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Linux in Brazil (Análise de distribuição )

Mandrake 8.1

Augusto C. Campos - brain@matrix.com.br

Nota importante: o autor ficará feliz em receber feedback sobre esta avaliação. Discordou de algum ponto? Para você tudo funcionou diferente? Estou disposto a discutir o assunto.


Esta não é uma análise completa de um produto, como as que costumo publicar neste espaço. Ao analisar o TechLinux na semana passada, notei que a ausência de um termo de comparação com sua base (o Mandrake Linux) me fazia muita falta, e tomei as providências para corrigir este fato - instalei o Mandrake 8.1 em um notebook absolutamente idêntico ao utilizado nas recentes análises do Conectiva 7 e do TechLinux 2 - um Toshiba Portegé 3440CT com CDROM PCMCIA, disquete USB, e placa de rede onboard, utilizado para testes de rede.

Note que minha instalação foi a partir da imagem ISO do CD número 1, disponível na Internet. Como o download de cada imagem demora cerca de 6 horas através de minha conexão doméstica, optei por não utilizar os CDs 2 e 3, opcionais - assim, não disponho de base sólida para analisar nem o conjunto total de softwares, para não falar nos manuais, suporte e serviços adequados. Considere este artigo, portanto, como um breve apanhado de anotações sobre a instalação e uma tarde de uso do sistema, e não como uma análise completa.

A instalação

Como de hábito, criei um disquete de boot a partir do arquivo pcmcia.img existente no CD. Inseri o disquete na unidade USB do notebook, liguei-o e a instalação iniciou sem problemas, perguntando a princípio a origem da instalação (CD, HD, ftp, http, nfs), e em seguida as questões básicas: o idioma, mouse, teclado, etc.

A princípio optei pelo idioma Português Brasileiro, mas após cerca de 3 telas, notei a mesma síndrome da tradução parcial que já havia percebido no TechLinux: no caso do Mandrake 8.1, títulos e help em inglês e diálogos em português. Mas ao menos as opções dependentes do país, como tipo de teclado e fuso horário, vinham com valores default adequados ao Brasil. Mesmo assim, irritado, reiniciei o processo selecionando o idioma Inglês, torcendo para que a comunidade usuária nacional contribua logo com as partes faltantes na tradução ;-)

A tela do instalador é visualmente agradável. No início é exigido que o usuário concorde com a declaração de licença (GPL, etc.), exclusão de garantia, etc. Pode-se escolher entre modo recomendado (poucas perguntas e opções) e expert. O particionador é fácil de usar, e visualmente bem claro. No modo expert, o instalador pergunta se você tem os CDs 2 e 3 para instalação - respondi que não, sem problemas.

A seleção de pacotes é em grandes grupos, com possibilidade de escolha individual. Selecionei alguns servidores (Apache, proftpd...), e o sistema me avisou que eles seriam inicializados automaticamente, e pediu que eu confirmasse se tinha certeza - não tão seguro como a abordagem do CL7 (que simplesmente não inicia nenhum servido automaticamente após a instalação, exigindo que o administrador solicite por isto explicitamente), mas certamente um pouco mais seguro do que simplesmente inicializar tudo sem perguntar nada.

Ao final da instalação, é necessário definir a senha de root, e criar ao menos um usuário. O ponto interessante é que pode-se definir qual será o ícone de cada usuário no menu do gerenciador de login KDM. Em seguida o sistema me informa que é possível fazer o logon automático de um usuário imediatamente após cada boot - basta dizer qual usuário, e em que ambiente gráfico ele deve entrar. Péssima idéia em um computador de uso compartilhado entre várias pessoas, como éo caso do notebook em teste, mas pode ser interessante para um usuário doméstico sem necessidade de segurança de acesso local. Preferi não ativar esta opção.

O passo seguinte foi a configuração de rede: detectou automaticamente o hardware, e me pediu os parâmetros IP de sempre. A placa de som e a de vídeo (uma S3 Savage) foram reconhecidas automaticamente. O sistema me perguntou qual meu monitor; respondi que era um painel LCD de 1024x768, e na primeira tentativa obtive a resolução máxima, com 65535 cores. Com isto encerrei a instalação, retirei o disquete do drive e assisti o primeiro boot.

