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Linux in Brazil (Análise de distribuição )

Conectiva Linux 6.0

A Conectiva dispensa apresentações para a comunidade Linux nacional por ser certamente a empresa que mais investe no desenvolvimento do Linux no Brasil. Seu produto de maior visibilidade entre a comunidade é a distribuição Conectiva Linux, cuja versão 6.0 (opção casa/escritório) será objeto desta análise.

Anteriormente a Conectiva costumava manter duas versões diferentes de sua distribuição, sendo uma voltada para servidores e outra para estações de trabalho desktop. Já a versão CL 6.0 traz uma mesma base de instalação para ambas as possibilidades, e o usuário escolhe se pretende instalar um servidor ou uma estação de trabalho no momento da instalação. Entretanto, ainda há duas opções para aquisição, diferenciados não pelo conteúdo do CD de instalação, mas pelo restante do conteúdo do pacote.

Estaremos analisando com detalhes a seguir a edição Casa & Escritório. Mas se você optar por adquirir a edição Servidor, deixará de receber o CD com demos de jogos, mas em compensação receberá um CD a mais contendo aplicativos comerciais, um guia de instalação (impresso) do servidor, com 212 páginas, um Guia Prático do Servidor e um Guia do Servidor (ambos impressos, explicando a configuração e uso dos principais pacotes de software em ambiente servidor). Nos demais itens as duas edições são similares, e você pode acompanhar a análise a seguir para ambas.

Claro que você também pode optar por fazer o download diretamente do site da Conectiva (arquivo por arquivo ou imagem ISO para gravação de CD), adquirir uma cópia do CD ou copiar os CDs de algum outro usuário. Tenha em mente que com isto você não terá acesso aos manuais impressos, serviços adicionais e suporte de 90 dias via fone, fax e web inclusos no pacote "oficial" (a não ser que você os adquira também), mas você não estará cometendo nenhum ato ilegal ou imoral - o Linux é software livre e pode ser livremente distribuído. Entretanto, atenção aos CDs de software adicional incluídos nas caixas da Conectiva, pois alguns deles podem incluir licenças de uso e distribuição mais restritivas. A edição 14 da Revista do Linux, nas bancas em fevereiro de 2001, também trouxe uma cópia completa do CD número 1 (instalação) do CL 6.0, para quem estiver interessado em uma alternativa de fácil acesso e baixo custo.

A caixa

O primeiro ponto de julgamento de uma distribuição de Linux é o que vem incluso no pacote físico. Há distribuições que não possuem pacotes físicos, devendo obrigatoriamente ser buscadas via Internet; outras tem pacotes simples, contendo apenas os CDs, e outras incluem um conjunto de conteúdo em seus produtos. Não há nada de errado com nenhuma das abordagens, mas alguns detalhes (como a presença de manuais impressos, o idioma da documentação e a presença de suporte) ajudam a identificar o público-alvo de uma distribuição.

A caixa da edição Casa e Escritório do Conectiva Linux 6.0 tem 25x20x8 cm, e vem lotada de conteúdo. A começar pelos CD-ROMs, acondicionados dois a dois em caixas comuns, similares às dos CDs de música. A primeira caixa contém os CDs 1 e 2, de instalação, programas adicionais e documentação. A segunda contém os CDs 3 e 4, com os fontes dos dois CDs anteriores. A terceira tem um CD do StarOffice 5.2 e a quarta contém um CD com jogos (versões de demonstração) e aplicativos comerciais (alguns em demonstração, e outros completos), totalizando 6 CDs. Embora seja cada vez mais rara a necessidade de utilizar disquetes de boot na instalação do Linux, um disquete é incluído, e há instruções para a criação de disquetes específicos para instalação normal, via rede ou via PCMCIA a partir de imagens de disquetes gravados no CD 1.

