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Linux in Brazil (Análise de distribuição )

TechLinux 2.0

Augusto C. Campos (brain@matrix.com.br)

Nota importante: o autor ficará feliz em receber feedback sobre esta avaliação. Discordou de algum ponto? Para você tudo funcionou diferente? Estou disposto a discutir o assunto.


O TechLinux 2.0 é a segunda edição desta distribuição de Linux brasileira. Fortemente baseado no europeu Mandrake Linux, o TechLinux é portanto um descendente indireto da família Red Hat, mantendo assim uma série de características em comum com outras distribuições da mesma linhagem, como o (também brasileiro) Conectiva Linux.

A versão lançada na Fenasoft deste ano pode ser adquirida na forma de um CD duplo, com direito a 30 dias de suporte pela Internet, ou ainda como um box, contendo os mesmos dois CDs, um guia de instalação (74 páginas), um guia do usuário (128 páginas), um adesivo para vidro com o logotipo do TechLinux e 60 dias de suporte pela Internet. Pode-se ainda fazer o download gratuito na Internet, como é costumeiro com distribuições de Linux.

Recebi da Tech Informática a versão box, que é o objetivo da análise que agora descrevo. Os testes foram realizados em um notebook Toshiba Portegé 3440CT. Este notebook é utilizado corriqueiramente por mim para testes de rede, e já rodou anteriormente o SuSE Linux 7.1 e o Conectiva Linux 6.0 sem problemas de compatibilidade com nenhum de seus componentes - infelizmente este histórico não foi mantido pelo TechLinux 2.0, e nem pelo Conectiva Linux 7.0, como veremos a seguir e na análise do CL 7, a ser publicada em breve.

A instalação

A experiência anterior já demonstrava que não havia esperança de dar boot pelo CD - o CD player externo PCMCIA do notebook parece ter dificuldades com este recurso. Entretanto, o diretório /images do CD-ROM número 1 possui uma séria de imagens de disquetes de boot, incluindo uma com o inspirador nome de pcmcia.img - boot para instalação através de dispositivos PCMCIA. O manual de instalação não dá detalhes sobre o processo, mas confirma a existência do recurso.

Gerei o disquete conforme as instruções padrão ('dd if=pcmcia.img of=/dev/fd0'), inseri-o no leitor de disquete USB (externo) do notebook, inseri o CD-ROM, e liguei o equipamento. Tudo funcionou perfeitamente, o programa de instalação foi carregado do CD, fiz o particionamento, escolhi os pacotes, como manda o figurino. O otimismo tomou conta, até o momento em que os pacotes começaram a efetivamente ser instalados: boa parte deles acusava erro de instalação.

A mensagem de erro do instalador gráfico era pouco clara, então fui para os consoles de texto (Ctrl+Alt+F1) em busca de maiores detalhes. Num deles encontrei minha resposta: hdc: tray open. De alguma forma, o sistema detectava que minha unidade de CD estava aberta - e só para alguns pacotes, para outros a instalação transcorria tranquilamente. Deixei o sistema continuar tentando, até que ele me ofereceu uma mensagem de erro definitiva: ldconfig failed. Provavelmente um problema de drivers, e não é culpa do TechLinux, mas foi uma pena descobrir isso apenas após ter formatado a partição - o ideal seria detectar incompatibilidades antes de causar alguma alteração.

Mas como nenhum CD-ROM PCMCIA consta na lista de compatibilidade de hardware do TechLinux, não havia porque esquentar a cabeça com isso - há várias formas de instalar o Linux sem utilizar CD-ROMs. Como eu dispunha de uma rede local em operação, e estava em horário de baixo tráfego, criei um disquete de boot com a imagem 'network.img' do CD do TechLinux, e inseri o citado CD em um servidor Linux disponível no momento. Acrescentei temporariamente a linha '/cdrom *' ao seu arquivo /etc/exports, e inicializei os serviços portmap e nfsserver - 3 comandos, bastante simples.

Após dar boot no notebook com o novo disquete, ele me perguntou se eu preferia instalar via ftp, http ou nfs - escolhi a terceira opção. Logo em seguida pude informar todos os dados relativos à rede local: endereço IP, máscara, servidor DNS, servidor NFS, path, etc. O processo foi rápido, sem erros - o programa de instalação (que é o mesmo do Mandrake) foi carregado diretamente do servidor via NFS, respondi as perguntas de praxe (qual o mouse, o teclado...), particionei, selecionei os pacotes, e vi o sistema instalar-se tranquilamente, sem maiores problemas.

