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Linux in Brazil (Análise de distribuição )

SuSE Linux 7.2

Augusto Campos (brain@matrix.com.br)

Quando analisei o SuSE Linux 7.0. em novembro de 2000, tinha em mãos uma versão completamente em português desta distribuição. Melhor do que isto: até a caixa e os manuais eram em português brasileiro. Na época, pensei que a empresa teria dificuldade em manter este material atualizado, já que o SuSE Linux se caracteriza pela volumosa (e excelente) documentação impressa, e não seria fácil manter todo este material atualizado na nossa língua. E de fato, as versões 7.1 e 7.2 não tiveram opção de instalação na nossa língua, embora muitos dos softwares incluídos suportem o Português brasileiro. Esta mudança pode fazer muita diferença para muitos outros usuários, mas em compensação é o único ponto negativo desta análise, que nos outros aspectos mostra o quanto o SuSE 7.2 é uma distribuição de qualidade superior.


O ambiente de trabalho do GNOME, em Português após algumas modificações ;-) (clique para ver em tamanho natural)

Esta qualidade se demonstra facilmente: a distribuição alemã SuSE faturou o prêmio de "Melhor distribuição de Linux" na LinuxWorld Expo 2000 em Nova York, e "Distribuição de Linux Favorita" de 1999 na premiação anual do Linux Journal. Ela já foi analisada por Linux in Brazil em diversas ocasiões, desde sua versão 5.2. Ao longo deste período, algumas características antes quase exclusivas do SuSE Linux, como o grande volume (era a única distribuição em 5 CDs, na época), a ênfase na qualidade da documentação e suporte online, passaram (felizmente) a ser compartilhadas com outras distribuições.

Nada disto muda o fato de que estes continuam sendo pontos fortes do SuSE Linux (como veremos a seguir), mas estas observações refletem a evolução por que vem passando o mercado Linux.

Recebemos da SuSE, através de sua representante brasileira, a Livraria Canuto a caixa oficial completa do SuSE Linux 7.2 Professional para análise. Ele foi instalada em dois computadores preparados especialmente para este laboratório: um Microtec Pentium 866 com 256MB de RAM e um Pentium III 500 sem marca, com 128 MB de RAM. As conclusões apresentadas a seguir são o resultado destes testes.

O que vem na caixa

O SuSE 7.2 vem em uma volumosa caixa, apresentando o gráfico de uma bela função tridimensional em cor verde, como de costume, e dizeres em inglês. Chama a atenção a descrição: "Sistema operacional Linux profissional para PCs Intel e AMD". A caixa apresenta uma descrição extensiva do conteúdo, os requisitos de hardware (486 ou superior, 32 MB de RAM, mínimo de 400MB de disco, recomendações de placas gráficas, SCSI e RAID), um comparativo entre o SuSE 7.2 Professional e a versão Personal (não analisada), uma nota de copyright em nome de Linus Torvalds, e outras informações destinadas a impressionar possíveis compradores. Há uma etiqueta em português informando que o produto veio da Inglaterra, e que é garantido contra defeitos de fabricação.

Dentro da caixa, encontramos a justificativa para seu grande volume: 7 CD-ROMs, um DVD-ROM (com o mesmo conteúdo dos 7 CDs), 5 livros, 2 disquetes de boot opcionais, e folhetos sobre a exclusão de garantia, propagandas e suporte. A aquisição do SuSE Linux Professional dá direito a 90 dias de suporte básico à instalação e configuração. Os itens incluídos no suporte são bastante restritos, se comparados, por exemplo, ao da brasileira Conectiva. Em compensação, a base de dados de suporte gratuito disponível na Internet é muito abrangente, e merece sua atenção.

Veremos o conteúdo dos CDs e livros com detalhes mais adiante. Vale mencionar que a caixa traz ainda dois brindes interessantes: uma pequena plaqueta adesiva, no formato exato disponível na maior parte dos gabinetes de PC para a fixação da logomarca do fabricante, servindo assim para identificar claramente que seu computador roda o SuSE Linux, e uma cartela de adesivos de papel exibindo o símbolo da SuSE, o camaleão(?) Geecko.