A caixa inclui ainda um Guia do Usuário com 410 páginas, um guia rápido de instalação, fartamente ilustrado e colorido, com 34 páginas, os cartões de registro para o suporte dos produtos, algum material promocional, incluindo adesivos.

O software

Com um total de 6 CDs, você já pode prever que o pacote inclui uma quantidade de software suficiente para garantir horas de diversão testando cada pacote, e também para permitir o uso de todas as aplicações já disponíveis para Linux no ambiente desktop.

O exterior da caixa não informa o conjunto de versões dos softwares essenciais a uma distribuição Linux, o que parece querer passar ao usuário a seguinte mensagem: "você não precisa nem ter ouvido falar em kernel para usar esta distribuição". Usuários tradicionais e puristas podem sentir falta desta informação, ou até mesmo se ressentir desta abordagem que evita intimidar o usuário iniciante ou não-técnico. Entretanto, atrair novos usuários para o Linux é benéfico para a comunidade, e não vai tirar o lugar ao sol de ninguém.

Mas a ausência deste tipo de informação na embalagem até ajuda a valorizar análises como esta, que passam a servir de complemento para a sua opção entre instalar ou não esta nova distribuição.

O Conectiva Linux 6.0 inclui o kernel 2.2.17, glibc 2.1.3 (e a libc 5.3.12 para compatibilidade com softwares antigos), XFree 4.0.1, KDE 2.0 (com o KOffice e o browser Konqueror), GNOME 1.2.2, WindowMaker 0.62.1, Apache 1.3.14, Samba 2.0.7, Gimp 1.1.2, xmms 1.2.3, StarOffice 5.2, Netscape 4.76 (com suporte a flash) e muito mais. Para satisfazer sua curiosidade, preparamos aqui a listagem completa dos RPMs de instalação do CD 1 e do CD 2.

O CD de demos inclui demos de jogos de qualidade, como Myth II: Soulblighter, SimCity 3000 Unlimited for Linux e Civilization: Call to Power, e de aplicativos como o Adobe Acrobat Reader, o compilador Flagship e o BRU Backup.

Advanced Package Tool (apt)

Embora a distribuição continue baseada nos pacotes padrão RPM, com grande grau de compatibilidade com pacotes de outras distribuições recentes, o CL6 inclui o Advanced Package Tool (apt), característico da distribuição Debian, e incluído pela primeira vez em uma distribuição baseada em RPM. O apt simplifica a atualização do atualização do Conectiva Linux, pois você poderá atualizar seu sistema diretamente a partir da Internet com comandos simples e poderosos como o apt-get. Eu nunca fui usuário da distribuição Debian (onde surgiu o apt), mas sempre tive inveja de seu sistema de administração de pacotes. Se este também é o seu caso, pode ser uma boa razão para experimentar o CL6! Que tal atualizar todos os pacotes do seu sistema com um único comando, e dar adeus à incerteza sobre ter instalado todos os patches de segurança? Uma curiosidade é que o responsável pela transposição do apt para RPM foi Alfredo Kojima, o autor do WindowMaker e atual gerente de sistemas da Conectiva.

A instalação

A versão 5 do Conectiva Linux já incluía um instalador gráfico desenvolvido internamente pela própria empresa, mas na época eu preferi utilizar o instalador antigo, em modo texto, para minhas próprias experiências, já que ele permitia algumas opções ainda indisponíveis na versão gráfica. Mas a versão 6 traz instaladores novos tanto para na versão gráfica (GTK) como na versão texto (NEWT), e desta vez o instalador gráfico tem um nível de opções suficiente até mesmo para usuários experientes - e a versão em modo texto não fica devendo nada! Experimentei ambas, e creio que seja a instalação que melhor consegue balancear a facilidade e clareza de uso juntamente com um nível de opções suficiente até mesmo para usuários avançados; usuários experts, entretanto, podem preferir abrir mão de tanta facilidade e optar por instaladores que ofereçam maior quantidade de opções. Não é meu caso, prefiro um instalador fácil e rápido, e depois ter a liberdade de configurar o sistema já com ele em operação.


