Notícia publicada por brain em abril 25, 2004 11:57 PM
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A Jacqueline Aguiar (jacqueaguiar@portoweb.com.br), especialista em Informática Educativa e assessora pedagógica de informática educativa na Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, enviou um texto sobre o papel do Linux na liberdade do ensino, à luz do educador Paulo Freire. Leia a íntegra do texto abaixo.
E por falar em novas tecnologias...
Jacqueline Aguiar (jacqueaguiar@portoweb.com.br)
Cada vez mais, encontramos referenciais teóricos que nos levam a refletir a respeito da premente necessidade de se buscar e idealizar novas estratégias e paradigmas para a educação. Crescem as pesquisas dentro desta linha. O professor, o pedagogo, o especialista desta área, entende a necessidade de propor novos olhares à construção do conhecimento.
Mas, apesar das dificuldades de se encontrar uma nova forma de ensinar / aprender, e aqui me refiro ao ato propriamente dito, independente de terminologias ou questões semânticas, há um referencial interessante surgindo: a utilização da informática como ferramenta educativa.
Paulo Freire nos preconizava uma educação libertadora onde era abominada a relação de poder e dominação instaurados pela escola tradicional. Nesta nova ação educativa libertadora, deveria existir uma relação de troca horizontal entre educador e educando exigindo-se nesta troca, atitude de transformação da realidade conhecida. É por isso, que a educação libertadora é acima de tudo uma educação conscientizadora, na medida em que além de conhecer a realidade, busca-se transformá-la.
Nesta direção, não consigo ver outra possibilidade senão o Linux para a escola! Pensar a educação sob a ótica de Paulo freire nos remete diretamente ao universo do software livre. O que é mais gritante neste universo senão a liberdade de fugir da opressão do software proprietário; permitir a transformação da realidade dos códigos abertos; a relação de cooperação que se estabelece entre as comunidades desenvolvedoras de linux; e acima de tudo, o que não é mais gritante do que a ação conscientizadora que este movimento nos permite em relação à inclusão digital, e porque não ressaltar a responsabilidade social de cada cidadão.
Com o Linux somos sujeitos no processo de criação; somos atores principais se assim nos aventurarmos. Segundo Paulo freire é essa relação dialética onde educadores e educandos que se fazem sujeitos do seu processo, que devemos encontrar nas práticas pedagógicas desejáveis para uma escola transformadora, bem como encontramos na caminhada do software livre.
Aqui surge uma nova ordem. Não estou mais falando de detalhes técnicos de como o linux é melhor; não estou apenas falando de que vantagens econômicas eu terei, não estou falando apenas de uma postura comprometida com a responsabilidade social e inclusão digital; estou falando sim de uma possibilidade de prática pedagógica fundamentada e amparada em um discurso epistemológico legítimo. Um olhar dentro do viés pedagógico de um mundo que até então eram comandos; configurações, instalações, etc, etc. É o Linux como caminho para qualificar e possibilitar uma nova escola, um novo aluno, um novo homem.
Texto original de Jacqueline Aguiar
Especialista em Informática Educativa - Assessora Pedagógica de Informática Educativa na Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre.
Cara Jacqueline,
Não sei se as suas palavras terão a repercursão que merecem, mas pode acreditar que se depender de mim, todas as pessoas que estão, de alguma forma, inseridas no universo da informática educacional terão conhecimento desse espaço para comentar, criticar e debater sobre suas idéias.
Há muito venho tentando instigar nas almas dos profissionais da área (sou um mero técnico de suporte do PROINFO-MA), o interesse pelo GNU/Linux e pela filosofia do Código Livre. Muitas vezes fui ignorado e deixado de lado nas discussões sobre a aplicação de ferramentas livres nos laboratórios de informática do estado, talvez pelo fato de defender muito vigor o software livre que poderia dar ao sofrido povo maranhense a oportunidade de acesso a um tipo de tecnologia que ainda hoje é sonho para muitos.
Espero que as suas palavras possam, mais que todos os meus esforços, tocar o íntimo de todos os profissionais que fazem do PROINFO o que ele é hoje e façam com que eles saibam que todos os sonhos que já tiveram em relação ao alcance de seus próprios esforços, podem se tornar realidade legítima com o software livre.
E que o Sr. Paulo Freire não seja mais citado em discursos hipócritas para as massas alienadas desse país maltratado pelas correntes da opressão dos grandes empresários e suas caixinhas pretas, juntamente com os seus comparsas do poder que decidem, muitas das vezes sem nenhuma preocupação para com o povo que os elegeu. País cujos profissionais mais desrespeitados são justamente os que poderiam iluminar os caminhos do progresso e do desenvolvimento, mas que muito difilmente têm oportunidades justas para desenvolver um trabalho digno do reconhecimento merecido.
