Marco André Lopes Mendes (marco@sociesc.com.br)
Marco André Lopes Mendes, professor de informática na Sociedade Educacional de Santa Catarina, nos forneceu um relato pessoal e detalhado das palestras do Fórum Internacional Software Livre 2000, realizado em Porto Alegre.
Aconteceu nos dias 4 e 5 de Maio de 2000, o 1o Fórum Internacional Software Livre 2000, em Porto Alegre, RS. Este evento teve por objetivo discutir por que programas de livre distribuição estão revolucioanndo o acesso à tecnologia. Tive a oportunidade de estar em Porto Alegre neste período e passo agora a relatar o que aconteceu de importante lá.
O Fórum aconteceu na Universidade Federal do Rio Grande do SUL (UFRGS), mais precisamente no Salão de Atos e Salões adjacentes, todos na região central de Porto Alegre. A organização foi muito boa, e mesmo os imprevistos foram resolvidos sem maiores problemas. Fiquei bastante impressionado com o número de pessoas de compareceram, a maioria do Rio Grande do Sul, mas com presença de vários estados do Brasil, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e outros. Várias atividades aconteceram em paralelo: Duas palestras, uma no Salão De Atos, que eu estimo, comporta umas 3000 pessoas, e uma num Salão menor, para umas 300 pessoas. Além destes, havia o Workshop Acadêmico, com paletras voltadas ao público acadêmico, e mais um espaço com cerca de 40 computadores em rede onde foram dadas palestras com conteúdo prático. Foi criado também um site oficial especialmente para o evento, onde pode-se obter mais informações sobre o mesmo. Foi feita a promessa de que as perguntas dirigidas aos palestrantes seriam respondidas e colocadas neste site, bem como a maioria das apresentações. O evento foi ainda transmitido ao vivo em Real Video e através da Internet 2, numa experiêcia nova para este tipo de evento no Brasil.
Vou comentar um pouco de cada uma das palestras que pude assistir. Vale lembrar que foi impossível assistir a todas, pois algumas aconteciam em paralelo. O que está escrito aqui é a opinião e a impressão de um participante, não sendo necessriamente a verdade absoluta.
A palestra que deu abertura ao evento tentou explicar ou definir o que é o Software Livre e quais as vantagens do modelo, através da definição dos termos software e livre ou liberdade. Faltou um pouco de eloquência do palestrante, mas algumas partes forma particularmente interessantes. Comentou-se das vantagens de se ver o código fonte, alterar e redistribuir, sobretudo num ambiente acadêmico. Falou-se também da diferença entre ensinar informática e "alfabetização em software" que seria ensinar o uso de um software fechado, sem a possibilidade de ver seu funcionamento. Por fim, mostrou-se que embora muito usuários talvez não queiram abrir um programa e alterar seu fonte, ainda assim é importante que ele saiba, que ele tem a possibilidade de fazê-lo, se assim quiser.
O Professor Imre procurou mostrar a relação entre Software Livre e a Universidade através de exemplos do casos da sua utilização na USP e depois mostrando a relação de uma forma genérica. Ele também procurou dissecar cada um dos termos Software, Liberdade e Universidade. Alguns tópicos importantes que foram levantados:
Por fim ele argumentou que o desenvolvimento de softwares livres é uma oportunidade sem precedentes para os países pobres como o Brasil terem acesso e desenvolverem competência na área de tecnologia da infromação. Quem tem ouvidos, ouça!
A palestra do CEO da Conectiva, foi como sempre um show a parte. Prendendo a atenção da platéia através do humor, da movimentação constante e da distribuição de pinguins e camisetas o palestrante tentou traçar um comparativo entre o Modelo de Negócios do Software Comercial e o Novo Modelo, onde o software é livre. Comentou-se os aspectos econômicos envolvidos, como custo do software, hardware e mao-de-obra numa solução, pirataria, lucor líquido e como no modelo do software livre pode-se lucrar mais, embora isto pareça um paradoxo. Três exemplos foram importantes: O primeiro do filme Titanic, onde o Linux para ser utilizado foi alterado pela equipe fdo filme, algo impoensável num software comercial. No segundo, abordou-se o desenvolvimento do Beowulf que permitiu ligar dezenas de máquinas rodando Linux em paralelo, formando um cluster que está entre os 200 computadores mais rápidos do mundo, a uma fração do preço de um supercomputador. Além disto, o software que foi desenvolvido também é livre, possibilitando o uso em qualquer lugar que se faça necessário sem custo adicional. O terceiro exemplo foi o da empresa Brasil Informática, que abriu seu sistema comercial e consegui dobrar o número de clientes em um ano, além de ter agora parceiros trabalhando junto na melhoria do sistema. Para finalizar comentou-se sobre a "concorrência comunitária" que existe entre as empresas de software livre, vencendo sempre a mais competente. Citando uma frase do Palestrante, "Vende quem quer, compra quem pode." Sandro Henrique dos Santos vendeu bem.
Provedores de Internet falaram sobre o uso por eles de Softwares Livres. Nada de especial.