A primeira opção do instalador: o idioma. Note que o prgrama de instalação usa GTK e tem recursos visuais como degradês, gradientes e imagens elaboradas

As instalações para teste transcorreram todas tranquilamente, tanto pelo CD da distribuição comercial quanto pelo CD encartado na Revista do Linux. Em um Pentium 200 da Digital, com configuração bastante comum (HD de 4GB, 64MB de RAM, placa de vídeo onboard S3 com 1MB de RAM, placa de rede Digital), dei boot pelo CD número 1 e fui surpreendido pela bela tela gráfica do grub, gerenciador de boot que substitui (com vantagens ) o tradicional LILO. Antes de completar o boot, você tem a opção de escolher se quer instalar um servidor ou uma estação de trabalho, e para cada um você terá que definir se quer rodar em modo gráfico (VESA, suportado pela grande maioria das placas gráficas do mercado), texto, expert ou ainda dar um boot de resgate.

Após escolher a opção de instalação Desktop em modo gráfico (nota: embora a versão da distribuição usada na análise seja a Casa e Escritório, é plenamente possível utilizá-la para a instalação de um servidor - o CD de instalação é o mesmo), o GRUB iniciou a carga do sistema e do programa de instalação, que gastou pouco mais de um minuto identificando o vídeo, teclado, mouse, etc. antes de exibir sua tela gráfica.

Como o micro utilizado nos testes dispunha de interfaces USB (embora não utilizadas), o instalador deve ter gasto um bom tempo tentando identificar a presença de um eventual teclado ou mouse USB. Ele chegou a carregar o USB core e o USB-uhci, o que significa que se você tem periféricos neste padrão, tem alguma chance de utilizá-los até mesmo durante a instalação, sem grandes acrobacias. Uma nota interessante é que no meu teste com a instalação em modo texto, pude perceber que a tela usava mais do que as 25 linhas de texto habituais, o que permite espaço para mais informações na tela simultaneamente.

Você pode escolher entre instalar o sistema em português do Brasil, espanhol ou inglês. Outras escolhas importantes são as do mapa do teclado (suporte completo para teclado brasileiro (ABNT ou ABNT-II), teclado americano com ou sem acentuação, teclado de Portugal e muitos outros. O mouse (PS/2) foi reconhecido automaticamente, mas foi oferecida a opção de testá-lo ou até mesmo de usar outros drivers.

Após estas seleções básicas, o instalador oferece a opção de realizar uma instalação mínima, padrão, completa ou personalizada. Não pude resistir à tentação de entrar na instalação personalizada e escolher os pacotes um a um, além de particionar manualmente o disco, mas estes passos não são mais necessários, o instalador tem opções genéricas e inteligência suficiente para fazer boas escolhas (também genéricas) por você. Tentei opções menos comuns, como particionar manualmente e deixar de incluir uma partição de swap (o que não é errado mas ao mesmo tempo não é comum) e o instalador me avisou, mas não me impediu - o que é exatamente a atitude mais correta que ele poderia ter.

Todas as telas do instalador têm ajuda completa em português, acessível através da tecla F1 ou clicando com o mouse no grande ponto de interrogação sempre disponível no lado esquerdo da tela.

A seleção de pacotes pode ser feita em nível macro, intermediário (grandes grupos, como "servidor de arquivos", "servidor de e-mail", "documentação extra") ou pacote por pacote.

Após toda a seleção, inicia a instalação, em uma bela tela gráfica. Uma barra na base do monitor informa o progresso da instalação como um todo, enquanto uma barra no alto da tela indica a progressão da instalação de cada pacote individualmente.

Ao final da instalação dos pacotes, inicia a configuração do sistema instalado. Você pode definir parâmetros da sua rede local (se existente), tais como nome da máquina, endereço IP, orteador e servidor de nomes. É possível também definir o uso de um servidor DHCP.