Ao final da cópia dos pacotes, o sistema me informou que como eu já havia configurado a rede para fazer a instalação, poderia manter a mesma configuração no sistema instalado, o que muito me agradou. A placa de vídeo (uma S3 Savage) foi detectada automaticamente, e selecionei um monitor genérico LCD Panel 1024x768. O lilo foi instalado, com suporte a dual boot (este notebook contém um segundo sistema operacional). Tudo funcionou, retirei o disquete e dei o primeiro boot com a nova distribuição.

O sistema

O menu do lilo, exibido durante o boot para permitir a seleção de sistema operacional, é em modo gráfico, e bastante funcional. Após o boot, o sistema foi diretamente ao modo gráfico, exibindo uma tela do KDM (gerenciador de login gráfico) com pouca customização.

A tela do KDM confirmou algo já notado durante a instalação: a tradução parcial. Nesta tela, temos um título em português ("Bem vindo a PCN-012"), botões em português, e nomes de campos em inglês ("Login", "Password", "Session Type"). Logo em seguida, ao clicar no ícone do Configurador, percebi novamente a mesma situação: "Entrada: In order to run DrakConf with root's privileges, additional information is required. Palavra-chave para root:". Alguns usuários podem preferir a tradução parcial a uma versão 100% em idioma estrangeiro, outros podem preferir uma versão 100% em um mesmo idioma. Mas certamente você pode ajudar a traduzir mais e mais pacotes para o português, contatando diretamente os seus desenvolvedores - e aí, cedo ou tarde, eles chegarão a distribuições do mundo inteiro já em nossa língua.

O ambiente gráfico padrão é o KDE, com alguma customização. Além dos ícones padrão, há alguns outros no ambiente gráfico: Internet (é o velho conhecido kppp), News (não é um cliente NNTP, e sim um atalho para o website do TechLinux), Printer (atalho para o comando lpr), XKill, Netscape e Configurador (atalho para o DrakConf). Desta vez, chama ainda mais a atenção a mistura de nomes em português e em inglês, principalmente porque a escolha dos nomes dos ícones é 100% da pessoa que realizou a configuração.

O painel da base da tela tem ícones para as aplicações do KOffice (planilha, editor de texto...), mas para rodar um terminal de texto você tem que recorrer ao menu - o que me frustra, porque costumo ter sempre diversos xterms abertos de cada vez, e estou acostumado a ter atalhos simples para ele na configuração default de qualquer ambiente gráfico.

O xterm (ou seu equivalente do mundo KDE) trouxe mais uma surpresa: o prompt padrão é o default 'bash-2.04$'. Fazia tempo que eu não via uma distribuição sem o cuidado de setar um prompt minimamente funcional, incluindo no mínimo o nome do usuário e diretório correntes, e o nome da máquina. Rodando uma shell de login ('bash --login') notei que o prompt foi corrigido - ao que parece, o prompt está definido apenas no profile, e não no bashrc... As shells abertas no console também apareceram com o prompt melhorado.

Estes pequenos detalhes são facilmente corrigidos por qualquer usuário com um mínimo de conhecimento em configuração, mas ninguém mais espera ter que fazer isso em uma distribuição recente, certo? Fica o alerta para os responsáveis pela distribuição: pequenos detalhes podem fazer a diferença.

A análise publicada pela Revista do Linux gerou curiosidade, por afirmar que o ambiente gráfico Blanes 2000 não era instalado, mesmo quando selecionado. Pude comprovar: de fato, mesmo selecionando o item "Estação de trabalho para Migração" na seleção de pacotes, este gerenciador de janelas não foi instalado. Não que ele faça grande falta (na minha opinião o Blanes 2000 terá que caminhar muito para apagar a mancha no seu passado, de ter alterado os fontes de um projeto alheio, mudado seu nome para Blanes 2000, retirado os créditos do autor original e achar que ninguém perceberia), mas é interessante perceber que o Blanes 2000 era bastante citado no site do TechLinux, e sua ausência portanto é de se estranhar.