Esta foi a parte cívica, com discurso pelo Prefeito de Porto Alegre, pelo Diretor do Centro de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul (PROCERGS) e pelo Governador do Rio Grande do Sul, todos eles realizadores do evento. O que posso comentar é que esta foi uma idéia excelente e demonstra a preocupação do poder público com estas questões. Fiquei também surpreso com a popularidade do Governador.
A palestra mais esperada do evento aconteceu no final do primeiro dia e se estendeu por várias horas, sempre com tradução simultânea. Richard Stallman foi recebido sob aplausos, por uma platéia que dê pé, parecia receber um astro de rock. Ele falou pausadamente e parado no mesmo lugar por todo o tempo da palestra e teve a atenção do público, enquanto contava a história do Movimento do Software Livre, iniciado por ele. Contar tudo o que ele falou é impossúvel, mas recomendo que se acesse a página do Free Software Foundation (FSF), além da leitura do artigo Open Sources, de sua autoria. Stallman é radical e purista, desferindo flechas contra tudo o que se levanta contra o maispuro software livre, que ele cuidadosamente descreveu. Não escaparam nem o Movimento Open Source, Linus Torvalds, as distribuições mais conhecidas como Caldera e SUsE, Xerox e muito menos o vi. Uma lição que eu aprendi: se você quer ser amigo dele, use emacs e chame o Linux de GNU/Linux.
O mesmo papo comercial de sempre, pelo que me contaram. Não assisti por que já esperava isto. Resumindo, não vamos abrir nosso código e você compra se quiser. E puder.
Excelente a palestra do pessoal da UNIVATES que mostrou o Sistema Aberto de Gestão Unificada para Ensino Fundamental, Médio e Superior, um software livre desenvolvido por eles para atender a todas as áreas de uma Escola, seja ela de qqualquer tipo. O software foi construído usando PostgreSQL, PHP e uma interface Web no Linux. Possui auditoria de alterações do sistema, pode ser facilmente portado para outros SGBDs e está sendo liberado para o uso até Agosto deste mês. O sistema utiliza ainda túneis de IP para uma maior segurança, tudo com softwares de livre distribuição. Parabéns ao pessoal da UNIVATES pela iniciativa de desenvolver um software deste nível e disponibilizá-lo através da licença GNU-GPL.
Peguei apenas uma parte desta palestra, onde cerca de 4 palestrantes se revezaram para falar sobre a segurança na Internet e nas redes atuais, usando tanto softwares livres como comerciais. As mesmas discussões de sempre foram abordadas, como se o software livre é mais inseguro por que todo mundop tem acesso ao fonte, se o NT é mais seguro que o Linux, se os hackers são gênios ou apenas ousados, se firewall resolve ou não, e outras do gênero. Particulamente achei cansativa e pouco conclusiva.
Nesta palestra, falada em espanhol, foi mostrado o projeto e implantação da Rede das Escolas Públicas do México, com softwares de livre distribuiçãi. São ao todo 120 mil escolas que serão informatizadas, cada uma tendo um servidor (Contas, Proxy, Internet com IP Masquerading, Email, WWW) e 10 estações (AbiWord, Gnumeric, Netscape, etc.) rodando um Linux customizado por eles, e que vai pré-instalado nas máquinas. A prinicipal razão apontada foi o custo, seguidos da segurança e confiabilidade, além da possibilidade de customização dos procedimentos de instalação. Cada aluno das quase 100 escolas já atingidas pelo projeto possui um emial, além da escola ter uma página própria e acesso à Internet.
Está palestra, da qual nem me lembro o nome, foi uma das melhores do Fórum. O palestrante, um mineiro contador de histórias fez um apanhado de tudo o que se pode falar sobre o Linux e os Softwares Livres, recheando cada tópico com uma dezenas de histórias e com sua bem-humorada opinião. Usuário de Linux a vários anos e ardoroso defensor do software livre, Rubens Queirosz de Almeida, que mantém a Dicas-L, uma lista com mais de 8000 assinantes, prendeu o público e enumerou vários softwares livres que merecem nota além de situações em que ele são utilizados no ambiente de trabalho dele na Unicamp. Se você um dia tiver a oportunidade de ouvir uma palestra com ele, não perca, não importa qual seja o assunto.
Apresentada na sala preparada com os computadores, está palestra não alcançou os resultados que eu esperava. Além do ambientes estar lotado e nao ter climatização, o que o tornou terrivelmente quente, a palestra foi longa e cansativa. Tive que sair após mais de uma hora para assitir outra palestra e ainda está na parte de definições, sendo que depois era esperada uma parte de exercícios. Abordou-se as ferramentas mais comuns para desenvolvimento gráfico no Linux, como tcl/tk, qt, xlib e gtk. Poderia ter sido bem melhor.
Fazendo um balanço, o evento foi com, apesar de alguns pontos fracos, mas que podem ser facilmente corrigidos no futuro. A iniciativa é louvável e espero que seja copiada por vários estado do país, asim como prefeituras e por que não Universidades e Escolas Técnicas.
Para maiores informações, consulte:
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