Instalação

O SuSE 7.2 tem sua instalação padrão em modo gráfico, simplificada mas sem pudor de oferecer (de maneira opcional) opções avançadas como o particionamento manual. Na primeira tela da instalação você pode escolher se pretende rodá-la em modo texto, em modo gráfico normal, ou em resolução 800x600. Escolhi a terceira opção, e assim tive acesso a um programa de instalação visualmente agradável, claro e robusto.

Ao tentar instalar em uma máquina mais "problemática", e que não integrava o laboratório desta análise, tive necessidade de carregar módulos do kernel manualmente para acrescentar suporte a uma interface RAID não reconhecida automaticamente pelo instalador - e neste caso foi bom poder contar com o auxílio do antigo instalador YaST1, em modo texto, bastando apenas dar boot através do CD número 2. Mas nas máquinas "normais", o instalador automático (YaST2) em modo gráfico funcionou muito bem, reconhecendo sozinho as placas de vídeo (com aceleração), o monitor, as placas de rede (inclusive em um micro com duas placas de rede diferentes simultaneamente), os modems (um Trellis externo e um US Robotics interno padrão ISA), as impressoras locais, os mouses e as placas de som.

Todas as telas do programa de instalação contam com um texto de ajuda disposto em sua lateral. Este texto é bastante extensivo e completo: por exemplo, no diálogo opcional de particionamento manual, a ajuda explica até mesmo o esquema de nomes de dispositivos (hda, hdb, sda, sdb, etc.) e as limitações que algumas BIOS impõem sobre a localização física das partições de boot.

O programa de instalação não tem opção de mensagens em português - o que para alguns brasileiros pode até ser melhor do que aceitar o português europeu que vinha com as versões anteriores. Utilizei a instalação em Inglês, e fiquei feliz ao notar que havia suporte ao teclado brasileiro (ABNT) já durante a instalação.

Como é meu hábito, optei por particionamento manual, e pude notar mais uma vez a robustez do programa de instalação da SuSE: ao perceber que eu não havia criado uma partição de swap (pois eu não precisava de uma), o sistema me avisou "gentilmente" de que eu não havia cometido um erro, mas que era estranho não haver partição de swap - eu poderia continuar assim mesmo, ou rever meu procedimento. Optei por continuar, naturalmente - mas já me deparei com programas de instalação que exigem a presença de uma partição de swap, e apreciei a inteligência da versão da SuSE.

Notei também que você pode ativar o sistema de arquivos criptografado já durante o particionamento, o que pode ser uma excelente idéia para quem precisa da segurança e pode lidar com a redução de performance decorrente da idéia. Não havia visto até o momento outra distribuição com suporte a este recurso já durante a instalação, e achei uma excelente idéia.

Muitos usuários serão tradicionalistas a ponto de optar por fazer a instalação em modo texto (dica: basta digitar manual no prompt inicial do boot). Eles terão a recompensa por sua bravura, já que a instalação em modo texto é um sistema maduro, que vem evoluindo há vários anos e tem diversas opções que ainda não estão disponíveis no modo gráfico. Por outro lado, já há opções de configuração automática disponíveis apenas no YaST2, então pense bem antes de fazer uma escolha e se arrepender mais tarde.

Software

A abrangência do conteúdo é impressionante, começando pelo software: os 2000 pacotes incluem o kernel 2.4.4 (com suporte a USB para impressoras, teclados e mouses, até 64 GB de memória RAM, suporte a ReiserFS, raw devices, Pentium 4, LFS e várias controladoras RAID), glibc 2.2.2, XFree 4.0.3 (com anti-aliasing de fontes TrueType, muito bom), KDE 2.1.2, GNOME 1.4, StarOffice 5.2, Samba 2.2, Kerberos 5, OpenLDAP 2, KDevelop 1.4, editores HTML como o Bluefish e o Quanta+ e muito mais.


