Augusto C. Campos - brain@matrix.com.br
Nota importante: o autor ficará feliz em receber feedback sobre esta avaliação. Discordou de algum ponto? Para você tudo funcionou diferente? Estou disposto a discutir o assunto.
A Conectiva tem o mérito de ter criado a primeira distribuição de Linux brasileira, e de ser a empresa que mais oferece suporte e serviços relacionados ao Linux no Brasil. Seu produto mais conhecido, o Conectiva Linux, teve sua versão 7.0 lançada durante a última Fenasoft, em duas edições: uma para servidores e outra para computadores desktop.
Como de costume, o software incluído nas duas edições é igual - os CDs são exatamente os mesmos: dois de instalação, dois de código fonte, e um com o StarOffice 5.2. A diferença é o conteúdo adicional, como veremos:
A caixa da versão Servidor Profissional inclui (além dos 5 CDs):
A caixa de versão desktop contém (além dos mesmos 5 CDs):
Note as diferenças na documentação impressa e no suporte - mas os CDs e o adesivo são os mesmos ;-)
Como em minha prévia análise do TechLinux, optei por experimentar a instalação em um notebook Toshiba Portegé 3440CT. Este notebook é utilizado corriqueiramente por mim para testes de rede, e já rodou anteriormente o SuSE Linux 7.1 e o Conectiva Linux 6.0 sem problemas de compatibilidade com nenhum de seus componentes, e eu tinha a expectativa (até certo ponto frustrada) de que a instalação seria tão simples como as anteriores.
De qualquer modo, o suporte a notebooks pelo Linux é conhecido por geralmente dar algum trabalho extra, e tanto no caso do TechLinux quanto no do Conectiva 7, tudo se resolveu através de alguns caminhos alternativos - e de fato no caso do TechLinux havia mais caminhos alternativos disponíveis do que no Conectiva 7, como veremos a seguir.
O notebook conta com um leitor de disquete USB, e uma unidade de CD-ROM PCMCIA, ambos externos. A experiência anterior demonstra que não há condições de dar boot diretamente pelo CD-ROM utilizando esta unidade (por razões ignoradas). Como o Conectiva 7 não inclui um disquete de boot (acertadamente, pois hoje em dia são raros os computadores sem capacidade de dar boot pelo CD de instalação), segui as instruções para gerar um disquete de boot a partir dos arquivos gravados no CD número 1 (dd if=/cdrom/images/bootpcmcia.img of=/dev/fd0) e dei boot por ele.
A primeira tentativa falhou fragorosamente - durante a ativação dos periféricos PCMCIA, antes do carregamento do MI, o sistema exibiu uma mensagem em inglês ("Install exited abnormally") e me informando que eu poderia rebootar com segurança, e abortou. Repeti algumas vezes, após checar cabos e conexões, para obter sempre o mesmo resultado. Após concluir que nada mais haveria a fazer, optei por uma instalação via rede (da mesma forma como havia feito com o TechLinux). Gerei o disquete de boot adequado, conectei o notebook a um ponto vago no hub, e iniciei os procedimentos.
Neste ponto notei algo que pode ser melhorado: o suporte a instalação via rede do CL 7 aparentemente permite apenas o uso de servidores NFS - e não os métodos FTP e http. comuns a outras diostribuições. No meu caso, a instalação de um servidor NFS para o teste foi algo corriqueiro, mas nem todos têm esta possibilidade; já a instalação de servidores ftp e http é muito mais trivial.
De qualquer forma, a instalação via NFS foi como era de se esperar: após fornecer ao notebook um endereço IP válido e as outras informações sobre a rede, e inserir o CD-ROM no servidor NFS preparado especialmente para a ocasião, tudo transcorreu de maneira transparente e simples, como se fosse uma instalação local.
Entretanto, não satisfeito, resolvi refazer o teste de instalação com o disquete de boot via PCMCIA, que eu havia guardado. Felizmente (e para o meu desespero, pois já estava com esta matéria pronta), desta vez tudo funcionou. Como a configuração do computador não se alterou entre as duas tentativas, e o disquete utilizado foi o mesmo, não há como concluir propriamente se o que houve foi algum bug do programa de instalação, ou um problema de hardware. Mas, na dúvida, teremos que considerar que o instalador não errou, até prova em contrário. Por desencargo de consciência, inseri novamente o CD do TechLinux (cuja instalação local também havia falhado), mas neste caso o resultado não se alterou.