O excesso de críticas pode levar a pensar que a opinião sobre o produto é excessivamente negativa, o que não é o caso: o TechLinux se instalou com relativa facilidade (os problemas não foram "culpa" da distribuição), e a configuração do ambiente gráfico tem apenas problemas básicos, que qualquer usuário mediano resolve com facilidade. Entretanto, vale a reflexão: um sistema onde estes pequenos detalhes já estejam resolvidos (e não há falta destes sistemas no mercado Linux, nacional e internacional) tende a angariar maior simpatia tanto dos novos usuários, como dos experientes.

Fica a ressalva em favor do TechLinux: uma vez que você tenha resolvido estes pequenos detalhes, a distribuição parece ser bastante sólida, e usável. Eu particularmente gostaria de ver uma versão do TechLinux já com estes problemas resolvidos, e me proponho a refazer esta análise quando isto acontecer.

Os pacotes

O TechLinux 2.0 vem com o kernel 2.4.5, glibc 2.2.3, gcc 2.95.4, KDE 2.1.2, e muito mais. Como de costume, preparei uma listagem completa dos pacotes RPM da distribuição. Veja as tabelas do CD 1 e do CD 2.

Outros detalhes

Na área de atualizações do site da distribuição, constam apenas atualizações referentes ao TechLinux 1.0 (e a mais recente é de 19/2/2001). No site ftp encontrei algumas atualizações para o 2.0, todas datadas de 27/8 de 2001. Estamos em 9 de outubro enquanto escrevo este relato, e ao longo das últimas 6 semanas foram encontradas falhas (inclusive de segurança) em pacotes que constam da distribuição, e seria interessante tê-las disponíveis para download.

Provavelmente pode-se instalar boa parte das atualizações do Mandrake Linux 8, devido à similaridade de versões - mas neste caso, pode-se instalar diretamente o Mandrake e não se preocupar com as diferenças. A não ser que você tenha o tempo e a motivação para atualizar por conta própria, ou (melhor ainda) para contribuir para o desenvolvimento das atualizações do TechLinux.

Por utilizar o excelente instalador e as ferramentas de configuração do Mandrake Linux, o TechLinux detecta automaticamente inúmeros modelos de placas de som, scanners, mouse, impressoras, placa de TV, equipamentos USB, entre outros dispositivos. A frase, retirada do site oficial, pôde ser comprovada em meu notebook de testes: tudo que havia para ser detectado foi configurado sem o menor problema. Segundo o site, ainda, a versão atual detecta e configura automaticamente até mesmo os winmodems PCTel e Motorola, e contém drivers (para instalação manual) dos winmodems Lucent.

A presença de documentação impressa é um excelente sinal, mas ela ainda pode evoluir bastante. O guia de instalação não vai muito além de mostrar as telas, e dizer o que pode ser feito (e não *como* deve ser feito). O guia do usuário vai um pouco além, e seria interessante se todo novo usuário pudesse lê-lo.

A mistura de português e inglês chama a atenção: até as descrições dos pacotes desenvolvidos no Brasil (como o Blanes 2000) estão em inglês; os ícones do ambiente de trabalho do KDE também. Se *tudo* estivesse inglês, faria bastante sentido - mas traduzir uma parte, e desenvolver outra em inglês, fica bastante estranho.

Se você adquirir o sistema, terá direito a suporte via e-mail, website ou fax. As respostas vêm em 48 horas, por e-mail. Além disso, o site oficial traz o conteúdo completo do guia de instalação e do guia do usuário, em formato PDF, um FAQ, e vários outros documentos de suporte.

A conclusão

Como participante da comunidade Linux brasileira, reconheço o esforço da equipe por trás do Tech Linux, e desejo que continuem lançando novas versões, resolvendo os detalhes que ainda faltam. A versão atual se instala corretamente, dá boot, funciona. Infelizmente, isto não é o bastante.

A versão atual ainda tem um número de deficiências não encontradas em outras alternativas. Além dos problemas de configuração do ambiente gráfico (e até da shell), a falta de atualizações constantes e a documentação incipiente nos fazem torcer pelo breve lançamento de uma nova versão, que permita uma avaliação muito mais positiva, como gostaríamos de fazer.


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