A placa de vídeo de testes foi detectada e configurada automaticamente, mas o sistema pede confitrmação. Foi necessário selecionar o modelo do monitor, mas há uma grande quantidade de opções genéricas que permitem acomodar a grande quantidade de monitores de marcas menores comuns no Brasil.

O programa de instalação permite também a criação de usuários e a definição da senha de root a ser utilizada. Finalmente, é apresentada a opção de criar um disquete de boot de emergência, e você escolhe entre utilizar o gerenciador de boot LILO (tradicional) ou grub (mais moderno e amigável).

O sistema instalado

O primeiro boot já foi em modo gráfico, rodando uma configuração visual modificada do KDM, o gerenciador de login gráfico do KDE.


O gerenciador de login KDM, em imagem retirada do manual do CL 6

A configuração inicial do KDE 2 está apta a ser considerada familiar por qualquer pessoa que tenha usado um computador nos últimos 5 anos. Recentemente ouvi um comentário sobre um usuário de Windows que, ao ver um micro com o KDE 2 em uma feira de informática, e após usá-lo para navegar na web por alguns minutos, perguntou aos responsáveis pelo stand como ele poderia fazer para obter aquele tema para o Windows! Querer que o Linux lembre o Windows não é um objetivo aceitável, mas certamente é bom saber que os usuários não técnicos já conseguem utilizar o ambiente gráfico no Linux sem estranhar.


Visual do KDE 2 instalado por padrão

Chamou minha atenção o KOffice, pacote de aplicações de automação de escritório incluindo processador de texto, planilha, etc. e capaz de utilizar os arquivos criados com o Office da Microsoft em ambiente Windows. o KOffice acompanha o KDE 2.0 e já impressiona pela sua interface fácil e agradável.

Administradores de sistemas e de redes gostarão de algumas novidades desta versão, incluindo:

Documentação e suporte

A documentação impressa fornecida pela Conectiva sempre foi um diferencial a seu favor, e desta vez não foi diferente. A versão Casa e Escritório, disponibilizada para nossa análise, vem acompanhada de dois manuais: o "Guia Rápido de Instalação", um livreto de 34 páginas que mostra passo a passo a instalação do CL 6.0 de maneira simples e completa, recheado de figuras em cores, e o "Guia do Usuário", um livro de 400 páginas que faz uma introdução ao Linux e explica, por exemplo, como utilizar o APT, os ambientes gráficos e gerenciadores de janelas, os aplicativos gráficos e alguns comandos básicos do modo texto, além de ensinar como conectar dispositivos USB.

A edição Servidor inclui mais de 700 páginas impressas adicionais, divididas em 3 livros, ensinando como instalar e manter o seu servidor baseado em Linux.

Suporte técnico também pode fazer toda a diferença do mundo, principalmente para organizações ou usuários que querem o Linux como uma alternativa para realizar as suas tarefas, e não desejam tornar-se magos na configuração do gerenciador de boot ou do TCP/IP.

O pacote Casa e Escritório inclui um cartão de registro que dá direito a suporte via e-mail e fax por até 90 dias, e mais 2 horas de suporte telefônico para a instalação e configuração dos recursos básicos do sistema operacional. O m,aterial da Conectiva especifica: O serviço abrange, por exemplo, orientações para configuração de hardware e acesso à Internet. Entre os outros itens do escopo do suporte à versão para desktops destacam-se configuração do X, StarOffice, Xchat e gerenciamento de usuários pelo Linuxconf. O escopo do suporte é descrito com detalhes no cartão de registro, e é diferente entre a edição Casa e Escritório e a Servidor.

Como complemento, a Conectiva oferece um treinamento de Linux via web a todos os seus usuários. O curso ensina como instalar o CL6 e como utilizar o ambiente gráfico. O conteúdo inclui testes e exercícios, e está disponível em www.aprendalinux.com.br.


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