Notícia publicada por Marco André em maio 12, 2003 07:29 PM
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Segundo este notícia do boletim Governo Eletrônico, o Governo do Brasil estará abrindo a possibilidade de criar convênios com empresas da administração pública direta e indireta para o desenvolvimento de uma plataforma aberta de funções criptográficas.
Está é uma notícia excelente, que eu comento mais nos DETALHES.
Como afirmei, esta notícia é excelente e pode trazer repercussões históricas para o nosso país. Posso citar pelo menos duas importantes vantagens desta decisão do Governo Brasileiro.
A primeira é para a própria comunidade que utilizará estas funções criptográficas. O fato do Governo ter enxergado que um padrão aberto é a melhor alternativa para o desenvolvimento de uma plataforma de funções de criptografia demonstra maturidade e compreensão a respeito dos aspectos envolvidos no desenvolvimento de protocolos criptográficos. Creio que isto é mérito do Renato Martini e equipe. O Renato é conhecido na comunidade Linux e na área de Segfurança e é atualmente o Diretor de Infra-Estrutura de Chaves Públicas do Governo. Se tudo correr a exemplo da escolha do AES nos Estados Unidos, teremos, ao final, uma plataforma robusta e confiável, com a credibilidade da comunidade que a utilizará.
O outro ponto a considerar é que esta notícia traz à discussão o fato do governo estar apoiando um projeto "aberto". Ainda que não seja o Linux, ou um software livro em específico, o fato do governo estar abrindo a possibilidade de utilizar uma plataforma aberta poderá fazer com que uma grande parcela da comunidade continue associando o termo "aberto'' a amador ou inseguro. A comunidade precisa estar atenta à repercussão desta notícia e posicionar-se sempre que possível a favor desta opção do governo.
A expectativa é que, aos poucos, a votação eletrônica, os softwares como o do Imposto de Renda ou o Curriculum Lates, passem todos a serem desenvolvidos numa plataforma aberta.
Vale lembrar que o Governo tem sempre um grande poder de definir padrões, já que muitas organizações possuem relacionamentos com ele. Isto passa pelo contribuinte, pelos fornecedores e prestadores de serviços, pelos cartórios, instituições financeiras, instituições de ensino, fundações, e os Poderes Legislativo e Judiciário, só para citar alguns. Foi assim com o TCP/IP e a Internet e com padrões de criptografia como o DES e pode ser assim aqui no Brasil também. Só para citar alguns exemplos do que está acontecendo (sem citar os links), a Marinha do Brasil já criou e está dotando a sua própria distribuição Linux e há rumores de que o governo estará criando a sua própria também, na tentativa de economizar algo em torno de 80% da sua despesa com TI.
Esta citação sobre marinha me fez lembrar de algo interessante: pode parecer esquisito mas às vezes, onde se mais acha apoio ao software livre é entre setores costumeiramente "conservadores", digamos assim, como as forças armadas. Não que estas sejam avessas à inovação tecnológica, pelo contrário, mas falar de software livre, comunidade, participação equalitária, etc, lembra esquerda, comunismo (e não deixa de ser) principalmente quando se fala em um sistema operacional "criado e mantido por um bando de moleques cabeludos" (essa eu pessoalmente ouvi de uma pessoa que não sabia quem eu era ;)) comparado a empresas multinacionais tradicionais.
Para exemplificar o que quero dizer, e que tem bastante a ver com a notícia, uma vez fui dar uma palestra em Brasília sobre o que era software livre para responsáveis pela informática do alto comando do exército. Entre os presentes havia ao menos um general, e vários outros oficiais de alta patente. A palestra seguiu meio "morna" digamos assim, até que eu comentei que o uso de software livre e padrões abertos era uma questão de soberania nacional. Na primeira fila estavam o general (não lembro se tinha mais de um) e os outros militares mais graduados e, no momento que falei isso, notei que eles imediatamente fizeram aquela cara de "como é?" e eu expliquei sobre padrões abertos de autenticação e criptografia, o perigo de um produto fechado poder ter potencialmente um backdoor e assim por diante. Depois que terminei fui cercado por esta turma querendo mais esclarecimentos que fiz o possível para das, apesar de segurança não ser realmente o meu forte. Em resumo, existe não só um motivo mercadológico para a adoção de plataformas abertas e parece que eles entenderam o recado que eu espero ter ajudado a dar.
Adilson.
