonkey mas que não fazem o menor sentido:

- Ele é lento? Eu duvido. Já cansei de fazer testes com os *birds e com o Seamonkey e sinceramente o Seamonkey chega a ser ligeiramente mais rápido que eles (notado especialmente após o release 1.5).
Claro, benchmarks são subjetivos e manipuláveis. Sendo assim, desafio você a fazer o mesmo e ver com seus olhos, pois, sem o tal pré-carregamento do Windows, que eu não uso pois prefiro o Linux, os *birds são tão lerdos (ou rápidos, você escolhe o sentido da frase) quanto a suíte Mozilla toda.

- Ele é grande demais? Ou as pessoas não sabem instalá-lo? Porque qualquer um que já tenha instalado o Mozilla sabe que o instalador do mesmo permite personalizar a instalação como você bem entender, instalando somente o que quiser ou é necessário. Quer somente o navegador e nada de ler e-mails? Sem problemas, é possível! Ah, geralmente quem usa os instaladores são usuários do Windows, já que eu duvido que algum linuxer sensato o faz. Todas as distros grandes possuem pacotes próprios para o Mozilla, algumas até mesmo mantêm pacotes separados de cada componente da suíte, inclusive dos pacotes de idioma como é o caso do Debian. Eu já mencionei que o Seamonkey é muito menor em tamanho de arquivo em megabytes? Ah, sim.

- Ele é passado, cara! Sim, sei... claro. Ninguém está apontando uma pistola semi-automática pra sua cabeça te obrigando a usar o Seamonkey (analogia bastante usada, até). Usa quem quiser. O mesmo serve para os *birds. Quem sentir vontade de testar um novo software tem todo direito para tal. O que não tem muito cabimento pra mim é preterir a suíte em favor dos dois betas do momento, envolta de grande publicidade: ei, veja, eu sou legal, uso o Blablabladefogo!

Talvez esse último trecho também explique certo descontentamento aparente de alguns desenvolvedores do Mozilla ao verem como está sendo pavimentado o futuro da suíte. Até pouco tempo atrás estava declarado que a suíte definharia por falta de novas contribuições, pois todas as atenções estariam voltadas ao novos garanhões do estábulo. Montanhas de reclamações depois, a roadmap tem agora uma nota deixando claro que o Seamonkey continuará a ser lançado regularmente em novas versões. Obrigado! As centenas de empresas que tinham produtos baseados no Seamonkey ficam lisonjeadas também. Quem diria, não? Nem pensamos que um dia veríamos o Mozilla 1.6 e agora a roadmap oficial já marcou a data do lançamento provavél do 1.8, para Julho deste ano (2004). Sem dúvida, poderiam simplesmente alterar a versão pra contentar os usuários reclamões como eu, mas nota-se que desde o último release da suíte, mais de mil bugs foram corrigidos, entre outras novidades; ou seja, a suíte é fértil.

Falem o que for, até que os *birds possuem um modelo de criação de extensões melhor (o que tem de ser verdade, pra fazer sentido as suas criações). Na verdade é até possível deixar os *birds com bastante recursos, basta baixar dezenas de extensões do MozDev, que podem, na verdade irão, ficar aquém da suíte na questão de recursos usáveis. Tudo bem, você pode querer usar os *birds por um simples recurso que eles possuem mas o Seamonkey não, ainda. Fica a seu critério. Todavia, ainda continuo afirmando que não existe motivo algum para alguém usar os *birds, salvo os casos de testadores. Softwares betas são para eles, não para os usuários ficarem se desesperando porque determinado plug-in ainda não funciona ou porque o navegador simplesmente fecha com erros sem sentido (pra você).

Lembre-se que isso não precisa necessariamente ser um grande problema, um ponto de discórdia. Nem há motivo pra algo assim! Vou tentar amenisar essa história: vida longa ao Gecko. Que afinal de contas é a melhor arma do Moz.org. Uma vez que pelo menos 50% das pessoas usem algum browser baseado no motor de renderização Gecko, já ficarei por demais satisfeito, não importando se estão usando algum dos *birds, Camino, Galeon, Epiphany ou qualquer outro software. Por mim podem até mesmo usar o Internet Explorer, desde que o Gecko esteja lá pra ajudar a elevar o nível da Internet.