Em qualquer uma das duas alternativas, o menu básico permite escolher entre instalação de sistema desktop ou servidor, em modo texto ou gráfico, normal ou expert, e com possibilidade de utilizar um driver gráfico genérico (VESA) caso a sua placa de vídeo não seja suportada.
A instalação tem os passos adicionais: seleção do driver de mouse, teclado, idioma, completa ou atualização... Em seguida, pode-se optar entre os conjuntos de pacotes a instalar, e pelo particionamento manual ou automático. Desconfiado que sou, optei por particionamento manual, que se mostrou bastante simples e claro.
Em seguida, selecionei o uso do kernel 2.4 no meu novo sistema, e tive acesso a uma tela para escolha dos grupos de pacotes para instalação. São cerca de 35 grupos, com nomes expressivos como: Desenvolvimento C, Aplicações para Console, Servidor Web, GNOME, Aplicações para Desktop, etc. Embora houvesse a possibilidade de selecionar os pacotes um a um, desta vez optei por instalar apenas grupos genéricos, e depois incluir/excluir manualmente se for o caso.
O instalador exibe uma barra de progresso para o total da instalação, e outra para cada pacote especificamente, de modo que sempre há bastante feedback visual.
Ao final da cópia dos arquivos, na instalação local o sistema pede a configuração de rede, incluindo nome da máquina, endereço IP, etc. A placa de rede foi reconhecida automaticamente.
Em seguida vem a configuração de vídeo, onde, ao contrário do que ocorreu com o TechLinux, a placa S3 Savage não foi reconhecida. Optei pelo driver genérico (VESA), mais lento, e configurei-o sem problemas para 1024x768, 65535 cores.
O sistema permite informar a senha de root e criar usuários, e em seguida pede informações sobre o gerenciador de boot - escolhi o GRUB, que é o default. Criei o disquete de boot opcional, e o sistema rebootou, ao final do processo de instalação.
Já no primeiro boot pude perceber uma característica interessante: no menu do Grub, pode-se optar entre dar o boot em modo texto, ou em modo gráfico - excelente para aqueles usuários que vivem em um permanente estado de guerra com suas placas de vídeo ou monitores. Selecionei o default - modo gráfico. Após alguns segundos, a já familiar interface do gerenciador de login KDM foi exibida, com as mesmas customizações que já apareciam no Conectiva 6 - os ícones dos usuários foram substituídos por pinguins de boné, e o do root por um pinguim de gravata.
Selecionei o usuário criado durante a instalação, informei a senha, e fui levado ao KDE. O ambiente gráfico da Conectiva apresenta um certo grau de conforto: além dos ícones padrão do desktop KDE, há ícones para o Gimp, o KPPP, XChat, xmms, StarOffice, LICQ, o gerenciador de pacotes Synaptic. e a versão HTML (local) do Guia do Usuário Conectiva Linux, que também acompanha o produto (se você adquiriu a versão oficial) na forma de um livro de 260 páginas.
O painel do KDE também traz lançadores bastante úteis: incluindo o navegador Konqueror, o KMail, a família KOffice, o Terminal e mais.
Clicar no ícone do StarOffice leva a um aviso de que o mesmo não está instalado, e que a instalação deve ser feita como root. Imediatamente desconecto do meu usuário comum e, no KDM, conecto-me novamente como root. Uma surpresa desagradável foi notar que o desktop do root também tem atalhos para o licq, XChat, xmms... Estimulando assim o abuso da conta root, e seu uso como uma conta de usuário qualquer. Para piorar o caso, o painel do root não tem um lançador para o Terminal, obrigando assim o uso do menu para esta atividade corriqueira do usuário administrativo. Outras distribuições, como a SuSE, por exemplo, exibem um aviso a cada vez que você se conecta em modo gráfico como root, e mudam o papel de parede para sinais de perigo, lembrando dos riscos a que o sistema fica exposto nestas condições.
Mesmo assim, cliquei no ícone do StarOffice no ambiente do root, ele me pediu o CD de instalação, e instalou corretamente a partir de um CD-ROM montado via NFS. A versão é em Português europeu, mas o CD também dispõe de instalação em outras linguas.
Aproveitando que já estava como root, aproveitei para dar uma olhada no restante da configuração. Uma passada no ntsysv me permitiu desativar o famigerado kudzu, e ativar o sshd. Uma rápida olhada no inetd.conf demonstrou que não havia absolutamente nenhum serviço inet habilitado por default (excelente!), e depois confirmei que ooutros serviços de rede instalados, como o Apache e o Samba, não iniciaram automaticamente. Na minha opinião, este é o procedimento correto, e merece elogios: quem quer rodar serviços de rede, deve ativá-los explicitamente, e assim a internet como um todo fica mais segura.