Espero que as suas palavras ganhem eco e força e que cheguem até os ouvidos das pessoas certas para que o nosso sonho do país do futuro não seja apenas um sonho impossível.
cara Jacqueline Aguiar. que alento trazem suas considerações, pois, com efeito, existe um liame muito sutil, porém palpável aos mais avisados, sobre a correlação entre a educação libertadora do mestre paulo freire e a filosofia do código aberto, ou, ainda, entre a postura oligopólica das corporações hodiernas e a "educação bancária", sobre a qual tanto digrediu o amado paulo freire. são eivadas de alento suas considerações e encorajo-a a prosseguir com este debate em todas as instâncias.
atenciosamente,
morvan
Oportuno o texto, porém deve levar em conta que esse métotodo apresentado ainda não foi inserido ainda dentro do contexto uma vez que os elementos responsáveis pela pela educação e formação não tem em mente o quanto é necessário engajar no currículo escolar as novas tecnologias. Se toda criança brasileira tivesse em seu período de formação, um contato com as novas tecnologias e com o software livre, sem dúvida o futuro das mesmas seria bem mais promissor, especialmente as de menor condição social. è om bom momento para essa discussão.
Pessoal
Sem dúvida o comentário da Sra. Jaqueline é muito interessante e oportuno, apesar de óbvio.
Infelizmente, a experiência que tive até agora com informática/educação mostrou exatamente o oposto.
Sou professor, e o que tenho visto até agora é uma total falta de interesse de parte da maioria dos professores que tenho contato no que tange a informática. A maioria dos que conheço sequer tem interesse em usar um computador como algo melhor que uma máquina de escrever, quando o usam.
Por outro lado, na academia, o que vi nos meus tempos de aluno foi o uso de programas proprietários em projetos de pesquisa com educação, e uma certa arrogância em relação à informática, como se o conhecimento técnico fosse algo menor.
Já não é de hoje que li um excelente artigo (http://lula.dmat.furg.br/~python/scriedu.html) sobre uso de linguagens de script como ferramentas de apoio ao ensino. Já mostrei esse artigo a vários "educadores" que conheço. Sabem o que recebi deles? Uma expressão de desdém.
Sem falar nas pessoas inteligentes e com boa formação que conheço, Mestres e Doutores, que simplesmente DESPREZAM tudo o que se relaciona a Software Livre. E estou falando de gente que trabalha e vive educação no seu cotidiano e nem sequer quer ler um artigo para saber o que é "o tal Linux".
Enquanto houver esse desprezo, enquanto houver essa arrogância, nada vai mudar.
É triste, mas é verdade. Pelo menos é a realidade que vivo e vejo aqui na minha região. Oxalá seja diferente no resto do Brasil.
O problema não é a "opressão" que tanto falava Paulo Freire. O problema é a ARROGÃNCIA e BURRICE de muitos que trabalham como "educadores", essa é sem dúvida a pior opressão. Essa arrogância de pensar que "não precisamos ter conhecimento técnico para ensinar usando computadores".
Ora, se vc não é capaz nem de usar o SEU computador de forma inteligente, como ensinar usando essa ferramenta?
Como ensinar de forma libertadora, se o professor não é livre dos seus próprios preconceitos? Como ensinar liberdade se vivo em uma prisão que não sou capaz de ver?
Informática deveria fazer parte do currículo escolar, e todos nós professores deveriamos fazer cursos de capacitação, urgentemente.
Faz muito tempo já que o SL não é mais uma coisa para "nerds", e sim um fenômeno social/cultural/econômico/tecnológico que não pode mais ser desprezado por quem tem o mínimo de informação sobre o contexto mundial e uma responsabilidade social: a de semear o livre pensamento e a criatividade entre as mentes jovens.
Abraços a todos
Leandro
Querid@s amigos.
Fiquei muito feliz em ver que há muitos parceiros com quem contar no que diz respeito a construir novas possibilidades para a inserção das tecnologias na educação. Considero uma construção coletiva essa tarefa de buscar soluções para melhorar o processo de ensino/aprendizagem nas escolas.
Com certeza a caminhada é longa, a realidade (como as citadas pelo Leandro) muitas vezes nos desafia e nos faz querer desistir. Realmente não é fácil iniciar a mudança. Mudança de postura de alguns professores que com certeza resistem, por medo, por arrogância, por preconceito, por falta de comprometimento profissional, ou mesmo por apenas não enxergarem o óbvio.
Mas afirmo intensamente que não dá para desistir. Por pior que sejam os entraves do caminho temos que nos aventurar e pelo menos tentar balançar as estruturas. Já os sinto parceiros para continuarmos fomentando essa discussão.
Abraços a todos!
Jacque Aguiar
Cara Jacqueline.
Gostaria de cumprimenta-la pelo excelente comentário. Gostaria também de registrar que aqui no Triangulo Mineiro, Uberaba especificamente, escolas e faculdades particulares, adotam o Linux, no suporte do ambiente operacional e acadêmico já a algum tempo. A adesão cresce a cada dia e os resultados são excelentes. Felizmente, aqui não ocorre um desinteresse generalizado pelo aspecto de software livre, por sorte, poucos não são adeptos e mesmo assim por falta de informação adequada. Em Uberlândia por exemplo, a UFU, onde atualmente curso meu mestrado, trabalha fortemente apoiada em Linux, e seu uso e assimilado naturalmente por todos os novos ingressantes. Muitos projetos de pesquisa, inclusive, estão em andamento, tendo o linux como plataforma final.
Prof. William
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