O sistema instalado

A inicialização do sistema é toda em modo gráfico, mas o menu do LILO dá uma opção de boot em modo não-FB também.O gerenciador de login gráfico KDM tem aparência simples, mas o ícone de cada usuário é personalizado. Nota 10 para um aspecto especial: não há ícone para o logon do root - se você realmente quiser um logon gráfico do root, vai ter que digitar o logon completo (e verá um alerta bem explícito sobre o perigo a que está expondo o sistema, e terá que pressionar um botão informando que concorda, e verá ainda um fundo de tela vermelho, simbolizando o perigo - ou um sinal de Pare - e ainda terá que sobreviver em um ambiente gráfico quase sem ícones e atalhos). Usuários novos talvez nem tenham a idéia de se logar graficamente como root, já que não há icone - e isto é excelente.

Ao entrar como o usuário brain, fui saudado pelo First Time Wizard - um assistente para a primeira vez que se entra no ambiente gráfico, permitindo configurar a aparência do sistema, e detalhes como o cliente de e-mail, conta POP, etc. Pareceu simpático, fácil e não obstrusivo - se você achar isto uma bobagem desnecessária ('Uso o elm, e odeio assistentes'), simplesmente pressione Cancel e fique com o ambiente padrão.

A rede e a placa de som estavam ativas desde o primeiro boot, e ao clicar no ícone do CD-ROM, meu CD PCMCIA foi montado. O ambiente padrão não tem ícones para aplicativos, mas sim para uma série de dispositivos, para o Control Center (DrakConf), e para o site do produtor. No painel, ícones para o KWrite, KMail, Konqueror, Terminal, etc.

O Mandrake Control Center (DrakConf) é bastante interessante: usuários do Conectiva perceberão a semelhança (funcional) com o Linuxconf, usuários do SuSE reconhecerão a similaridade com o YaST, etc. Mas o DrakConf faz coisas que os outros não fazem tão bem: suas janelas são em árvore, auto-contidas. Uma de suas opções é a abertura de uma shell de root (também contida na mesma estrutura de árvore). Há assistentes para as mais diversas tarefas, inclusive o compartilhamento de conexão Internet com outros computadores. Há um monitor/filtro de logs. Há o HardDrake,que exibe todos os periféricos e componentes identificados em seu sistema. E muito mais! Nada disso está ausente em outras distribuições, mas o fato de estar disponível em uma interface única, bonita e fácil, ao alcance de um click (e de preencher a senha de root) é um grande mérito.

Ao tentar um reboot, notei que o shutdown pára ao tentar desativar a interface de rede eth0. Novas tentativas levam exatamente ao mesmo resultado, evidenciando o único problema de suporte a hardware identificado por mim neste teste.

A documentação informa (e eu não comprovei) que há suporte a todos os filesystems da moda: Ext3, ReiserFS, XFS e JFS, e que o Samba combinado com o XFS e a configuração do kernel do Mandrake permitem o compartilhamento de arquivos com ACLs semelhantes às do Windows NT. Além disso, a documentação informa que há suporte ao APT (gerenciador de pacotes tradicional do Debian, cujo port para o modelo RPM foi realizado pelo brasileiro Alfredo Kojima), e que o URPMI permite fácil gerenciamento de pacotes.

O software instalado inclui o KDE 2.2.1, GNOME 1.4.1, kernel 2.4.8, e muito mais. Não vou incluir a costumeira listagem dos RPMs dos CDs por uma razão óbvia: só disponho do primeiro CD.

Suporte, Serviços e Documentação

Não avaliados

Conclusão

O Mandrake Linux merece a fama de sólido e inovador. Esta minha breve análise não apresenta todas as suas características especiais, que você encontra no site oficial, mas ao menos corrige duas grandes lacunas: o fato de eu nunca ter instalado esta distribuição, e de nunca ter publicado um artigo de minha própria autoria sobre ela.

Na minha opinião, os pontos fortes do sistema são a usabilidade (assistentes para muitas tarefas potencialmente complexas) e o DrakConf. Merecem citação especial também o tratamento dado ao logon gráfico do root e o reconhecimento de hardware: entre as três distribuições recentes testadas neste mesmo modelo de notebook, o Mandrake foi a que reconheceu e configurou automaticamente mais itens, apesar de ter falhado no shutdown da placa de rede.

A tradução apenas parcial para o português brasileiro fica como o principal ponto a ser melhorado. Como se trata de uma distribuição internacional, o simples fato de haver suporte ao nosso idioma já é positivo em si. Entretanto, suporte total seria ainda melhor, pelo menos no programa de instalação, que é totalmente desenvolvido pela própria empresa.


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