Não vejo grandes problemas nas Forças Armadas. A Marinha já vem usando linux em alguns projetos e na página da Diretoria de Material de Comunicações, de Eletrônica e de Informática (DMCEI) do Exército (http://www.sti.eb.mil.br/dmcei.asp) há a determinação expressa:
"O uso de softwares livres é uma necessidade para o tratamento da Tecnologia de Informação (TI) na Força. O custo agregado com o uso deste tipo de programas não elimina todos os gastos com software, entretanto, para o Exército, toda e qualquer redução de despesas na atividade meio tem reflexo direto nos investimentos da atividade fim.
É sabido que programas baseados em software livre têm alcançado altos níveis de performance, estabilidade e interoperabilidade. É chegado, portanto, o momento de introduzi-los como substitutos dos programas proprietários hoje em uso, que tanta dependência e gastos ocasionam.
A STI tem recomendado, insistentemente, os seguintes procedimentos às nossas OM:
1) Fazer máxima utilização de softwares livres.
2) Utilizar-se de softwares proprietários somente quando não houver alternativa de uso de software livre. E neste caso, obrigatoriamente, o software deverá, possuir a respectiva licença de uso.
3) Quanto à utilização de softwares livres, as OM deverão procurar a orientação dos Centros de Telemática de Área (CTA), dos Centros de Telemática (CT), Centro de Desenvolvimento de Sistema (CDS) ou, ainda, da própria DMCEI."
Evidentemente a principalmente motivação ainda é a gratuidade e não a ideologia do software livre em si, mas já é um avanço. As restrições orçamentárias das Forças Armadas derrubam qualquer argumento contrário ao uso de software livre.
Eu sinceramente vejo muito mais resistência nas grandes empresas do que nas Forças Armadas ou qualquer órgão governamental. Existem sempre aqueles gerentes de TI idiotas que pensam: comprar IBM ou M$ não causa a demissão de ninguém...". E, às vezes, ainda gera viagens para cursos, "comissões de 10%", etc...
Esqueci de dizer acima que esse evento foi a uns 3 ou 4 anos, por isso a relevância.
Adilson.
Não é com tanta surpresa que vejo esta notícia pois não é de hoje que a NASA e a NSA usam linux e mostram muito bem por que vale apena usar(e abusar!! no bom sentido!).
Porém é muito animador como perceber o claro posicionamento dos responsavéis da área na esfera governamental no sentido correto nesse e em outros aspectos no que tange a Tecnologia Nacional. Isso vai consolidar mais o Software Livre, mostrando a comunidade o seu valor e diminuindo os estigmas.
É muito comum ver os usuários esbravejando por que tiraram seu "Rwindows" ou seu "MSOffice". E a medida que o Linux e soluções de código aberto fizerem parte do dia a dia, nas ecolas, repartições, telecentros, e comprovar que ele é viável no Desktop das nossas casas.
Isso por que acho que como servidor não há dúvida: IBM, SUN, SGI, ORACLE.... uma lista enorme de empresas as quais não só usam para si, como vende tecnologia baseada em GNU/LINUX e muitas vêzes recomendam o mesmo como primeira plataforma.
É isso ai! Parabéns a Brasil por sua escolha, livre, aberta, soberana!!!!
Infelizmente vejam o que roda no servidor do e-gov brasileiro:
http://uptime.netcraft.com/up/graph/?host=www.governoeletronico.e.gov.br
"The site www.governoeletronico.e.gov.br is running Microsoft-IIS/5.0 on Windows 2000"
Pelo menos o webmaster teve o cuidado de testar o site no linux e no Netscape ...
Isso é que é desperdício de dinheiro público...
E vejam ainda o que os sites hospedados no SERPRO rodam:
http://uptime.netcraft.com/up/hosted?netname=SERPRO-ANDF,161.148.0.0,161.148.255.255
Só tem um domínio de onze que roda sobre Linux.
OFFTOPIC - Outro dia tive dificuldade em acessar umas páginas do site www.stf.gov.br, e verifiquei que o webmaster o havia projetado especificamente para IE. Mandei um e-mail alertando sobre o problema e me respondeu que, de acordo com as estatísticas deles (que que realmente são verdadeiras), a maioria absoluta dos usuários utiliza o IE, e não Opera ou "Mozilla-Like". Só me arrependo de não ter perguntado se Tostines vende mais porque é fresquinho ou fresquinho porque vende mais... será que um advogado que se depara com uma página oficial que não funciona em Mozilla, vai querer acertar, arrumar, adequar o browser ou mudar para o IE?
Acho que está mais que na hora de se criar uma Associação para Defesa do Software Livre e pressionar os órgão do governo a adotá-lo.
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