As mensagens do boot do sistema aparecem em uma janela, em modo gráfico (se o seu hardware suportar)

Todas as figuras conhecidas do mundo Linux estão nesta distribuição: GIMP, KOffice, Konqueror, Galeon, Mozilla, Sylpheed, linguagens (C, C++, Pascal, Java, Perl, Python...), multimídia (mp3 com o xmms, CD players, mixers, MIDI, OSS, ALSA...), teTeX, Latex, Ghostscript, MySQL, PostgreSQL, BitchX, ICQ, vi, Emacs, Acrobat Reader, Ogg Vorbis, WindowMaker, Blackbox, Netscape Communicator com Flash, RealAudio e RealVideo.... A lista é interminável! Há também uma série de demos de produtos comerciais, como o JBuilder, AMaViS (antivírus para servidores de e-mail), DB2, Arkeia, VMware, Moneydance e outros.

As ferramentas de rede também fazem por merecer a reputação do Linux: além dos clientes de irc, icq, mail, web, ftp e quase qualquer protocolo em uso na atualidade, temos ainda os proxys, servidores e demais componentes de diversos serviços e protocolos de rede, como o TCP/IP, IPsec, NFS, UUCP, SLIP, PPP, IPX, Appletalk, radio amador (AX-25), SMB (samba), ISDN, Token Ring, Squid, Apache, NFS versão 3, SuSE YOU (atualização automática de pacotes via Internet) e uma firewall pessoal pré-configurada que pode ser ativada já durante a instalação.

Você quer saber ainda mais? Preparei uma lista completa dos pacotes dos primeiros 5 CDs de instalação: veja aqui.

Os livros

O SuSE Linux se destaca das demais distribuições internacionais pela qualidade de sua documentação impressa. O SuSE 7.2 vem acompanhado por 5 livros em inglês, que descreverei a seguir.

O primeiro deles é o Reference Manual, bastante semelhante ao Manual que acompanhava as edições anteriores da distribuição, embora bem mais fino. São 360 páginas de explicações sobre configuração de software, de hardware, de rede, do kernel, procedimentos alternativos de instalação, criação de disquetes de boot usando ferramentas do Windows, upgrades, configuração do modo gráfico, o kernel, impressão, notebooks, boas práticas de administração do sistema e muito mais. O texto é de fácil entendimento, e até usuários experientes devem dar no mínimo uma rápida folheada, principalmente nos dois últimos capítulos, que explicam as diferenças práticas entre o SuSE e outras distribuições de Linux, do ponto de vista do administrador de sistemas..

O livro Configuration, como o título indica trata sobre a configuração do sistema instalado. São abordados os tópicos "tradicionais" como o KDE2 e suas aplicações (como o Konqueror), o manejo da shell bash, configuração do modo gráfico, administração do sistema com o YaST2, configuração de impressoras, scanners, gravadoras de CDs, placas de captura de TV, e até aspectos ergonômicos do ambiente de trabalho! Este livro é mais curto (200 páginas), e merece ser lido até por usuários experientes - mas é leitura obrigatória para os iniciantes!

O terceiro, Applications, fala sobre (você adivinhou!) aplicações do SuSE Linux - StarOffice, Netscape, Gimp, mc, Acrobat, xmms, kscd... São mais de 180 páginas ideais para responder à tradicional pergunta: "Instalei o Linux - e agora?". Há bastante mudança em relação à versão 7.0 neste livro: uma ênfase nas aplicações multimídia (inclusive para DJs), gravação de CDs, e operação de scanners.


Uma página do Quick Install Manual

O quarto livro é o que você deverá ler por primeiro: Quick Install Manual. Este guia é muito fácil de entender - menos de 70 páginas, muitas fotos, e texto com explicações suficientes para pessoas com pouca experiência sentirem segurança sobre todas as opções disponíveis na instalação gráfica.

Finalmente, um livro que não aparecia nas versões anteriores do SuSE Linux: Network. Suas cerca de 180 páginas explicam como utilizar o Linux em rede - como servidor ou como cliente, incluindo a integração em redes Windows ou Macintosh. Tópicos como NFS, Samba, DHCP, conexão via modem, DSL, cable modem, FTP, servidor web Apache, segurança de rede e proxy Squid são abordados com um enfoque prático e didático.

