Notícia publicada por brain em janeiro 6, 2004 03:00 PM
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Ao mencionar ontem os 20 anos do projeto GNU, sugeri que uma tradução do comunicado comemorativo de Richard Stallman para nosso idioma seria uma boa. O Trombel (trombel@ig.com.br) não se fez de rogado, e enviou logo em seguida uma tradução completa para o meu e-mail, que você pode ver logo abaixo.
Outros brasileiros também tomaram a si a tarefa - o morvan (morvan_br@hotmail.com) me avisou hoje que também traduziu, o Marlon Dutra publicou outra tradução. Agradeço a todos vocês em nome dos usuários que por seu intermédio terão acesso ao conteúdo desta mensagem!
A Comunidade do Software Livre após 20 anos: com grande mas incompleto sucesso; o quê, agora?
por Richard Stallmann
(tradução de Trombel - trombel@ig.com.br)
Hoje faz vinte anos que deixei meu trabalho no MIT para começar a desenvolver um sistema operacional de Software livre, GNU. Embora nunca houvéssemos lançado um sistema GNU completo próprio para uso em produção, uma variante do sistema GNU é agora usado por dezenas de milhões de pessoas que, na maior parte, não está ciente disto. Software livre não significa "grátis"; significa que os usuários são livres para "rodar" o programa, estudar seu código fonte, mudá-lo, e redistribuí-lo com ou sem mudanças, seja gratuitamente, seja por um preço.
Minha esperança era de que um sistema operacional livre abrisse um caminho para escapar para sempre do sistema de sujeição do software proprietário. Eu experimentei o desprazer do modo de vida que o software não livre impõe aos seus usuários, e eu estava determinado a escapar e dar aos outros uma maneira de fazê-lo.
O software não livre carrega consigo um sistema anti-social que proíbe cooperação e comunidade. Normalmente, você é incapaz de ver o código fonte; você não pode dizer que truques maliciosos ou "bugs" tolos ele pode conter. Se você não gosta dele, você é impotente para mudá-lo. Pior de tudo: você é proibido de compartilhá-lo com quem quer que seja. Proibir o compartilhamento de software é cortar os laços da sociedade.
Hoje temos uma grande comunidade de usuários que usam GNU, Linux e outros software livres. Milhares de pessoas gostariam de estender isto, e adotaram o objetivo de convencer mais usuários de computador a "usar o software livre". Mas o que significa "usar o software livre"? Significa escapar do software proprietário, ou simplesmente instalar programas livres junto com aqueles? Estamos com o objetivo de levar a liberdade às pessoas ou simplesmente apresentá-las ao nosso trabalho? Em outras palavras, estamos trabalhando pela liberdade ou substituímos este objetivo pelo da rasa popularidade?
É fácil habituar-se a desprezar esta distinção, porque, em muitas situações comenzinhas, não faz diferença.Quando se tenta convencer uma pessoa a experimentar um programa livre, ou instalar o sistema operacional GNU/Linux, ambos os objetivos conduziriam à mesma conduta prática. Entretanto, em outras situações, ambos os objetivos inspiram diferentes ações.
Por exemplo, o que deveríamos dizer quando um driver odioso de vídeo, uma base de dados Prophecy, ou um interpretador de linguagem da Indonésia não livre ou bibliotecas, é publicado numa versão que suporta GNU/Linux? [Nota do Editor: ao mencionar os fictícios drivers de vídeo Invidious, banco de dados Prophecy e linguagem Indonésia, o autor original faz trocadilho com os nomes de 3 softwares fechados popularmente disponíveis para uso em conjunto com sistemas operacionais livres].
Deveríamos agradecer aos desenvolvedores por este "suporte" ao nosso sistema, ou deveríamos considerar este programa não livre como um inconviniente atrativo, uma tentação de aceitar a servidão, um problema a ser resolvido? Se você tiver como objetivo aumentar a popularidade de certos softwares livres, se você procura convencer mais pessoas a usar programas livres por algum tempo, você poderia pensar que aqueles programas não livres são úteis contribuições ao nosso objetivo. É difícil contrariar o argumento de que a disponibilidade deles ajuda a tornar o GNU/linux mais popular. Se o uso geral do GNU ou Linux é principal objetivo de nossa comunidade, deveríamos, por lógica, aplaudir todas as aplicações que "rodam" nele, sejam livres ou não.
Mas se nosso objetivo é a liberdade, tudo muda. Os usuários não podem ser
livres enquanto usarem um programa não livre. Para libertar os cidadãos do
ciberespaço, temos de substituir estes programas não livres, não aceitá-los. Eles não são uma contribuição para nossa comunidade, são tentações para a contínua não liberdade.
Há duas motivações comuns ao se desenvolver um programa livre. Uma é que não há um programa para fazer o serviço. Infelizmente, a aceitação de um programa não livre elimina esta motivação. A outra é o desejo de ser livre, o que motiva as pessoas a escrever substitutos livres para programas não livres. Em casos como estes, tal motivo é o único que pode fazer a tarefa.
Simplesmente usando um substituto livre novo e inacabado, antes que ele se compare tecnicamente com o modelo não livre, você pode ajudar a encorajar os desenvolvedores de software livre a perseverar até ele se torne superior. Estes programas não livres não são triviais. Desenvolver substitutos livres para
eles será uma grande tarefa; pode levar anos. O trabalho pode necessitar da
ajuda de futuros hackers, pessoas jovens hoje, pessoas ainda a serem inspiradas a juntarem-se ao trabalho sobre software livre. O que podemos fazer hoje para ajudar a convencer outras pessoas, no futuro, a manter a necessária determinação e persistência para terminar o trabalho?
A maneira mais efetiva de fortalecer nossa comunidade para o futuro é divulgar
o entendimento do valor da liberdade - ensinar a mais pessoas a reconhecer a
inaceitabilidade moral do software não livre. Pessoas que valorizam a liberdade são, no longo prazo, sua melhor e essencial defesa.
Copyright 2004 Richard Stallman
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