E mais, esse é o meu ponto de vista pessoal, sem qualquer contato direto com o desenvolvimento do código dos softwares Mozilla. Acredito que alguns pontos acima estejam um tanto exaltados por refletirem o meu modo de ver o que vem acontecendo nos últimos meses, mas são sem dúvida um lado válido da história. Desejo fortemente que você tenha uma opinião diferente da minha, e das duas, eu possa criar um meio-termo mais adequado. Corrigir eventuais bobagens escritas faz parte do show também, indubitalvelmente.

Uma última coisa: adoro o lagarto vermelho e o tom revolucionário que o site/projeto possuía. Falar mal de algo cansa, e já não me sinto muito bem por ter fama de ver sempre o lado ruim das coisas :)

Autor: Caio Begotti
Email: entercaio@uol.com.br

Referências:

http://dbaron.org/log/2003-09#e20030909c
http://dbaron.org/log/2003-09#e20030914a
http://www.xulplanet.com/ndeakin/article/190/
http://mozdev.org/pipermail/project_owners/2003-September/000454.html
http://www.moztips.com/?id=94
http://www.mozilla.org
http://www.mozilla.org.br

Postado por fuji em março 27, 2004 11:51 AM

Comentários para "Por que a suíte Seamonkey não agrada mais aos usuários?"

» Postado por: Renato Alvim em março 27, 2004 06:20 PM, 200.217.137:

 

» Postado por: Ubiratan em março 27, 2004 06:30 PM, 200.162.195:

 

» Postado por: dermeister em março 27, 2004 09:11 PM, 200.102.61.:

 

» Postado por: linoxman em março 28, 2004 12:31 AM, 200.193.23.:

 

» Postado por: Douglas Augusto em março 28, 2004 04:22 AM, 200.177.130:

 

» Postado por: Wilfredo em março 28, 2004 11:35 AM, 200.227.96.:

 

» Postado por: Thomas em março 28, 2004 06:01 PM, 200.175.41.:

 

» Postado por: Marcelo Vivan Borro em março 28, 2004 10:34 PM, 200.177.6.1:

 

» Postado por: moicano em março 29, 2004 04:09 AM, 200.164.26.:

 

» Postado por: Mike Shigueru Matsumoto em março 31, 2004 12:09 AM, 200.225.194:

 

» Postado por: Paulino Michelazzo em abril 1, 2004 08:45 AM, 200.158.234:

 

» Postado por: Mauricio Luiz Ortensi em abril 6, 2004 03:31 PM, 200.212.154:

 

» Postado por: Mauro em junho 18, 2004 03:53 PM, 143.106.2.1:

 

» Postado por: Marcio Rezende em julho 4, 2004 12:59 AM, 200.149.145:

 

Antes de comentar...

- Preserve a qualidade desta discussão
- Leia os Termos de Uso.
- Este formulário deve ser usado para comentários sobre a notícia. Se você tem dúvidas ou precisa de ajuda, use o Fórum.
- Mantenha o foco nos argumentos e no assunto
- Não faça ataques pessoais.
- Pense 5 vezes antes de entrar em discussões inúteis, como "qual é a melhor distribuição/ambiente gráfico/linguagem de programação/etc.", mesmo se alguém já tiver provocado - um erro não justifica o outro
- Não seja um e-mala ;-)


O Arquivo Histórico do BR-Linux.org mantém no ar (sem alteração, exceto quanto à formatação) notícias, artigos e outros textos publicados originalmente no site na segunda metade da década de 1990 e na primeira década do século XXI, que contam parte considerável a história do Linux e do Open Source no Brasil. Exceto quando indicado em contrário, a autoria dos textos é de Augusto Campos, e os termos de uso podem ser consultados na capa do BR-Linux.org. Considerando seu caráter histórico, é provável que boa parte dos links estejam quebrados, e que as informações deste texto estejam desatualizadas.