Download

O conteúdo de todos os pacotes da distribuição está disponível para download, mas não há imagens ISO de instalação. A única imagem ISO disponível é a da versão de avaliação (live-eval - não instalável, roda direto de um único CD)

Dicas

Para ativar a versão em português brasileiro da maior parte dos aplicativos, edite o arquivo /etc/rc.config, localizando a linha relativa à variável RC_LANG, e altera-a conforme o exemplo:

  RC_LANG="pt_BR"

Em seguida, execute o script SuSEconfig para ativar as configurações, e na próxima inicialização do sistema você encontrará menus e mensagens em português em todos os pacotes com suporte à nossa língua instalados.

E se o seu teclado for padrão ABNT mas as teclas da contrabarra, barra e colchetes não estiverem funcionando corretamente no modo gráfico (após você configurá-lo corretamente para usar um teclado ABNT), uma maneira fácil de resolver este problema é criar um arquivo ~/.xmodmap com as seguintes linhas:

  keycode 94 = backslash bar
  keycode 123 = slash question degree questiondown
  keycode 51 = bracketright braceright masculine

E em seguida carregue este mapa com o comando xmodmap ~/.xmodmap - se preferir, insira este comando em um script de inicialização como o ~/.xsession.

Conclusão

O SuSE Linux sempre foi e continua sendo uma distribuição adequada aos usuários avançados, sem no entando deixar de lado confortos como o gerenciador de pacotes RPM e uma ferramenta centralizada de configuração.

Claro que se você prefere instalar todos os seus pacotes a partir dos fontes, e editar os arquivos de configuração manualmente, é plenamente possível. Assim como é possível também a situação intermediária: editar o arquivo /etc/rc.config descrevendo todas as características do seu sistema, e em seguida rodar o utilitário SuSEconfig para a partir dele gerar todos os demais arquivos de configuração. Como se vê, há opções para todos os gostos.

Usuários iniciantes também se beneficiam: a documentação extensiva, a instalação facilitada, a robustez do sistema como um todo e a facilidade do uso das interfaces gráficas pré-configuradas tornam o SuSE Linux uma boa opção para o desktop. Entretanto, existem outras distribuições em Português, com suporte (via fone, mail ou fax) mais extensivo e documentação também completa, de modo que eu não recomendaria o SuSE 7.2 para um usuário iniciante brasileiro caso ele tivesse que instalar e configurar sozinho seu sistema. Se ele for apenas usar o sistema, a recomendação poderá ser diferente.

De modo geral, o SuSE Linux 7.2 é um produto de qualidade superior; o boot a partir do CD de instalação funcionou perfeitamente, o gerenciador de boot (LILO) foi instalado sem problemas, todo o hardware testado (placas de rede Genius, Intel, 3Com Encore), modem ISA US Robotics e externo Trellis, placas de som SoundBlaster, placas de vídeo S3, impressoras HP Deskjet e Laserjet, Palm Pilot Vx, placa de captura de TV TVMaster, Monitores LG e Digital, Gravador de CD HP IDE) foi configurado automaticamente, através de menus ou com pouca edição de arquivos do sistema (e sempre com apoio da documentação impressa) - nada de procedimentos complexos, como recompilações do kernel ou busca de drivers místicos na Internet.

Caso você queira adquirir o pacote, a SuSE mantém uma página sobre seus revendedores e representantes no Brasil, incluindo, entre outros, a Livraria Canuto e a Livraria Tempo Real. Os preços estão ao redor de R$ 199,00 (versão Professional) e R$ 129,00 (versão Personal).

Ao pesquisar em outras lojas, cuidado para não comprar por engano a versão de avaliação, que é apenas um CD, com uma pequena parte dos pacotes da distribuição, sem nenhuma documentação ou suporte! O site oficial da SuSE também permite comprar via internet (lembre-se de computar o valor dos impostos), e possui uma lista dos distribuidores ao redor do mundo.


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