Um rápido teste demonstrou que a placa de som interna não havia sido reconhecida. Chamei o sndconfig, aceitei todas as configurações padrão, e em seguida (sem nenhum reboot) pude continuar a análise ao som de MP3 transferidas via rede local, habilitada desde o primeiro momento, sem nenhuma configuração adicional. Mas é de se perguntar: por que o instalador do sistema não ativou minha placa de som sozinho, se eu pude ativa-la manualmente simplesmente aceitando os defaults?
Ainda como root, aproveitei para montar o CD-ROM número 2 (via NFS, pois o CD-ROM PCMCIA não pôde ser montado - nem manualmente. Estranho, pois o instalador sabia da existência dele, já que rodou a partir do próprio) e instalar softwares que não estão acessíveis como opções da instalação padrão, como o Pine (e o Pico), o BitchX (75p3, e não da série 1.xx), cheops... Como no caso do TechLinux, o CD 2 esconde muitos "tesouros", como o eggdrop, jargon file, horde/imp, dezenas de módulos Perl, Tux Racer, temas, Unix ODBC, e muito mais (até o xtruco!).
O Conectiva 7 inclui o kernel 2.4.5, glibc 2.2.3, XFree 4.0.3, e muito mais. Como de hábito, gerei uma listagem dos RPMs do CD 1 e do CD 2 - A Conectiva manteve descrições em Inglês, por alguma razão.
Merece destaque a inclusão do Synaptic, uma interface gráfica para o APT, sistema de gerenciamento de pacotes característico do Debian, e que a Conectiva portou para o mundo RPM.
Você pode fazer o download do Conectiva 7 no site da COnectiva, mas aí estará abdicando de seus principais argumentos de escolha, na minha opinião: os manuais impressos e o suporte (e o adesivo!).
Os livros dispensam muita apresentação, pois podem ser consultados integralmente, online, na área de documentação do site da Conectiva. Mas para você ter uma idéia, o Guia do Servidor, em suas quase 350 páginas, explica como usar o Conectiva Linux para construir um servidor DNS (primário, secundário, zona de repetidores, etc.), Correio Eletrônico (Postfix, aliases, domínios virtuais, filtros, pop, imap, webmail, listas de discussão), Web, FTP, Proxy, NFS, LPRng, boot remoto, clientes X, Samba, autenticação (LDAP, NIS, Radius), SSH, PPP, Roteamento, Netfilter, NAT, Segurança, Particionamento, PAM, Wrappers, AIDE, Filtro de pacotes, Snort, LVM, RAID, Backup e Alta Disponibilidade - Tudo em português.
Já o suporte é um caso à parte: você tem direito a 60 ou 90 dias de suporte via e-mail ou fax (dependendo da versão que adquiriu), e mais uma ou duas horas de suporte telefônico (também dependendo da versão). Para ter direito ao suporte é necessário utilizar um número de registro incluído em um cartão na caixa do produto, o qual também expõe quais os tipos de questões abrangidas pelo suporte. A lista é ampla, e vai desde instalação, configuração, até o uso - configuração do modo gráfico, GRUB, LILO, DHCP, e até o xmms! Veja a lista completa para a edição servidor e para a edição desktop. Você também pode adquirir o suporte sem ter adquirido o CL 7 - por exemplo, se obteve sua cópia em uma revista, ou através da Internet. O site informa preços e detalhes.
O site tem ainda uma extensa seção de Perguntas & Respostas, que pode poupar a necessidade de muitas idas ao suporte, e uma lista de atualizações de software que costuma estar sempre em dia com as falhas encontradas em todo o mundo.
Apesar das falhas ocorridas durante a instalação (principalmente o não reconhecimento de minha placa de vídeo, configurada corretamente por outra distribuição brasileira lançada na mesma semana, e a não configuração do meu CD-ROM, certamente suportado, pois foi utilizado durante a instalação), e do tratamento descuidado ainda dado às sessões gráficas do root, o Conectiva Linux tem vantagens óbvias, das quais destaco as que mais me chamaram a atenção:
Assim, a distribuição merece sua atenção, principalmente se o idioma (tanto do software como da documentação) for um argumento. A disponibilidade de suporte telefônico em português também é uma raridade e merece todo o destaque.
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